sexta-feira, 31 de outubro de 2008


Nas últimas semanas, Henrique Meirelles mastiga o pão que Belzebu amassou.
É ele quem, da cabine de comando do BC, segura o leme da “Nau Marolula”.

Ouve o mau tempo rosnar. Enxerga o negrume das nuvens. Fareja a fatalidade.

Quando quer saber o rumo que o governo vai tomar, o mercado se vira para Meirelles.

É visto como uma bússola. Foge do catastrofismo. Mas não se desprende da realidade.

Nesta quinta (30), o Senhor-crise exibiu em público os efeitos da faina sobre o corpo.

Deu-se durante uma sessão da comissão de Economia do Senado.

Meirelles fez caras e bocas. Esticou braços e pernas. Levou as mãos à face.

Parecia guiado pela dor. A grande dor. Uma dor que não faz concessões à plasticidade.

A certa altura, Meirelles reclinou o rosto. Era como se uivasse por dentro.

Espremeu o nariz contra a bancada. Beijou os papéis à sua frente.

Antes, Meirelles traduzira em cifras o tamanho da crise financeira global.

Dissera que, de setembro pra cá, as Bolsas de Valores do mundo amargaram prejuízos de notáveis US$ 32
trilhões.

Informara que, no Brasil, para conter a cavalgada do dólar, o BC já despejou no mercado US$ 32,8
bilhões.

No instante em que Meirelles se controcia diante das câmeras, o ministro Guido Mantega reconhecia que a economia brasileira vai pisar no
freio.

Meirelles deixou no Senado a imagem de um personagem à beira do limite.

No início da noite, o BC divulgaria decisão que teve a aparência de um
chute no pau da barraca.

Bancões que não usarem o refresco do compulsório para socorrer banquinhos menores serão punidos. O dinheiro será retido. E não renderá um ceitil às casas bancárias em falta.

Depois da fase do vai ou racha, Meirelles informa ao mercado que a coisa precisa voltar ao normal. Ainda que rachada.

por Josias de Souza

Quando Cuba Lança...

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta quinta-feira (31) com o líder cubano Raúl Castro em uma visita para reforçar os laços políticos e comerciais entre Brasil e Cuba. Lula pretende reafirmar o objetivo do Brasil de ser o principal parceiro da ilha.

Lula foi recebido nesta quinta-feira (31) no Palácio de Convenções de Havana. Ele foi acompanhado pelos ministros Edson Lobão (Minas e Energia), Franklin Martins (Comunicação Social) e Orlando Silva (Esportes), além de seu assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Lula assistirá nesta sexta-feira à assinatura de um acordo das petrolíferas estatais Petrobrás e Cupet, e ratificará o desejo do Brasil de ser o principal parceiro da ilha.

O presidente chegou à ilha no fim da noite, depois de deixar San Salvador, onde assistiu à 18ª Cúpula Ibero-Americana, acompanhado por funcionários e empresários que exploram oportunidades de negócios em Cuba.

A segunda visita de Lula a Havana em nove meses --terceira desde que assumiu a Presidência-- é um gesto político em direção a Cuba, e servirá para ratificar a solidariedade com a ilha, após a passagem de dois furacões que causaram perdas calculadas oficialmente em mais de US$ 5 bilhões.

Na sexta-feira, o presidente assistirá à inauguração do escritório de representação em Havana da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).Durante o ato, está prevista a assinatura do acordo com o qual a Petrobras adquirirá os direitos de prospecção e exploração de petróleo em águas profundas cubanas no Golfo do México.

Segundo fontes brasileiras, Lula convidará o general Raúl Castro para uma visita ao Brasil em dezembro.Além disso, pedirá ao líder cubano que assista à Cúpula da América Latina e o Caribe Sobre Integração e Desenvolvimento, que acontecerá em Salvador, nos dias 16 e 17 de dezembro.

na Agência Efe.


Cuba está com cheia de presos políticos e a Anistia Internacional denuncia que a tortura - entre as quais a 'merdácea' (enterrar o preso, nu, até o pescoço num tonel de fezes) - é prática corriqueira no país. Só existe imprensa oficial, sendo o Granma o meio de comunicação mais famoso, onde o ditador Fidel Castro emite seus mugidos. A produção intelectual e artística vive sob severa censura.

Se considerarmos os mortos por 100 mil habitantes da ilha cubana pós-revolução (mais de 17.000) e os mortos por 100 mil habitantes durante o regime militar no Brasil (mais de 460), Fidel matou quase 2.800 vezes mais do que a ditadura brasileira. E, no entanto, Lula está lá na ilha, lustrando-lhe o coturno - ou o tênis Nike, agora, coisa que os "cubanos a pé" (o povão) sequer sonha em poder comprar.

O Brasil se candidata a ser o principal apoiador da ditadura cubana sob o pretexto de que isso facilitaria a transição para a democracia. O que será que Tarso Genro e Paulo Vannuchi (que tanto querem que os torturadores de nossa ditadura paguem pelo que fizeram) acham? Com certeza apóiam o chefe (Fidel chefe de todos eles: Lula, Evo, Correa, Chavez etc.). E não lhes passa pela cabeça dizer ao presidente: “Não vamos negociar com esse torturador execrável!” - sempre lembrando que Raúl Castro era o operador da tirania de Fidel. Agora é o titular.

Pior: além de assinar com Raul Castro um contrato de cooperação entre a Petrobrás e a Cubana de Petróleo, Lula anuncia ainda a doação de 45 mil toneladas de arroz, que serão enviadas em breve para o país de Fidel, Haiti e Jamaica. É uma ajuda devido à devastação ocasionada pelo último furacão que passou pela America Central. As 12 milhões de famílias brasileiras consideradas pela ONU como subnutridas (uma forma mais sutil de dizer que passam fome) estão solidárias, mas lembram que não comer, por aqui, independe de furacão.

Dilma EmPACada

No dia em que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, faz o balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), divulgou dado sobre os recursos até hoje gastos com as obras. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), que registra todos os pagamentos realizados, até segunda-feira passada o governo havia pagado apenas 10% de todos os recursos destinados, R$ 17,9 bilhões, neste ano para o programa. Os dados divulgados por Aníbal mostram o pagamento de R$ 1,9 bilhão neste ano, do total de R$ 10,3 bilhões que foram empenhados, 57,68% dos recursos destinados ao programa.

"O PAC virou uma palavra mágica, que vai se tornando esvaziada no sentido do crescimento. É muita conversa e pouco resultado. O resultado prático é 10% do que foi programado. Falta projeto", disse Aníbal.

Segundo relatório do governo, apresentado por Dilma, R$ 10,4 bilhões foram empenhados para as obras do programa, no período de janeiro a 23 de outubro deste ano, o que representa um porcentual 34% maior que no mesmo período de 2007. Neste ano, segundo os números do governo, foi pago um valor total de R$ 8,2 bilhões. Das 2.198 ações monitoradas pela equipe da ministra Dilma, 83% estão em ritmo adequado e receberam o selo verde; 7% estão em situação que requer atenção, e receberam o selo amarelo; e 1% estão com o selo vermelho, de preocupante. Os 9% restantes referem-se às obras já concluídas.

no Estadão


Pois é. É comum, nas questões que envolvem avaliações que são, digamos, valorativas, ideológicas ou de caráter subjetivo, que o governo diga uma coisa, e as oposições, outra. É do jogo. Mas com números... Ou bem o governo gastou R$ 8,2 bilhões do previsto ou bem gastou R$ 1,9 bilhão, como diz o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). A diferença é grande demais para ser apenas, sei lá, uma questão de avaliação.Acabo de falar com José Aníbal. Ele está lá com os dados do Siafi. Não há a menor dúvida: R$ 1,9 bilhão de gasto, pouco mais de 10% dos R$ 17,9 bilhões previstos para este ano.

E de onde Dilma tirou os outros R$ 6,3 bilhões, já que sustentada ter gastado R$ 8,2 bilhões? Pagamentos referentes ao ano passado. Isto mesmo: como, no ano passado, também não se cumpriu a meta, está-se gastando o dinheiro agora, os tais "restos a pagar". Vale dizer: trata-se de um truquezinho que nem pode ser chamado de contábil.

E os tais R$ 10,4 bilhões de “dinheiro empenhado”? O que é “dinheiro empenhado”, leitor? É o dinheiro que o órgão público ou o governo têm autorização para gastar. Obra feita se mede pelo dinheiro gasto — R$ 1,9 bilhão — e não pelo que se está autorizado a gastar. Não é questão de gosto. É questão de fato.O PAC, conforme se diz aqui desde o primeiro dia em que se criou a sigla, é o mais notável factóide do governo Lula: é o PACtóide.

Já se fez tal imbróglio com o dito-cujo, o Brasil é tão grande, é de tal sorte impossível verificar o que foi e o que não foi feito, que basta pôr a propaganda na televisão e tentar correr para o abraço.

por Reinaldo Azevedo

Ainda o Revanchismo...

“Eles” têm uma tática: velha, manjada, ridícula até, mas que costuma funcionar. Se você não está com eles, então é um representante do mal. E tudo o que disser está maculado por esse suposto comprometimento com o mundo das trevas. (...) Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) seguem firmes no propósito de revogar a Lei da Anistia para um dos lados que transgrediram as leis durante o regime militar. Os dois abriram fogo contra a Procuradoria Geral da União, que reafirmou — ó escândalo!!! — os termos da Lei de Anistia. E aí daquele que discordar.

Sofrerá a acusação que a procuradora Eugênia Augusta Gonzaga, do Ministério Público Federal, faz à AGU. Disse a valente: “A União está defendendo os comandantes do órgão integrado por homicidas, torturadores, estupradores e outros criminosos". É o fim da picada! Dois ministros de estado estão promovendo, acreditem!, uma espécie de subversão — pelo visto, continuaram a usar o cachimbo, daí que a boca continue torta! — a partir do aparelho do próprio Estado. E em plena democracia! Por que digo isso? Porque, ainda que fosse outra a convicção do titular da AGU, ministro José Antonio Dias Toffoli, caberia, como cabe, ao órgão, dada a sua natureza técnica, fazer a defesa que faz. É sua obrigação funcional.

Eugênia Augusta é o terceiro vértice desse triângulo da insensatez. Na contestação à AGU, ela escreve o seguinte delírio: “A impunidade das autoridades do passado inspira e dá confiança aos torturadores e corruptos do presente, que continuam agindo de maneira muito parecida, a despeito de as leis tratarem qualquer tipo de tortura como um crime imprescritível."

