segunda-feira, 26 de maio de 2008

UNASUL - Somente uma Sigla?

Veja o editorial da Folha de São Paulo deste último domingo, 25/05/2008, sobre a UNASUL e a reportagem de hoje, do Estadão, com o presidente Lula. Comento depois.
O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, no seu programa semanal de rádio, Café com o Presidente, analisou a criação da União Sul-Americana de Nações (Unasul) que nasceu no primeiro encontro na semana passada em Brasília, com a presença de 12 presidentes de países da América do Sul, e disse que "na verdade muita coisa ainda não se concretizou. Nós agora estamos criando o Banco da América do Sul. Nós vamos caminhar para, no futuro, termos um Banco Central único, para ter moeda única. Nós vamos caminhar para isso. Agora, isso é um processo e não é uma coisa rápida". Lula afirmou que sua idéia do Conselho de Defesa Sul-Americano, pode ser analisado novamente em 90 dias, com a elaboração de uma proposta melhor, e que supere divergências, que ele reconheceu existir, mas revelou que "dos doze países, apenas a Colômbia colocou objeção".
E complementou: "Depois eu conversei com o presidente Uribe. Vamos voltar a conversar. Estou viajando à Colômbia no dia 20 de julho. E eu acho que as coisas vão se acertar. O que é importante para mim é uma frase que eu disse quando eu tomei posse em 2003: Nós vamos começar fazendo o necessário, depois a gente vai fazer o possível e quando menos imaginar nós estaremos fazendo o impossível. Era impossível , há cinco anos atrás, a gente pensar que a situação da América do Sul estivesse do jeito que está. Com muitos presidentes comprometidos com a maioria do povo, com a inclusão social, eleitos democraticamente, com as instituições se fortalecendo e com a criação da União Sul-americana de Nações".
Lula também disse que a criação era um sonho que tinha desde 2004, e era uma coisa impossível "porque aqui na América do Sul nós fomos preparados, doutrinados para acreditar que nós não daríamos certo em nada, que nós somos pobres, que nós brigamos muito, e que nós temos que depender dos Estados Unidos e da União Européia", mas que isto já passou segundo ele.
Lula admitiu que a Unasul nasceu de um sonho seu e que "nós vamos vencendo as barreiras e vamos vencendo também os céticos, as pessoas que não acreditam em nada. Ou seja, é importante a gente lembrar o que era a América do Sul poucos anos atrás e o que é agora. Há uma evolução extraordinária. Mesmo a compreensão de setores brasileiros do empresariado, que antigamente não tinham nem coragem de fazer qualquer investimento nos países na América do Sul, e hoje nós temos dezenas de empresas brasileiras investindo em todos os países da América do Sul".
O presidente defendeu que se invista na Bolívia, Paraguai e Uruguai "que são os países economicamente mais frágeis. Nós temos obrigação de ajudá-los. Porque quanto mais forte economicamente forem os países da América do Sul mais tranqüilidade todos nós vamos ter, mais paz, mais democracia, mais comércio, mais empresas, mais empregos, mais renda, mais desenvolvimento. É isso que nós buscamos para a América do Sul e eu acho que é isso que foi consolidado com a assinatura do Tratado", que criou a Unasul.

por Milton F.da Rocha Filho, da Agência Estado

Já vimos, no post anterior, a fala de Marco Aurélio Garcia. Cada ação das esquerdas é no sentido de formar a "pátria grande sonhada por Bolívar", como diria Chávez: a URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina).
Veja lá no meu post de 07/05/2008, do qual reproduzo aqui algumas partes sem os comentários:
"Em um documento escrito em agosto de 2006, logo após Morales ter assumido a Presidência, seu partido (MAS - Movimiento Al Socialismo) elaborou um documento – assinado por Morales - que vem cumprindo diligentemente e que só através dele é possível compreender todo este processo" (...)
"Viabilidade do novo Estado: Conformar uma Pátria Grande Sul-Americana e bolivariana. Para isso é desejável a conformação de forças estatais-repressivas conjuntas entre países da região com orientação socialista e financiada pelos próprios Estados, e o orçamento facilitado pelo Governo bolivariano da Venezuela".
Caramba! Lulovski Apedeutovich já sonhava com esta união em 2004; Kiko Imorales assinou documento de seu partido em 2006 sobre este mesmo assunto - e com financiamento dos petrodólares de Chávez; Nilda Garré (ex-montonera, amiga e companheira de Hugo Chávez), Ministra da Defesa de Néstor Kirshner, ex-presidente argentino, declara que seu objetivo é "criar um Exército latino-americano chavista e anti-norte-americanista". E agora, em 2008, todos se reunem para formar a UNASUL, o Banco (Central) do Sul e a OTAS?
Nada disso: é a URSAL, do Foro de São Paulo, sendo formada, idiotas!


Não bastasse o hábito de recorrer abusivamente a medidas provisórias na política nacional, o governo Lula parece disposto a exportar o modelo para o contexto sul-americano.
Seria difícil argumentar, usando os termos que justificam a emissão de MPs, que é "urgente" ou mesmo "relevante" a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), vaga entidade internacional que acaba de vir ao mundo em reunião de cúpula realizada na última sexta-feira, em Brasília.
Ainda assim, o Brasil julgou importante incluir no documento final do encontro um artigo segundo o qual a nova organização começa a funcionar imediatamente, mesmo sem ter o aval dos Legislativos de seus países-membros. "Funcionar", no caso, é apenas força de expressão.Antes mesmo de instituída oficialmente, a Unasul já perdera seu secretário-geral, o equatoriano Rodrigo Borja, que critica a estrutura da entidade.
Trata-se, segundo Borja, mais de uma "estrutura de fórum" do que de uma "instituição orgânica". Já o ministro Celso Amorim prefere caracterizá-la com nebuloso otimismo diplomático: "uma institucionalidade está sendo criada", declarou.
Há, sem dúvida, o efeito simbólico de enaltecer-se o objetivo da unidade entre os países sul-americanos e a intenção de acenar com alguma autonomia regional perante a OEA (Organização dos Estados Americanos), cujo pecado, para um certo nacionalismo, é o de contar com a presença dos Estados Unidos.
A reunião de Brasília ocorre, de qualquer modo, num momento em que esse ideal sul-americano se mostra ao mesmo tempo necessário e de difícil concretização, mesmo que apenas no plano das formalidades institucionais.
Na esfera econômica, o significado da Unasul é dos mais tênues. Países como Peru e Chile têm acordos de livre-comércio com os Estados Unidos, o que dificulta a idéia de constituir um bloco sul-americano capaz de atuar de modo consistente.
Na questão da segurança, acumulam-se dificuldades ainda maiores. A criação de um Conselho Sul-Americano de Defesa, inicialmente prevista para a reunião desta sexta-feira, foi adiada, optando-se por criar um grupo de trabalho encarregado de analisá-la nos próximos 90 dias.
Não chega a ser uma má notícia, dada a superfluidade da iniciativa; no caso em que a colaboração entre países sul-americanos se mostra mais premente, o do combate ao narcoterrorismo, não há perspectivas de acordo entre os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Alvaro Uribe, da Colômbia. Este já se manifestou contrário ao Conselho, que de resto viria superpor-se a uma quantidade de outros organismos já existentes.
Feitas as contas, o resultado da cúpula é próximo de zero. A não ser, claro, que se considere o modelo de legislar por medidas provisórias uma contribuição valiosa que o governo brasileiro tem a oferecer para os padrões da democracia no continente.

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