Há em trecho tão curto uma soma impressionante de bobagens. Em primeiro lugar, observo que quem acaba afagando torturadores e corruptos — os de agora — é a procuradora. Afinal, ela os livra de sua responsabilidade pessoal e os coloca como produto dos desmandos do passado. Há torturadores hoje no Brasil? Onde? Ela tem a obrigação de denunciar. Eu denuncio: estão espalhados pelas cadeias Brasil afora. Quem se interessa em combatê-los? Ninguém! Afinal, a rotina de tortura nesses lugares atinge uma gente sem o pedigree da esquerda. Em segundo lugar, Eugênia Augusta sabe muito bem que, no Brasil, a lei que pune a tortura é de 1997. Se o método consiste em pegar leis contemporâneas para ajustar contas com o passado, voltaremos às caravelas.

O País dos Petralhas
Um dos textos de O País dos Petralhas, nas páginas 156 a 161, trata desse caso. Foi escrito em 29 de agosto de 2007. Está no capítulo “Sociedade das Idéias Mortas e Delírio Esquerdopata”. Por incrível que pareça, a ladainha continua a mesma. Leiam:

* REVANCHISMO E MITOLOGIA ESQUERDOPATA QUEREM REVER LEI DA ANISTIA – 29/08/2007
“Está previsto para hoje, em cerimônia no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Lula, ex-preso político, e de vários ministros, o lançamento do livro "Direito à Memória e à Verdade", cujas páginas registram o perfil dos mortos e desaparecidos sob a ditadura militar brasileira. A obra resulta de cuidadoso trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, presidida pelo advogado Marco Antônio Rodrigues Barbosa. Editada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República nesta gestão do ministro Paulo Vannuchi, é, com certeza, o mais importante documento histórico sobre os anos de chumbo desde a publicação de "Brasil: Nunca Mais", assinado pelo cardeal d. Paulo Evaristo Arns, hoje arcebispo emérito de São Paulo, e o reverendo Jaime Wright.”

Assim começa Frei Betto o seu artigo na Folha desta quarta. Opinião é como intestino: todo mundo tem. E a democracia, onde há democracia (não é o caso da Cuba de Fidel Castro... e de Betto), garante a sua expressão, o que é ótimo para o regime de liberdades públicas, mas nem sempre a verdade sai ganhando. Tá bom. Podemos pagar o preço de uma impostura ou outra para ter um regime democrático. Mas elas precisam ser denunciadas.Uma das mentiras esquerdopatas que costumam triunfar é a de que a história é sempre contada pelos vencedores. Não é regra. Às vezes, sim; às vezes, não. Leiam, por exemplo, Os Doze Césares, de Suetônio. Os mandatários romanos não aparecem ali fazendo, necessariamente, um bom papel. Nem A Ilíada, que é literatura (e, pois, também história), é sempre airosa com os gregos — Heitor, o vencido, é uma grande personagem. Muitas vezes, a crítica vem embutida no próprio elogio. David, o pintor, puxando o saco de Napoleão, fala muito mais do temperamento do baixinho invocado do que seus inimigos. Essa conversa de que é preciso contar a história dos vencidos é pura mistificação submarxista. Marx, aliás, um quase-helenista, morreria de rir dessa tolice. Até porque o discurso histórico também é história. Supor que haja dois pontos de vista apenas — o do vencido e o do vencedor — é flertar com a tentação de haver um juiz da história, que venha a desempatar a contenda. Coisa de mulas intelectuais e de totalitários.

Pedem-me que comente a iniciativa da Secretaria Nacional de Direitos Humanos de publicar o tal livro, mais um, com o relato dos horrores da tortura durante o Regime Militar. É coisa do secretário Paulo Vannuchi. Um anterior, Nilmário Miranda, tem a sua própria obra a respeito: Dos Filhos Deste Solo, em parceria com o jornalista Carlos Tibúrcio. Quem sabe o próximo se dedique à mesma iniciativa... Vejam só: se há fato histórico em que a versão vitoriosa é a dos vencidos, é este. A esquerda perdeu a batalha, mas ganhou a guerra de propaganda. Escrevi um artigo sobre isso na extinta Primeira Leitura. Neste blog, tratei do assunto no dia 18 de julho do ano passado. Esta tese é minha. No caso do golpe militar de 1964, até agora, só os vencidos deram a sua versão porque amparados, olhem que coisa!, em sua suposta superioridade moral. É o habitual.

É o único caso em que o vencido é o vencedor? Não. No Ocidente, especialmente depois que a academia e os meios de comunicação foram ocupados pela cultura da contestação, isso é uma constante. O aparato analítico da esquerda, no entanto, fazia-se presente na história das idéias muito antes. Já escrevi aqui também: até hoje, os assassinos de Robespierre são exaltados como verdadeiros heróis dos direitos do homem. As melhores conquistas da chamada Revolução Francesa foram obra de conservadores, o que é solenemente omitido tanto na França como no Brasil. O único historiador que conseguiu furar o bloqueio da “mentira dos vencidos” com razoável sucesso foi François Furet. Parte da historiografia brasileira se dedica a resgatar a memória dos “vencidos” mesmo que sejam notórios bandidos, como é o caso do ditador paraguaio Solano López, visto como um “socialista” endêmico destruído pela brutalidade dos brasileiros. E quem diz isso? Brasileiros, ora essa. Em matéria de estupidez, a nossa academia não tem preconceitos.

Mas volto lá ao tal livro. Eu vinha evitando o assunto porque já escrevi muito a respeito. Se vocês acessarem o Google e botarem lá palavras-chave como “Reinaldo Azevedo indenização pensão esquerda terrorismo”, verão quantas vezes já escrevi a respeito dessa história. Quem, comprovadamente preso, foi vítima de maus tratos tem mesmo de ser indenizado — ou alguém da família no caso de morte. Quem optou pela luta armada ou pelo terrorismo (em suma: deliberadamente, pegou em armas para derrubar o governo) fez uma escolha consciente. Se morreu na batalha, pagou o preço de uma opção. Poderia ter matado. E alguns mataram. E também não sou sensível à falácia de que a guerrilha e o terror eram a última saída. Não eram. Ou seria preciso abolir todas as outras formas de resistência que houve. Mais: essa hipótese se sustenta em outra mentira, combinada com a anterior: a decisão de promover a luta armada seria posterior à decretação do AI-5. Foi anterior.

Ora, qual é o sentido de se fazer um novo livro sobre os mortos, carregando agora, mais do que antes, na descrição dos horrores a que teriam sido submetidos? E fazê-lo com patrocínio oficial, quando o estado brasileiro já admitiu, como ente legal, as suas culpas, pagando uma indenização bilionária? Sim, o que Frei Betto e seus serviçais na mídia escondem é que as indenizações às “vítimas” do Regime Militar já custaram R$ 3,5 bilhões aos cofres públicos. A cada mês, as pensões somam outros R$ 28 milhões. Eles quiseram implantar o comunismo no Brasil, e nós pagamos o pato. Já foram concedidas 17 mil reparações, 13 mil foram rejeitadas, e ainda há outras 30 mil na fila.

Lula, que Frei Betto chama de “preso político” (este apoiador de Fidel Castro não tem mesmo nenhum senso de ridículo), é um dos pensionistas. No mundo inteiro, é verdade, os “vencidos” de carteirinha lutam para contar a sua versão dos fatos. Só que, no Brasil, eles decidiram passar primeiro no caixa. Parênteses: o discurso da “versão dos vencidos”, com que se tenta enobrecer o livro, seria um argumento muito interessante num tribunal. Não é legítimo supor que, uma vez “vencidos”, usam a sua narrativa extremada como mais uma arma contra o inimigo, agora a retórica — quiçá a imaginação?

Lei de Anistia
A Lei de Anistia é de 1979. Qual foi o seu sentido? Justamente eliminar esse discurso de “vencidos” e “vencedores” e impedir, para usar uma expressão da época, o afloramento do “revanchismo”. A maioria das correntes de esquerda, diga-se de passagem, endossou essa perspectiva. E notem bem: não faltou, na linha dura militar, quem alertasse para o fato de que a lei seria apenas o primeiro passo da revanche, que viria mais cedo ou mais tarde. Tais setores argumentavam — e não sem razão — que, estivessem invertidos os papéis, e as esquerdas não lhes dariam a chance do perdão. A julgar pela experiência histórica do comunismo, viria mesmo é o paredão para os que então estavam no poder e para milhões de outros brasileiros.

O livro a ser lançado hoje cita 475 casos. O de Nilmário, 424. Não li o de agora. O outro era bastante generoso nos critérios para atribuir mortos e desaparecidos ao Regime Militar. Nem sempre a vinculação fica clara. Seja um número ou outro, Fidel Castro, o guia moral de Frei Betto, riria da brandura da ditadura brasileira. O que eu acho? Uma barbaridade, é óbvio. Com uma diferença: eu deploro as duas ditaduras; Betto, apenas uma.

Resistindo à linha dura, felizmente prosperou a corrente que propugnava em favor da abertura política, e o país pôde, então, caminhar para a conciliação e para uma transição pacífica do Regime Militar para a democracia. Reavivar agora aquelas contendas serve a quais interesses? Se o governo Lula patrocina um livro como esse, embalado por forte propaganda, poderia muito bem ter atuado, por meio da comissão que cuida do assunto, para tentar localizar corpos que ainda não tenham sido encontrados. Em vez da eficácia, busca-se, no entanto, a propaganda. E os promotores de tal iniciativa mal escondem a intenção de levar os anistiados “do outro lado” para o banco dos réus.

Escreve Frei Betto: “A nação, entretanto, tem o direito de resgatar a sua memória e corrigir aberrações jurídicas como a "anistia recíproca" do governo Figueiredo. Inútil querer impedir que as famílias pranteiem seus mortos e clamem por seus entes queridos desaparecidos. E, a exemplo do Chile e da Argentina, o princípio elementar do direito exige que crimes, sobretudo aqueles cometidos em nome do Estado, sejam investigados, e seus responsáveis, punidos, para que a impunidade não prevaleça sobre a lei nem se perpetue como tributo histórico.”

Há, aí, dois truques sujos no que respeita à retórica e à história. “Resgatar a memória” — e os corpos — é uma coisa. Rever a “anistia recíproca” é que é uma aberração. Andaram bem, no passado, os que assaltaram bancos, promoveram o terrorismo, a guerrilha e também mataram? Até onde chega a paixão de Frei Betto pela revisão da história? O segundo truque é equiparar a ditadura militar brasileira à argentina ou à chilena. A primeira matou 30 mil pessoas; a outra, 3 mil — com populações muito menores do que a brasileira. Naqueles países, a ditadura deixou uma chaga social; no Brasil, felizmente, não. Ah, claro: por mil habitantes, o campeão em mortes, prisões e exílios é o ditador Fidel Castro, o amigo de Frei Betto.

Matou ou não?
Indagado pela revista Playboy se já matou alguém, José Dirceu não quis responder. Deixou para o futuro, para as suas memórias. Eu, por exemplo, posso dizer: nunca matei ninguém. É bem provável que quem me lê também não. E outras tantas figuras do governo e da base aliada que participaram da luta armada e de ações terroristas? Eles têm ou não as mãos sujas de sangue? Em alguns casos, é quase fatal supor que sim. Mataram em nome do quê? De uma causa? A causa do comunismo era moralmente superior à do combate ao comunismo? Ou terão a cara-de-pau de dizer que seus assassinatos ajudaram a construir o regime democrático no Brasil?

Os “vencidos” já venceram e já contaram a história do seu jeito. Partidários óbvios de um regime facinoroso, eles estão por aí fazendo as vezes de combatentes da liberdade. O livro é só uma peça a mais no proselitismo vitimista, que busca ajustar contas com o passado. E que governo o promove? Um capaz de se meter numa conspirata — não com um, mas com dois ditadores (os amigos de Betto) — para devolver dois pobres pugilistas a uma tirania; a tirania que os “heróis” de si mesmos, sem qualquer apoio popular, queriam implantar no Brasil.Que interpretação é esta?

Este é um texto de vencido ou de vencedor? Conheci a truculência da ditadura com 15 anos, como estudante secundarista, perseguido por um agente de sobrenome “Olay”. Estará vivo ainda? Isso faz 30 anos. Túlio Bulcão, meu professor então, meu amigo ainda hoje, militante do PT, conhece bem a história. Outros que me davam aula também. Eu era socialista? Ainda não exatamente, mas me interessavam as pessoas que diziam coisas que o “sistema” (usava-se muito esta palavra naqueles tempos) não deixava dizer. Quando decidiram me “pegar”, era um pretexto para tentar chegar a alguns professores de esquerda — com os quais, de resto, justiça seja feita, eu nem tinha contato. Quando ingressei num grupo trotskista, cruzei com um deles na reunião, e foi difícil saber quem ficou mais surpreso.

Era 1976. Fiquei, é claro, apavorado. Mas não o suficiente para me afastar da “luta”, à qual dediquei alguns anos. Até entender, ainda bem que a tempo, que aquilo que eu buscava era a democracia, não o socialismo — descoberta que não se faz sem alguma dor e sem alguma perda. Mas isso não interessa agora, e não há qualquer risco de eu me tornar um sentimental nesta questão. O que penso hoje, e já há muitos anos, da esquerda, vocês sabem. Fiz escolhas intelectuais e morais. Mas também conheço como funciona a racionalização da barbárie e da violência na cabeça de um esquerdista. Este livro é parte de uma representação que procura entronizar santos e exorcizar demônios, contra o sentido da Lei da Anistia. Reitero: buscar corpos ou tentar saber o destino de desaparecidos é coisa diversa de rever a lei, como querem Frei Betto e seus propagandistas. Em tempo: continuam a me interessar as pessoas “contra o sistema”.

Finalmente...
A democracia no Brasil não morreu em 1964 porque a direita deu um golpe. Morreu porque não havia quem a defendesse, de lado nenhum. Um governante responsável não teria promovido ele próprio a subversão, como fez João Goulart, incentivado pelos nacionalistas bocós e pelos bolcheviques tupiniquis, que imaginavam que ele pudesse ser o seu Kerensky. Não podia. Era ainda mais idiota. Deu no que deu. O Brasil não merece reabrir uma ferida porque um populista meio vulgar decidiu dar as mãos a meia-dúzia de “vencidos-vencedores” que não conseguem nem superar nem se livrar de suas próprias obsessões.

por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Acenderam a Luz Vermelha

O governo federal tem uma idéia fixa: vencer a eleição presidencial de 2010. Todas as ações político-administrativas estarão voltadas para esse objetivo. E, se necessário, vencer a qualquer preço.

Mas os resultados surpreendentes (para o governo) das eleições municipais acenderam a luz vermelha. Desapareceu do espectro político a possibilidade de o próximo presidente da República ser escolhido por um só eleitor, e 125 milhões de cidadãos simplesmente referendarem o desejo imperial.

As análises que davam como certa uma onda vermelha fracassaram, assim como aquelas que imputavam ao presidente Lula uma espécie de varinha de condão para escolher os prefeitos. Sua popularidade era tal, diziam, que bastaria indicar o candidato a ser votado. Seu prestígio era tão grande, afirmavam, que o povo, obedientemente, seguiria a determinação do condutor. Se Lula e seus apoiadores acreditavam nessa falácia, não cabe crítica. O estranho foi a oposição ter imaginado que esse delírio era real.

Como esperado, nos pequenos municípios, o índice de reeleição dos prefeitos foi o maior da história. O uso político do programa Bolsa Família - o cadastramento é controlado pelos prefeitos - fez com que a reeleição se transformasse em favas contadas: quando não foi o próprio prefeito, o candidato vencedor foi alguém do seu grupo político.

Assim, o Bolsa Família se transformou em um instrumento de petrificação política, de permanência das oligarquias, impedindo a alternância no poder municipal.

Pior: o governo Lula, que já conta com 11 milhões de famílias beneficiárias, ameaça incluir mais 4 milhões que já estão cadastradas no programa. Em outras palavras, o programa Bolsa Família será um dos instrumentos usados em 2010 para ganhar de qualquer jeito as eleições. O final do ano será marcado por um cenário político confuso. Surpreendido pelo resultado das eleições municipais, ao governo interessa colocar vários obstáculos no caminho até chegar a 2010.

Vai lançar diversos balões de ensaio: transformar o Congresso em Assembléia Constituinte, voltar a insinuar o desejo de apresentar a proposta do terceiro mandato, falar em extinção da reeleição, defender um mandato presidencial de cinco anos - mas, no fundo, sabe que nada disso pode ser aprovado.

A maioria congressual que o governo Lula teve nos seis anos de mandato vai diminuir paulatinamente. E minguará na relação inversa do tamanho da crise econômica internacional.

O governo continuará tentando dividir a oposição, buscando aqueles mais propensos à composição política em troca de algumas migalhas. Deverá explorar vaidades e esperanças frustradas.

Não faltarão adesistas. Estes, claro, vão se justificar argumentando que estão defendendo os interesses dos seus Estados. Vimos na campanha municipal que poucos candidatos tiveram a altivez de não se prostrarem frente ao presidente, como se o gestor municipal (ou estadual) tivesse de ter uma relação de subserviência em relação ao governo da União.

Até o momento, a oposição não esteve à altura das necessidades do país: teve receio de se contrapor, de remar contra a corrente, de enfrentar o governo no terreno da política; como se o índice de popularidade de Lula - que não será eterno - fosse um escudo que impedisse a construção de um outro projeto de país.

Mas os eleitores dos principais colégios eleitorais deram um recado: querem ter uma alternativa, não aceitam o voto de cabresto, não votarão em um poste na eleição de 2010, mesmo que indicado e apoiado ostensivamente por Lula. O bloco anti-histórico que está no poder - o sindicalismo amarelo associado ao atraso oligárquico e aos interesses do grande capital financeiro - não cederá o governo facilmente. Vai lutar com todas as armas.

Teremos a eleição mais violenta da nossa história, com o uso da máquina administrativa e dos programas assistencialistas, com acusações e ameaças, dossiês à vontade, para todos os gostos, e, provavelmente, em um cenário econômico desfavorável.

Tivemos uma pequena mostra agora. Se o presidente foi tão agressivo na eleição de Natal, imagine quando estiver em jogo o Palácio do Planalto: o figurino "Lulinha paz e amor" será jogado no lixo.

O exército de aloprados prepara-se para o combate. Eles sabem que não podem perder o acesso privilegiado ao poder. Não mais sobrevivem distante dele. E farão de tudo para continuar mais quatro anos (oito seria melhor) usando e abusando das benesses produzidas em Brasília.

por MARCO ANTONIO VILLA, 52, historiador, professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Transição Inacabada

O presidente Geisel, ao tomar posse em março de 1970, encontrou vencidas as guerrilhas urbanas, iniciadas em 1967. Preparou um plano de transição constante da Emenda Constitucional nº 11, de 13 de outubro de 1978. Revogava o AI-5. Restabelecia todas as liberdades fundamentais, entre elas a dos órgãos de comunicação de massa, hoje conhecidos como mídia.

Ao presidente Figueiredo coube continuar a transição, com a quebra do bipartidarismo e a anistia geral. Ao fim do mandato do seu sucessor, eleito pelo Colégio Eleitoral mantido pela eleição de 1982, encerrar-se-ia o ciclo militar. O PDS rejeitou fosse substituto de Figueiredo o deputado Paulo Maluf, candidato aprovado em Convenção Nacional. O cisma, liderado pelo senador José Sarney, em 1984, causou a adesão de grande parte do partido à candidatura de Tancredo Neves, ainda eleito pelo Colégio Eleitoral tão execrado, mas útil no momento favorável.

Quanto à anistia, a oposição exigia “ampla, geral e irrestrita”. Apresentou, porém, um substitutivo que aprovava a absolvição dos crimes conexos (entendidos como terrorismo e tortura), mas não abrangeria, intencionalmente ou não, Leonel Brizola e Miguel Arraes. Derrotado o substitutivo, encabeçado pelo deputado Ulysses Guimarães, foram ambos eleitos em 1982, respectivamente governador do Rio Grande do Sul e deputado federal, por Pernambuco. Líder do governo Figueiredo, e por ele autorizado, garanti, da tribuna do Congresso, que outras medidas, especialmente sobre os crimes de sangue que a lei excluía, seriam progressivamente submetidas ao Congresso.

Aprovada a anistia pelo Congresso, antecipada pelo pluralismo partidário e a legalização dos partidos marxistas e até leninistas pelo presidente José Sarney, que fora o líder da Arena e do PDS, vê-se que a distensão buscava a democracia plena. Mas a esquerda radical não aceitou, anistiada, a reconciliação da família brasileira. Na Constituinte, o assunto voltou à baila: “Nada de esquecimento”, diziam. Na gestão de FHC a litania separatista de esquerda foi atendida. O revanchismo produziu a inversão da história: os vencidos na luta armada, que a deflagraram em 1967, passaram a reescrever a história.

O presidente Fernando Henrique Cardoso tornou lei a “vendeta”. Constituiu as comissões de Anistia e de Indenização, tomadas de facciosismo raivoso e multiplicador até de fortunas, que levaram o humorista Millor Fernandes, nada simpático ao ciclo militar, escrever que “os guerrilheiros não fizeram guerrilha, mas um bom investimento”. FHC, ao sancionar as comissões, disse ser “o dia mais feliz” da vida dele. Carreou votos de milhares de indenizados para Lula e não para Serra, seu candidato a presidente da República.

Esse retrospecto põe em evidência o comportamento harmonizador, sem reciprocidade, dos que impediram que o Brasil virasse uma imensa Cuba. Pagam por isso, como se os guerrilheiros tivessem vencido, pelas armas, a segunda tentativa sangrenta de tomar o poder no Brasil. Derrotados, foram anistiados, mas parecem vencedores implacáveis. Falseiam a verdade.

Objetivam convencer os incautos que perderam devido à tortura que teriam sofrido, quando se sabe que perderam porque não tiveram apoio da opinião pública, essencial para as guerrilhas. Dizem que lutaram pela democracia contra a ditadura. Como confessa dignamente o ex-guerrilheiro Daniel Aarão Reis, marxistas leninistas que eram, bateram-se pela ditadura do proletariado. Compensando o fracasso armado, estão com os bolsos abarrotados de dinheiro, pensões vitalícias sem pagar Imposto de Renda, empregos e nomes nas ruas. O presidente Lula, que prefere ser democrata pragmático a proletário revolucionário, os diz heróis, numa cerimônia a que presidiu.

Apesar de todas as vantagens, não terminam as reivindicações. Nas eleições importantes de São Paulo, dona Marta Suplicy, derrotada, chamava de filhote da ditadura ao seu concorrente, que nem tinha nascido em 1964. Jornais de grande tiragem rememoram, de onde em onde, ocorrências havidas na guerrilha do PCdoB (ainda hoje stalinista), no Araguaia, sempre imputando sevícias aos que defenderam a pátria com o sacrifício da própria vida. Stalin agradece. Nossa pátria pranteia silenciosamente seus mortos. Note-se que a mudez impera no agitprop sobre as guerrilhas urbanas muito mais sérias.

A OAB, 40 anos depois, pede ao Supremo Tribunal Federal que proíba prescrição do crime de tortura, que atribui aos militares, mas silencia sobre o terrorismo, o que faz supor aprová-lo como legítimo na guerrilha. Ignora o atentado que matou cinco pessoas inocentes, mutilou e feriu 15 no aeroporto de Recife, em 1966; o carro-bomba que estraçalhou o corpo de uma sentinela do Exército em São Paulo; os que, desarmados, emboscaram Henning Boilense; que “matou por engano” um major alemão, tomando-o por um capitão boliviano, que teria prendido Che Guevara, ambos alunos da Escola de Estado Maior do Exército brasileiro.

Divulgam as violências que José Genoíno garante ter sofrido para dar informações de seu grupo, mas que tem a correção de negar tenha sido torturado ao ser preso na floresta. Pois os companheiros de Genoíno, meu par no Congresso, certa vez esfatiaram até à morte, na presença dos pais, o corpo de um menino de 17 anos de idade que serviu de guia à patrulha militar que os perseguiu na mata. Nos países torturadores, Cuba e China, onde se amestraram, devem ter-lhes lembrado Marx: “A violência é a parteira da história”. E o terrorismo, doutores?

por Jarbas Passarinho

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Entrevista Pong-Pong

Fiz um vermelho-e-azul (...) com Maria Victoria Benevides, como viram, a intelectual do PT apresentada apenas como uma cientista política. Está aí abaixo (...). Sim, um pouco e a levei a sério, outro tanto recorri à pena da galhofa — não contem com a tinta da melancolia, reservada apenas a assuntos mais sublimes do que a política, como a luta do Ser contra o Não-Ser Universal, por exemplo. Mas não duvidem: Maria Victoria, se tratada como sintoma ou como um programa político não explicitado, é coisa séria. Em sua entrevista à Folha — foi inaugurado o estilo pong-pong: o entrevistado fala, e o entrevistador radicaliza — , é evidente que ela faz pouco caso da democracia, que, entende-se, só é virtuosa quando as aspirações de seu partido — ou, mais amplamente, da esquerda — são contempladas.

Vejam lá. Aquela senhora disse coisas muito graves, mormente porque é uma professora universitária e, vá lá, tem o pensamento como uma de suas obrigações — recebe do estado para ensinar e para orientar os jovens. Já explorei o suficiente a tolice de tentar encaixar as clivagens contemporâneas na camisa-de-força dos partidos que havia no Brasil pré-64, como se, naquele período, se tivesse plasmado o caráter nacional, e o presente não fosse senão caudatário daquelas contendas. É um raciocínio energúmeno, que elimina a história. No tempo em que PSD, UDN e PTB disputavam a hegemonia política, o Brasil tinha mais de 60% da população no campo — hoje, mais de 80% dos brasileiros estão nas cidades. Mas não só. O Brasil de 1980, que viu nascer o PT, já não existe, com a diminuição da importância da mão-de-obra industrial na economia e... na política. O pong-pong foi só uma manifestação regressiva do marxismo mais bocó, uma espécie de “Dois Perdidos Numa Tese Velha”.

Então ela é irrelevante? Não! Não é, não. Não podemos perder de vista, por exemplo, a caracterização até certo ponto correta que Maria Victoria fez de seu partido. Mas falo disso mais adiante. Antes, quero alertar para algo que me parece bem interessante.

Maria Victoria não é uma “uma”, mas uma legião, como diria a Bíblia. Ela vocaliza uma cultura interna: a do seu partido. E o seu partido, não resta dúvida, reconhece apenas formalmente a legitimidade dos adversários eleitos. Voltem à entrevista e vejam como ela caracteriza Kassab e o governador José Serra — que não tem origem na direita, ela reconhece, mas estaria se “endireitando”. Para ela, o DEM-PSDB só venceu as eleições porque teria conseguido distorcer a compreensão do povo — que, deixado à sua própria natureza, votaria em Marta. É como se o trabalho da Prefeitura nesses quatro anos não tivesse existido. O resultado das urnas foi só o produto da má consciência.

Ora, quais são os desdobramentos de tal abordagem? O primeiro, obviamente, é a baderna que o partido promove nos vários setores da administração quando quem está no poder é um adversário. Ora, Maria Victoria é a prova de que eles não reconhecem a legitimidade do “outro” apenas porque “outro”. Para esta gigante, não existe uma institucionalidade que iguale os adversários em direitos e obrigações, embora eles possam divergir radicalmente sobre todos os assuntos. Ora, numa disputa ética, os oponentes combinam em não divergir sobre uma coisa aos menos: as regras do jogo.

Com o PT não é assim. Vejam o exemplo de setores da Polícia Civil de São Paulo, ora sob comando da CUT e da Força Sindical. Sabem que sua reivindicação é impossível — como eram todas as feitas pelos servidores federais no governo FHC. Mas e daí? “A questão é política, companheiro”. O governador foi unanimemente tratado pela imprensa, e é óbvio e correto, como o grande vencedor individual das eleições de 2008. Uma vitória conseguida nas urnas, com o apoio do mesmo povo que serve sempre para santificar Lula. Mas está às voltas com um grau de radicalismo dos setores sindicalizados da Polícia Civil que beira o grotesco. Haverá o momento em que alguém vai se lembrar de apelar ao PCC, como se fez em 2006? Fiquemos atentos. Se o "outro" é ilegítimo porque "outro", que mal há em sabotá-lo?

E agora...E, agora, vamos a uma percepção de Maria Victoria que não deixa de estar correta. Reproduzo: “O PT nacional se beneficiou enormemente das políticas regionais e municipais no governo Lula. O PT no resto do Brasil está ligado a propostas e projetos locais, nos quais o conteúdo ideológico é muito pequeno, e a presença da classe média também. Essa classe média forte, organizada, com imprensa, universidades, pequenos e médios empresários, é imensamente mais forte aqui. Dificilmente existe, no resto do Brasil, essa rejeição forte e absoluta ao PT que existe em São Paulo.

Nem eu diria com tanta propriedade. O país que vai acima é o paraíso dos petralhas. O PT viceja, assegura Maria Victoria, onde a classe média é pequena, fraca, desorganizada, sem imprensa, sem universidades, sem pequenos e médios empresários. Nesse caso, assegura-nos a petista, a rejeição ao PT é menor. Ela tem razão: o PT está se tornando dependente do pobrismo. Com efeito, comunidades prósperas não suportam o petismo.

“E Lula nesse contexto?” Lula é outra história, e o próprio Lula sabe disso. Maria Victoria acerta também quando diz que o Apedeuta fez políticas para beneficiar os muito pobres e os muito ricos: a uns, deu Bolsa Família; a outros, deu Bolsa Juros. Até os mais entusiasmados com a política econômica apareceram ontem na TV recomendando que se diminuam os gastos com juros... Num extremo, populismo; no outro, financismo. Mas aqui já estamos falando de outros quinhentos, que vão cobrar a sua conta um pouco mais tarde.

Concluo
Maria Victoria revela-nos um entendimento da política que dá de ombros pra democracia e vê nela um desvio se as urnas não referendam os nobres desígnios que esses “progressistas” têm para o povo. E olhem que estamos falando de eleições municipais. Imaginem se o PT não conseguir inventar um candidato viável para 2010. Os legionários de Maria Vitória vão tentar reagir. Afinal, nem ela nem eles entenderam ainda a democracia. Resta o quê? Vou perguntar ao prefeito Gilberto Kassab se o Haldol está na lista do programa "Remédio em Casa". Se não estiver, tem de entrar. E se poderá fazer um favor a Maria Victoria Benevides.

A CIENTISTA POLÍTICA Maria Victoria Benevides, 66, avalia que Gilberto Kassab não venceu a eleição porque sua aprovação é alta, e sim porque a rejeição a Marta Suplicy é muito forte. "Kassab não provocou nenhuma rejeição. Isso não significa que ele seja bom: significa que as pessoas eram indiferentes a ele".

Professora titular da Faculdade de Educação da USP e autora de "O Governo Kubitschek" (1976), "A UDN e o Udenismo" (1980), "O Governo Jânio Quadros" (1981) e "O PTB e o Trabalhismo" (1989), entre outros livros, Benevides afirma que Kassab é apenas um político fabricado pelo governador tucano José Serra -"ele é uma espécie de Pitta que deu certo"- que conseguiu reunir todas as vertentes da direita paulistana em sua batalha contra o PT.
A abertura de uma entrevista deve ser uma síntese do que vai no resto. Até aí, bem. Contestarei na seqüência a bobajada dita por esta senhora. Mas acho que o texto de Puls omite dos leitores, e isso pode ser um pouco vergonhoso, que Maria Victoria Benevides é militante do PT, é quadro do partido. Mais: pertenceu à tal Comissão de Ética Pública — que costumo chamar de “Começão de Ética Pública” — do governo Lula durante o mensalão. Eis a Maria Victoria Isenta que agora vai pensar o Brasil. Eis Maria Derrota Malevides.

FOLHA - Kassab começou no PL, um satélite do PFL, mas logo ingressou no próprio PFL, que aqui em São Paulo reunia herdeiros da UDN. É possível dizer que a "direita udenista" conseguiu substituir a "direita populista" representada por Maluf?
Não é uma pergunta. É uma tese. Puls está ainda preocupado com a UDN... Que Maria Victoria, com 66 anos, esteja disposta a remoer o passado e a decretar que nada de novo existe sob o sol, vá lá. Que Puls, com 40 e poucos, esteja nessa... Bem, isso é problema dele, e idade física não é sinonimo de idade intelectual. São Paulo tem hoje 11 milhões de habitantes. Tudo mudou na cidade — e, a rigor, no Brasil desde 1964. Com quem está o setor financeiro da economia brasileira, por exemplo? Qual foi o partido que recebeu as doações mais generosas do que ambos chamariam “direita brasileira” em 2006? O PSDB? O DEM? Não! Foi o PT. O PT de Maria Victoria Benevides. A tese é tão picareta, que, para definir onde está a UDN, seria preciso dizer onde estão o PSD, o PTB, o Partidão... Ou só a UDN, como a direita que precisaria ser exorcizada, sobreviveu?

MARIA VICTORIA BENEVIDES - A direita udenista certamente está com Kassab, mas Kassab não é fruto da direita udenista, mas dos liberais que vieram da esquerda do antigo MDB e da oposição à ditadura. É por isso que é muito difícil estabelecer claramente uma definição de sua identidade política. Nós podemos falar do DNA dele: o DNA dele, com toda a certeza, é de direita, mas um mix da direita udenista com a direita pessedista. Mas basta ver quem o fabricou politicamente: foi José Serra, que está longe de ter um DNA de direita udenista. Ele vem da esquerda e depois evoluiu para uma posição liberal.
Eu juro que não tinha lido esse trecho da resposta antes de escrever a minha objeção à pergunta de Puls. Quanta besteira! Quanta vigarice intelectual! Como se lê, a história nada mais seria do que uma repetição do mesmo; a velha tolice marxista, tornada clichê, decalcada de O 18 Brumário... A história se repetindo como farsa. E o DNA de Marta, qual é? O da esquerda revolucionária? Se Benevides quer se comportar como geneticista política de um indivíduo, tem de atentar para as origens de sua adversária. A candidata que exibe o líder operário Ivo Rosset, dono da Valisère, como um de seus mais caros aliados é o quê? Aliás, ela deveria ter levado ao ar imagens de seu casamento, de que ele foi padrinho, um verdadeiro sonho da Ilha de Caras, como exemplo de seu compromisso com a classe operária. Ou Malevides vai agora me acusar de preconceito contra a classe burguesa?

Kassab é apoiado hoje por uma parte importante do antigo Partidão [PCB], por uma parte importante do antigo movimento sindical. Isso não tem nada a ver com a direita udenista, mas, numa escolha em dois turnos, ele ficou com a direita udenista, a direita malufista, a direita janista e a direita adhemarista. Conseguiu reunir não só a direita udenista, mas todo o conjunto conservador das direitas de São Paulo, mais os tucanos liberais, dos quais a maioria não tem origem na direita, mas que acabaram se "endireitando" no governo.
Meus Deus! É o feitiço do tempo. Janismo, adhemarismo... Nesses quatro anos de gestão Serra-Kassab, nada aconteceu na cidade. Uma vitória com 18 pontos percentuais de diferença é só uma reação de setores conservadores da sociedade. São as pobres massas iludidas pelas tramóias da direita. Essa gente odeia democracia. É por isso que, uma vez no poder, tenta sabotá-la de forma descarada. Um dos esforços mais evidentes foi o mensalão. E Maria Derrota Malevides cuidava da ética do governo naquele tempo. Que coisa asquerosa!

FOLHA - Mas qual seria a substância político-eleitoral de Kassab?
Bem, Puls, sobre a substância eleitoral, nada precisaria ser indagado: quase quatro milhões de votos. Quanto à política... A pergunta apenas tange a velha corda da esquerda, para quem um “conservador” ou “udenista” será sempre fabricado. Por que Puls não entrevista um intelectual conservador para saber qual é a substância política de Marta Suplicy?

BENEVIDES - Eu acho que ele foi uma pessoa fabricada. Ele é uma espécie de Pitta que deu certo. O Pitta foi fabricado pelo Maluf igualzinho o Kassab foi fabricado pelo Serra. Quem era Kassab antes do Serra? Eu mesma nunca tinha ouvido falar dele, assim como ninguém tinha ouvido falar do Pitta. É o Pitta que deu certo. E deu certo porque o PSDB, embora rachado e enfraquecido por divisões internas, se deu conta de que ele era a maneira que tinha de ganhar a batalha contra o PT, que é seu grande adversário.
Não tinha ouvido falar porque é ignorante. Porque está presa às clivagens da década de 50. Há tempos, Kassab é um dos importantes articuladores da política paulista e paulistana. Assim como os petistas têm seus homens de bastidores, que não estão submetidos aos holofotes da imprensa, os não-petistas também têm. A tese da militante, que faz micagens de socióloga independente, é mentirosa desde a origem. Recupere, leitor, o noticiário de 2004. Serra não tinha relações políticas com Kassab. O acordo com o então PFL foi costurado por Geraldo Alckmin. E o hoje DEM não escolheu Kassab porque ele fosse um idiota, não é mesmo?

FOLHA - A questão é saber se esses políticos fabricados têm longevidade. Hoje a aprovação a Kassab (59%) na cidade é bem maior do que a do próprio Serra (38%), o que sugere que ele poderia sobreviver a uma eventual derrota de Serra em 2010. Mas, olhando para o passado, os políticos fabricados não duraram muito: Adhemar fabricou o Lucas Garcez; Jânio, o Carvalho Pinto; Quércia, o Fleury. Fabricaram um sucessor, mas o sucessor não teve sobrevida.
Puls é um moço muito lido, como se nota... Que pena que faça tão pouco com tanto! Reparem que a entrevista se torna uma espécie de campeonato entre o entrevistador e a entrevistada para ver quem detrata mais o prefeito reeleito. Não há, até aqui, vamos ver o que segue, uma só referência à sua gestão. Pouco interessa saber se ela foi boa ou má. Isso não é uma entrevista: trata-se de uma peça de propaganda partidária disfarçada de peça jornalística. E a suposição permanente, claro, é a de que o povo foi enganado por uma tramóia. O jornalista faça o que quiser, mas as comparações são intelectualmente desonestas. Para que a sua tese tivesse alguma virtude, Serra teria de ter aparecido com Kassab pendurado nos ombros. Não apareceu. Vocês acharão na própria Folha articulistas indagando onde estava Serra, que teria desaparecido durante o primeiro turno. Isso gerou reportagens no jornal às pencas.

BENEVIDES - O que falta nessas comparações que você fez é a perspectiva do segundo turno: o que mais beneficiou Kassab foi a possibilidade de reeleição contra sua principal adversária, a Marta, que tinha uma enorme rejeição.
Estou doido para saber qual é a explicação da gloriosa para a rejeição a Marta... Notem que, mais um pouco, a petista Maria Victoria ainda diz a Puls: “Pô, rapaz, não seja tão radical; não queira estar à minha esquerda...”

Kassab não provocou nenhuma rejeição. Isso não significa que ele seja bom, significa que as pessoas eram indiferentes a ele. É muito mais fácil criar uma perspectiva positiva em relação a alguém que tem uma imagem indiferente do que destruir uma rejeição e transformar essa rejeição em aprovação. E Kassab apareceu muito, teve um apoio muito grande do governo Serra e também, indiretamente, do governo federal, porque Lula não quis se indispor com São Paulo. Ao contrário. Serra não tem uma queixa a fazer do Lula.
Ah, em parte, a vitória de Kassab deve ser atribuída ao presidente Lula!!! Não entendi: quer dizer que o lulismo acabou beneficiando o “udenismo” em São Paulo??? A entrevista foi mediada só por água? Sim, Kassab teve apoio do governo Serra. É uma vergonha!!! Onde já se viu??? Aliados políticos se apoiando mutuamente? Isso é coisa da direita... Mas por que Marta é tão rejeitada, professora?

FOLHA - Uma reportagem recente da Folha mostrou que a gestão Kassab recebeu mais verbas do governo Lula do que a própria gestão Marta.
É verdade, Puls. Porque há mais dinheiro disponível. E porque há mais obras com dinheiro da Prefeitura e do Estado, que demandam contrapartidas do governo federal.

BENEVIDES - Exatamente. Eu não apostaria na continuidade do Kassab, mas também não apostaria no fim. O que eu fiquei impressionada foi com os míseros 6% [dos votos] do Maluf. Os malufistas morreram...
Assim a senhora decepciona o entrevistador.

FOLHA - O populismo em São Paulo praticamente acabou?
BENEVIDES - O populismo na vertente malufista. Mas o populismo continua, sob formas clientelistas - aliás utilizadas por todos os partidos -, porque ele está muito entranhado na cultura brasileira. Não acredito que o populismo tenha acabado. E não vejo, a não ser pelo estilo mais cordato, muita diferença entre Maluf e Kassab.
Outra tese vigarista! Cadê a referência ao populismo de esquerda do petismo, espalhado pelo Brasil inteiro? Como esta senhora explica que a esmagadora maioria das Prefeituras petistas esteja em municípios pequenos, onde é forte a presença do Bolsa Família? Cadê uma reflexão sobre o desempenho bisonho do PT nas capitais? A que se deve? Associar Kassab a Maluf é mais uma das táticas petistas de caluniar de modo oblíquo. E que se note: o malufismo só está tão fraco porque Marta perdeu em 2004. Naquela eleição, ela fez um acordo formal com Maluf. Fez ou não fez, Maria Derrota Malevides?

FOLHA - A sra. diz que o Kassab se beneficiou da rejeição a Marta. Mas o que explica essa rejeição?
Opa, vamos ver. Estou doido para saber.

BENEVIDES - Há uma rejeição grande ao PT, que aumentou muitíssimo depois da crise de 2005, que decepcionou muita gente, dos meios intelectuais até uma esquerda tradicional, além de uma classe média que se sentiu abandonada, porque na realidade houve uma prioridade aos mais pobres. O problema é que o governo ficou nos extremos: favoreceu muito os muito ricos e os muito pobres, e a classe média tem motivo de ressentimento. Isso aumentou muitíssimo a rejeição ao PT.
Huuummm... Como é bom falar o que dá na telha sem compromisso com a coerência, não é? E na certeza de que o entrevistador também está pouco se lixando para o que ouve. Um partido que privilegia os muito ricos e os muito pobres não fica, assim, com uma cara meio udenista, não? E a própria Marta é vítima de muito preconceito e muita rejeição. Dela ficou o quê? O que ficou de lembrança da Marta? O "Martaxa". A prova é que ela bateu muito contra isso. O problema é que a memória da imensa maioria dos eleitores, os mais pobres e os menos politizados, é mais curta. Ah, não!!! Os dados publicados pela Folha demonstram que os mais pobres e menos politizados votaram em Marta. Se alguém foi beneficiado pela ignorância, esse alguém foi a petista. É claro que Maria Victoria não faria esse juízo tão severo sobre as vitórias de Lula. Povo, quando vota em Lula, é esclarecido; quando vota em Kassab, é ignorante.

Marta devia ter um nível de aprovação altíssimo por causa dos CEUs, mas os CEUs foram apropriados pelos outros: ninguém diz que vai abandonar os CEUs. Deixou de ser algo exclusivo do PT. E a rejeição a Marta é muito forte porque juntou a rejeição ao PT, que piorou muito em razão do que aconteceu, à rejeição a Marta, que é grande por ela ser a Marta: ela agrega rejeição por ignorância, por preconceito, pelo grupo dela no PT.
A resposta é um tanto obscura, especialmente quando remete ao “grupo dela no PT”, mas, sobre a parte compreensível, indago: se o povo rejeita o PT por causa do mensalão, ele não faz bem? Não é uma virtude? Ademais, dona Benevides, ninguém prometeu acabar com os CEUs, assim como ninguém prometeu acabar com as AMAs ou com o Cidade Limpa. Quer dizer que a “direita”, como diz a dupla, deve ser malhada por não fazer o que a esquerda gostaria que ela fizesse para, então, atacá-la. Sinto vergonha em seu lugar. Chegar aos 66 anos e não perceber a lógica capenga do raciocínio é uma coisa triste.

FOLHA - Segundo o IBGE, em 2006 a taxa de luz existia em 3.893 municípios, e a taxa do lixo, em 2.753. Ou seja, elas existem na maioria das cidades, e não causam tanta celeuma.
Quanta precisão! Pois é. Por que o PT não decidiu fazer, como se diz, uma luta política e defender a taxa, a exemplo do que faz Puls? Mas ele foi o primeiro a recuar. Retiro Puls da perplexidade: como essas taxas não existiam em São Paulo, o paulistano preferiu continuar, como direi?, sem elas. Povo só gosta de pagar taxa e imposto na cabeça de esquerdista.

BENEVIDES - E principalmente aqui em São Paulo, para a imensa maioria das pessoas, era um valor ridículo. Eu me lembro que minha faxineira veio reclamar disso, e eu perguntei quanto ela pagava de taxa de lixo. Era R$ 3. O filho dela estudava num CEU e ele ia e voltava da escola numa van da prefeitura, mas o que ficou foi a tal taxa do lixo, porque isso foi superdimensionado pelos adversários.
O raciocínio de Benevides é o mesmo que fez Lênin antes de decidir que o melhor a fazer com o povo contra-revolucionário era passar fogo. Povo é muito injusto mesmo, dona Benevides. Veja o caso de sua faxineira... A senhora doida pra fazer justiça social, enquanto ela tira o pó dos móveis, e ela se ligando a reacionários. É por isso que a esquerda revolucionária abole eleições. Para evitar que ignorantes como a faxineira de Dona Benevides impeçam a patroa de fazer a resolução social. O PT precisa urgentemente criar umas faxineiras no fundo de seu quintal ideológico para não chocar a ala intelectual do partido.

Eles foram competentes em grudar esse adesivo na Marta. E essa coisa das taxas nunca foi apresentada de uma maneira que mostrasse que ela eliminou o IPTU de muitos. Por exemplo, um de meus filhos mora hoje num prédio que ficou isento. Isso nunca foi suficientemente mostrado. Aí predominou a rejeição. E a campanha da Marta foi contaminada por equívocos de marqueteiros e assessores.
No debate da Globo, Marta afirmou que um de seus filhos adorou o túnel da avenida Cidade Jardim — uma das estrovengas caras e inúteis que o PT deixou como herança em São Paulo. Sem contar que teve de ser interditado um mês depois de inaugurado. Um pedaço estava desabando. E ele enchia d’água. Agora, é o filho da Dona Benevides que foi beneficiado com isenção de IPTU. De resto, quem impediu o PT de se defender? Esta senhora reclama do quê? De os adversários fazerem oposição ao PT!!! Ela acha isso muito feio e muito errado.

FOLHA - A sra. citou o impacto da crise de 2005. Mas, olhando o país, o PT foi quem mais cresceu na eleição.
Uau! Uma pergunta digna do nome!

BENEVIDES - Mas aí é importante ver que o PT de São Paulo não é e nunca foi o PT nacional.
Oba! Vamos ver qual é a diferença.

FOLHA - Qual é a diferença?
BENEVIDES - O PT nacional se beneficiou enormemente das políticas regionais e municipais no governo Lula. O PT no resto do Brasil está ligado a propostas e projetos locais, nos quais o conteúdo ideológico é muito pequeno, e a presença da classe média também. Essa classe média forte, organizada, com imprensa, universidades, pequenos e médios empresários, é imensamente mais forte aqui. Dificilmente existe, no resto do Brasil, essa rejeição forte e absoluta ao PT que existe em São Paulo.
Esta mulher é escandalosa! Está claro, a esta altura, que ela não gosta do resultado eleitoral de São Paulo ou da rejeição que o PT sofre aqui. Logo, ela prefere o contrário. Ela prefere o Brasil onde a classe média é fraca, desorganizada, sem imprensa, sem universidades, sem médios empresários. O bom Brasil, aquele onde viceja o PT, admite Dona Benevides, é o da ignorância, da pobreza, da mixuriquice, sem nem a imprensa para encher o saco. Dona Benevides está dizendo que gente mais esclarecida não suporta o PT. Eu acho que ela tem razão. Mas, se depender dela, tudo isso muda.

Inclusive porque São Paulo tem esses extremos: tem uma forte presença de pobres e miseráveis, mas tem a maior classe média, a maior concentração de riqueza, a maior concentração de universidades, intelectuais, empresários organizados, que atuam com muito mais força na opinião pública do que os partidos.
Sei, e o PT se mostra incompatível com as universidades, os intelectuais, os empresários organizados... Aliás, o fascismo também.

O PSDB e o PFL não são só partidos políticos: são partidos vinculados aos grupos de interesse de tudo o que é forte em São Paulo. Eles têm apoio majoritário na Fiesp, UDR, associações de empresários, instituições da sociedade civil. Basta ver que o PT sempre teve enorme dificuldade para ganhar na cidade. Ganhou com Erundina porque não tinha dois turnos, ganhou com Marta porque polarizou com Maluf.
Ué... Mas não eram partidos artificiais? Kassab não é só um boneco de Serra? Então as legendas existem? Será que é bom falar o que dá na telha? E o PT? Ele representa os interesses de quem? Terei de recontar aqui a história das empresas telefônicas no governo Lula para a gente saber quais os vínculos do partido de Maria Victoria com o empresariado? É bem possível que PSDB-DEM tenha mais relações institucionais com o empresariado do que o PT. O partido prefere relações clandestinas.

FOLHA - Ela teve inclusive o apoio do governador Covas e do PSDB.
BENEVIDES - O apoio do PSDB. E hoje o PSDB sabe que seu maior adversário é o PT. Por isso o PSDB não faria em São Paulo aliança com o PT, como foi tentado em Belo Horizonte.
Nossa! Estou chocado com a revelação. Quanto a Minas, mais vigarice intelectual! Deu-se lá a união de caciques — aquilo, sim, tem a cara de década de 50. Tanto é assim, que o PT mineiro rachou, e a turma de Patrus Ananias apoiou Leonardo Quintão.

FOLHA - É possível dizer então que o PSDB conseguiu se tornar o partido dessa classe média organizada?
BENEVIDES - Sim. O PSDB, aliás, é o partido que está no poder desde Franco Montoro, com um breve interregno. Está lá. E está fortemente instalado no governo Kassab. Por isso não dá para dizer que o kassabismo é a direita udenista. É direita, mas com muitas nuances. Direita udenista é o DNA dele: direita udenista que apoiou o golpe militar, que esteve com Maluf e Pitta. Mas a coalizão dele é muito mais ampla. Esse foi o grande trunfo dos tucanos. Como foi o grande trunfo do PT em outros Estados do Brasil.
Rá, rá, rá. Tanto volteio para chegar ao fim e desmentir a tese da própria entrevista. Sendo assim, Kassab não é, então, uma invenção, como ela disse. Maria Victoria, muito dialética, demonstra que Maria Victoria está errada. Sendo assim, então não se trata de repetição do passado, mas de uma construção presente. Quanto à ditadura militar, golpe etc... Ai, que preguiça! Se é para ser rigoroso, então o DNA da Dona Benevides é o dos assassinos da revolução francesa, do stalinismo, do maoísmo, do castrismo...
Ah, volta e meia, repito a máxima do poeta português Antero de Quental para um adversário de idade já avançada. Terei de fazê-lo de novo: Dona Maria Victoria Benevides, a senhora precisa de 50 anos a menos de idade ou de 50 a mais de reflexão.

por Reinaldo Azevedo

Mais uma "Hora do Polvo"

O jornaleco do PT, o tal "Hora do Povo", em sua edição de 24 a 28 de Outubro, tem a seguinte manchete:

Eleições em S. Paulo opõem integridade de Marta à dissimulação indecorosa de Kassab
Ele litiga de má-fé para encobrir sol com peneira

Já que o candidato Gilberto Kassab entrou com uma ação, negada pela Justiça, para apreender a edição 2.711 do HP, é bom que ele saiba que não nasceu e nem vai nascer quem possa nos calar.

A Hora do Povo completa, em 2009, 30 anos de existência. E, ao contrário de Kassab, nunca escondeu suas opiniões, pois delas muito se orgulha.

Mesmo sob a ditadura a que Kassab, diga-se de passagem, não se opôs, encontramos o caminho para difundir nossos pontos de vista e não recuamos nem com atentados à bomba, nem com a prisão de nossos colaboradores, inclusive do companheiro Cláudio Campos, fundador e diretor do jornal.

Portanto, não há de ser um sujeito no mínimo estranho, ao qual nunca demos intimidade, que vai nos ditar o que podemos e o que não podemos expressar aqui neste território livre.

Ele dispõe de mais meios do que nós para dizer o que pensa. Se não o faz é porque não é afeito a travar a luta política de frente. Mas esse é um problema dele, não nosso.

Kassab quer impedir que apoiemos Marta.

Mas o que podemos fazer?

De Marta todos sabem o que se pode esperar.

E dele?

O que se pode esperar de alguém que diz na TV que respeita muito o presidente Lula, mas deu apoio integral à grande farsa do “mensalão” cujo objetivo declarado era obter o seu impeachment?

O que se pode pensar de alguém que diz ter se afastado de Pitta, sem esclarecer que só o renegou depois dele ter saído do governo?

O que se pode dizer de alguém que fala que não vai onerar a população com impostos nem taxas, mas tenta aprovar na Câmara um projeto para instituir o pedágio urbano?

O que esperar de alguém que diz que vai implantar o ensino técnico nos CEUs, mas veta a lei que a Câmara aprovou com este objetivo e fecha os poucos cursos técnicos existentes nas escolas da Prefeitura, alegando que ensino técnico é problema do governo federal?

O que se pode dizer de um candidato que alardeia ter feito o maior investimento em transportes, quando não fez um único corredor de ônibus na cidade?

O que esperar de alguém que diz ter construído 110 AMAs, quando apenas dividiu as Unidades Básicas de Saúde entregando as suas metades à gestão de instituições privadas?

O máximo que podemos fazer por ele é recomendar que seja mais convincente ao dizer que não é gay.


Uaaaaah! Puxa vida, como algumas coisas me dão sono... Esta "reportagem" é uma delas.

Que primor, não? Os rapazes começam parecendo democratas, dizendo que ninguém vai calá-los, nem com atentados à bomba (com certeza, os quadros, digo, repórteres, do jornaleco são especialistas nisso), mas são mesmo é comunistas, daqueles bem ferrenhos, como os camaradas de Mao.

Kassab não se opôs à ditadura, com certeza. Eu também não. Eu não sou e nunca fui político. Kassab hoje o é, mas à época da ditadura militar, não era. Portanto... olha a mentira aí, gente!

Quanto a calar os quadros, ops, repórteres do jornaleco, é bom que os "cumpanhêro" sejam avisados: não se preocupem, vocês estão numa democracia. O máximo que se pode fazer é como Kassab o fez: entrar com uma ação na Justiça. Aqui não é Cuba - ainda, embora o PT esteja pressionando cada vez mais a democracia para fazer um regime igual ao da ilha-cárcere -, onde só podem circular os jornais oficiais do governo (e, aí, certamente, vocês serão calados; nem que seja no "paredón" ou numa prisão fétida sofrendo tortura merdácea).

Mas o mais duro de tudo é que eles dizem que Kassab deu apoio à "farsa" do mensalão. Ué? Até o próprio PT havia concordado que eram os "aloprados" que haviam feito o mensalão - embora Lula, recentemente, tenha dito que o mensalão nunca existiu e que era intriga "dazopozissão". E o presiMente, que era o chefão de tudo

O que eles "esquecem" é que a Marta Favre - a pobre proletaria que mora e freqüenta as mais altas rodas sociais dos Jardins, porque ficou cheia da grana de Eduardo Matarazzo Suplicy, o "Morto", ex-marido de Marta - pertence àquele partidinho safado chamado PT, e, portanto, sustenta todas as vergonhosas trapaças feitas: mensalão, cuecão, vampiros, aloprados, dossiê FHC, dossiê Serra etc.

Quanto ao fato de que o máximo que podem fazer por ele é recomendar que Kassab seja mais convincente ao dizer que não é gay, só se pode lamentar uma frase dessas. Sim, porque os petralhas são tidos como os defensores das causas gays - exceto, é claro, quando não interessa ao partido. Se ele é gay ou não, em nada interessa à população. Com certeza isso não afeta a honradez, a ética, a moral de Kassab, três coisas que os quadros do PT - e do jornaleco em questão - jamais conhecerão. Pois estas três coisas, para os esquerdistas, só servem para manipular a massa de manobra que os seguem.

Mas assim é que são as esquerdas: não suportam falar a Verdade. Têm que mentir sempre... Por isso é que o socialismo utópico é e sempre foi uma mentira: porque somente o socialismo real existiu e é contra ele que devemos continuar lutando.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Cuidado! É PT em Estado Puro

O presidente do PT, Ricardo Berzoini — que chamo Berzoniev em razão de seu físico, digamos assim, soviético —, escreveu um artigo na Folha de S. Paulo acusando a oposição de torcer pelo “quanto pior, melhor”. Trata-se de uma mentira deslavada, repetida ontem pelo Apedeutakoba. Ao contrário: não vi, até agora, PSDB, DEM e PPS tirarem a mínima casquinha que seja da crise, nada! E não que não pudessem. As medidas adotadas até agora pelo governo não contam, como é natural, com a unanimidade.

Mas quê...Quando, à esteira de umas das seis crises que enfrentou, o governo FHC desvalorizou o real, o agora ministro da Justiça, Tarso Genro, cobrou, em artigo em jornal, a sua renúncia e realização de novas eleições. O texto foi publicado na Folha no dia 19 de janeiro de 1999 — sim, 19 dias depois de o presidente, reeleito no primeiro turno, ter tomado posse.

Uma das muitas diferenças entre o PT e os partidos que estão hoje na oposição é esta: por mais severa que a crise venha a ser, por mais que o país venha a sofrer os impactos negativos de uma provável recessão mundial, nenhum partido a tanto se atreveria. Porque sabem que os principais fatores da crise externa independem de medidas que possam ser adotadas aqui; o Brasil será, quando muito, reativo. É assim agora e era assim nos dois mandatos tucanos. Imaginem: nem quando os próprios petistas achavam que Lula seria impichado as oposições fizeram tal escolha.

Não! Não há exploração da crise coisa nenhuma. Lula e o PT estão é trabalhando com dois cenários e se protegendo de antemão:

1º - a crise será relativamente mansa para o Brasil – Dirão: "Apesar de a oposição torcer contra, Lula agiu, e tudo deu certo";

2º - a crise devasta a economia – "Lula não tem nada com isso; culpa dos especuladores e dos americanos. E a oposição ainda torce contra."

O leitor poderá dizer que política é assim mesmo. Não é, não! Isso é política que decide se exercitar sem o concurso da ética. Quem torcia para que tudo desse errado para, então, aniquilar os adversários eram os petistas. E torcem ainda. E provo o que digo.

Vejam a questão da Polícia Civil de São Paulo. Os agentes penitenciários de Catanduvas, presídio federal, estão em greve. Tarso Genro mandou pra lá a Força Nacional de Segurança e exige o fim da greve para negociar. Mas ele recebe lideranças sindicais da polícia civil que promoveram baderna armada. É assim que age o PT quando está no governo e quando está na oposição.

por Reinaldo Azevedo

Socialismo do Século XXI no Brasil - Passos Lentos e Seguros

Principal mentor do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), quando foi presidente do Banco Central (BC) entre 1995 e 1997, o economista Gustavo Loyola considera que a Medida Provisória nº 443 trouxe confusão, não é necessária e dá sinais estatizantes. Para Loyola, o Brasil tem um mercado bancário sólido, e a crise é mais de liquidez e localizada no mercado de câmbio e nos bancos pequenos e médios.

A MP 443 permitiu que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comprassem ações e o controle de bancos privados, de outras instituições financeiras e de alguns tipos de empresa (como da construção civil). O Proer foi o programa que facilitou a intervenção em bancos abalados pelo fim da inflação após o Plano Real, como Bamerindus e Nacional, que foram em parte vendidos para, respectivamente, HSBC e Unibanco.

Loyola, que é sócio da Tendências Consultoria Integrada, critica a ofensiva na Justiça contra ex-dirigentes do BC envolvidos em ações para evitar crises sistêmicas, seja durante sua gestão, seja na desvalorização de 1999. Para ele, esses riscos pessoais podem inibir as autoridades econômicas na hora de tomar decisões para evitar crises bancárias. O economista acha que isso pode ter influenciado a decisão de fazer do BB e da Caixa os responsáveis por comprar bancos em dificuldade, tirando do BC a responsabilidade. A seguir, a entrevista:

O sr. é muito identificado com o Proer, e foi muito criticado pela esquerda na época. Como o sr. avalia o programa à luz da atual crise?
É interessante observar, fora do Brasil, os volumes imensos de recursos que os governos estão colocando na mesa para evitar uma crise sistêmica. O que mostra que as críticas contra o Proer eram injustas é exatamente isto - o governo brasileiro na época fez o possível e conseguiu evitar uma crise sistêmica no Brasil, com um programa que foi reconhecido como eficiente e relativamente barato. E isso recebeu tratamento de muita gente como se tivesse sido uma maneira de passar dinheiro para banqueiro. Eu gostaria de acrescentar também o episódio da desvalorização que o Banco Central fez em 1999, quando o Chico Lopes era presidente do BC, mas esse caso foi considerado um escândalo na época.

Bem, o fundamental na história foi que o Banco Central procurou evitar que a crise cambial fosse acrescida de uma crise bancária sistêmica. E eles tinham razão para agir assim. Certamente, é uma injustiça que ex-dirigentes do BC até hoje estejam respondendo penalmente pelas decisões que tomaram para evitar uma crise sistêmica.

O temor desse tipo de conseqüência pode ter influenciado o BC atual a empurrar para o Banco do Brasil e a Caixa a tarefa de salvar eventuais bancos que tenham problemas?
Eu acho que sim, mas é claro que só os dirigentes do Banco Central poderiam responder a essa pergunta. O que posso dizer é que eu, se estivesse lá, faria exatamente isso. Me parece nítida a preocupação que os dirigentes hoje têm de minimizar o risco pessoal nesse tipo de ação. A experiência dos dirigentes anteriores aconselha esta prudência.

O sr. já foi processado por suas decisões como presidente do BC?
Graças a Deus, não tenho processos penais. Mas existem processos contra mim , e inclusive iniciados por dirigentes do PT, como o Ricardo Berzoini (presidente nacional do PT).

Este assédio legal em razão de decisões tomadas no BC podem atrapalhar na hora de lidar com riscos sistêmicos?
Sim. O fato de autoridades públicas ficarem sujeitas a processos muitas vezes por razões puramente políticas coloca um custo pessoal muito alto sobre o funcionário público, e isso pode levá-lo a não tomar decisões que precisaria tomar. Essa crise internacional, depois que deixaram o Lehman Brothers quebrar, deve estar finalmente mostrando a muita gente que risco sistêmico existe de verdade, não é invenção.

Deixar o Lehman Brothers quebrar foi um erro?
Foi um erro grosseiro. Uma das regras principais para se lidar com o risco de crises desse tipo é a não liquidar bancos com importância sistêmica, a não ser que se consiga mapear e isolar de forma adequada todos os reflexos que a quebra daquele banco possa ter sobre o restante do sistema.

Há risco de o Brasil ter uma crise bancária neste momento?
O Brasil tem um mercado bancário sólido. A crise é mais de liquidez e localizada, basicamente no mercado de câmbio e em bancos médios e pequenos.

Se os bancos brasileiros estão bem, por que há tanto nervosismo em relação a isso?
Está se criando um ambiente de muito ruído, que foi aumentado por algumas intervenções e declarações do governo que trouxeram mais apreensão do mercado. A Medida Provisória 443 trouxe incerteza. O governo insiste que há um problema só de liquidez, e depois lança uma medida que tem a ver com a aquisição de bancos. Se o problema é de liquidez, não tem que fazer aquisição de bancos ou de ações de bancos, como foi feito em outros países. Eu não vejo o sistema brasileiro precisando disso, e o governo, com essa medida, levantou essa possibilidade.

Então a 443 não é necessária?
Tudo indica que não. A medida causou mais rebuliço no mercado, mais desconfiança. Ela não teve objetivo muito claro e jogou uma suspeição sobre tudo e todos. Do jeito que foi divulgado, acenou-se para uma estatização maior do setor bancário, enquanto na Europa e nos Estados Unidos se fala de um aumento temporário da participação dos governos no setor como acionistas, mas vinculado à resolução da crise. A 443 acabou aparentando um viés ideológico de estatização que não é desejável.

O sr. é contra o aumento da presença do setor público no sistema bancário?
Não sei se é bom, a médio e longo prazos, concentrar mais o sistema nas mãos dos bancos públicos. Até porque, no programa de reestruturação do sistema financeiro de 1995 a 1998, se gastou muito mais com os bancos públicos do que com os bancos privados.

por Fernando Dantas, no Estadão On-Line, em 26/10/2008

Qual a frase chave da entrevista? Simples: "A 443 acabou aparentando um viés ideológico de estatização..." E por quê isto?

Não devemos nos esquecer que Lula é po PT. E o PT é um partido com um viés ideológico totalmente socialista, nos moldes da extinta URSS e de Cuba, embora seu site diga que o PT quer promover um "socialismo democrático", uma pataquada sem tamanho que só os néscios do partido - a massa de manobra, como eles mesmos dizem - crêem.

Não devemos nos esquecer, também, que o PT foi um dos fundadores da entidade chamada Foro de São Paulo, fundada em 1990 por nada mais, nada menos que o próprio Lula e Fidel Castro, o ditador da ilha-cárcere. Esta entidade congrega o que há de pior no sub-continente: Fidel, Lula, Chávez, Evo, Correa, Kirshner, o MIR, as FARC etc., ou seja, praticamente todos os grupos de esquerda - de todos os matizes socialistas/comunistas - que querem transformar a América Latina naquilo que se perdeu no Leste Europeu, segundo o documento de abertura do 1o. Foro de São Paulo, ou seja, a própria "mãe rússia".

Assim, nada menos surpreendente que esta MP: Lula estaria, aparentemente, salvando os pequenos bancos da bancarrota, além de evitar que seus correntistas sofressem com sua quebradeira e, segundo o governo, resoveria o problema de liquidez dos bancos.

Mas não. Como sempre, as esquerdas pensam que todos somos tolos. Mesmo aqueles que não conhecem o pensamento delas, podem ver, como viu Gustavo Loyola, o viés estatizante da medida, característica mais marcante nas idéias PeTelhas.

Porém, diferentemente de Hugo Chávez, Evo Moralez e Rafael Correa, Lula e o PT vêm paulatinamente transformando a nação, de forma que, cada vez mais, a população aceite a idéia do socialismo, numa clara referência à atuação sugerida por Antônio Gramsci, ao invés do modo truculento de seus comparsa de Foro, que atuam mais à moda estalinista.

A idéia é, sim, estatizar cada vez mais. Principalmente o sistema bancário, pois tendo este sob o controle governamental, ficará mais fácil estatizar o restante das empresas e propriedades privadas.

E nada melhor do que uma crise econômica em escala mundial, como a que estamos vivendo, para dar a desculpa perfeita para o plano quase perfeito. Como sempre, eles não contam que há pessoas que são contra - a maioria -, uma vez que tal MP é inconstitucional e já está sendo contestada pelos homens de bem deste país - aqueles que são respeitadores da democracia e do Estado de Direito.

Crime Eleitoral

O presidente Lula pode ser acusado de crime eleitoral por haver permitido que seu neto votasse por ele, esta manhã, em uma escola de São Bernardo do Campo (SP), próxima à sua antiga residência. Diante das câmeras, com direito a transmissão ao vivo até pela Rede Globo, ele fez Tiago, 11, digitar o voto dele, nas urnas eletrônica. Lula apenas observou. Além disso, ele se fez acompanhar à sala de votação pelo ex-ministro da Previdência Luiz Marinho (PT), seu candidato a prefeito, e do respectivo vice, deputado e cantor Frank Aguiar (PTB). D. Marisa, sua mulher, vestia uma camiseta vermelha com a logomarca petista.
Por Cláudio Humberto

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Somos a Elite, Sim. E Com Muita Honra!

Se você se formou em alguma faculdade; se você, por acaso, aprendeu mais de um idioma; se você é um profissional liberal bem-sucedido ou ocupa um cargo elevado na empresa em que trabalha, cuidado. Esconda os seus diplomas no armário, jamais torne a usar os seus ternos sob medida e trate de comprar um carro velho ou popular.

Demonstrar mérito ou ostentar sinais de prosperidade, no Brasil, agora é pecado. Essas coisas significam que você faz parte das nossas pérfidas elites e, portanto, carrega consigo grande parte da culpa pela miséria em que vive razoável parcela da população.

É curioso. Eu nunca interpretei o termo elite por um ângulo pejorativo. Ao contrário. Elite*, para mim, sempre significou os melhores dentre os melhores em cada área. Há a elite dos empresários, como existe a elite dos médicos, a dos políticos ou a dos advogados.

Com exceção de parcela da elite econômica, cujo patrimônio veio por hereditariedade, ninguém vem a ser reconhecido como membro de alguma elite se não demonstrar mérito, talento e empenho pessoal. São todos pessoas de peso, merecedoras da admiração geral. Ou, pelo menos, era assim até a chegada da companheirada ao poder, há quase cinco anos.

Confesso que não me surpreendi com essa total inversão de valores. Quando cursava a faculdade, em meados dos anos 1970, um dos mitos mais caros do pensamento esquerdista era o que pregava que todas as mazelas do Brasil eram culpa exclusiva de suas execráveis elites.

O povo em geral, os cidadãos humildes, era puro de alma, solidário por natureza e sempre pronto a empenhar o melhor de si em prol da coletividade. Mas ele não tinha chance de fazê-lo porque as elites, egoístas e gananciosas, não lhe davam oportunidade. É mais ou menos a forma como os marxistas tradicionais idealizavam a classe burguesa. Elimine-se a burguesia e os seus valores, e a sociedade, quase que naturalmente, se tornará justa, fraterna, cooperativa e voltada para o bem comum.

Quatro décadas depois, mesmo com a utopia comunista já devidamente sepultada, alguns cacoetes do pensamento esquerdista ainda remanescem. Um deles é este da dicotomia entre um povo bom e generoso e uma elite perversa e individualista.

Todo raciocínio simplista é eivado de contradições. Os companheiros ainda não se deram conta de que, uma vez no poder - e com amplo controle sobre o Congresso -, são eles, agora, a elite política do País.

E elite não no sentido de mérito, como referido acima, mas, sim, pelo fato de que são eles a classe dominante da Nação. Embora execre as elites, essa gente, paradoxalmente, faz parte delas há muito tempo. Desde o final dos anos 70, são eles, incontestavelmente, que compõem a elite sindical do proletariado deste país.

Sempre ocupando cargos na diretoria dos sindicatos, boa parte desse pessoal nunca trabalhou, de fato, no chão das fábricas. Além disso, em função de seus postos na burocracia sindical, eles sempre perceberam vencimentos integrais e gozaram de estabilidade absoluta no emprego, algo que nem os mais renomados membros das demais elites jamais ousaram sonhar.

Paladinos dos miseráveis, pobres, por sua vez, eles nunca foram. Com salários nunca menores que o equivalente a sete ou dez salários mínimos, todos eles sempre lograram possuir casa própria e automóvel, o que os classificaria, no mínimo, como classe média.

Por que, então, esse ódio às elites e a tudo o que elas representam? Note-se aqui que o designativo elite não vale apenas para o topo da pirâmide social, mas abrange, também, toda e qualquer pessoa que demonstre auferir rendimentos acima da média, tenha algum estudo e cultue hábitos minimamente refinados.

A contraditória 'elite antielites' que nos governa não se dá conta de que, se Lula pode dar-se ao luxo de distribuir o Bolsa-Família a 11 milhões de famílias, isso só é possível graças aos escorchantes impostos que as nossas odiáveis 'elites' recolhem ao Tesouro. A carga tributária que incide sobre a classe média é proporcionalmente muito maior do que a do resto dasociedade. Os petistas que me perdoem, mas eu sempre tive e terei orgulho de fazer parte dessas elites que eles tanto condenam.

São essas elites que formam o sal da terra de toda e qualquer sociedade. São elas que produzem riquezas, criam valor e fazem a economia andar. Devemos a elas o fato de, graças a sua especialização, a sociedade poder oferecer serviços de qualidade em todas as áreas do conhecimento. São elas que, pelo hábito de ler livros e jornais, compõem a opinião pública de uma nação.

Se o presidente Lula não quis estudar (tempo ele teve para isso), é um problema exclusivamente dele. Mas que não venha a nós fazer proselitismo de sua insuficiência acadêmica. Que não tente, por seu exemplo pessoal, influenciar os nossos filhos no sentido de que a indigência cultural é uma virtude e que o pouco saber é uma ferramenta útil para preservar a pureza e as boas intenções das pessoas.

Paralelos de obscurantismo, na História, nós só encontramos na Revolução Cultural chinesa, quando, a partir de 1964, Mao, em seus delírios, decidiu humilhar e 'reeducar' todos os chineses que tinham um grau mínimo de instrução. O resultado, como era de esperar, foi desastroso. Após 14 anos, os mentores da tal 'revolução' foram todos para a cadeia; Deng Xiaoping, com a inestimável ajuda dos antigos intelectuais, logrou reerguer a nação e a China, hoje, é o país que mais leva o ensino a sério e envia estudantes para aperfeiçoamento no exterior.

Somos elite, sim, sr. Lula, e com muito orgulho. Nós lutamos para chegar lá. Somos esforçados, esclarecidos e, sobretudo, independentes. É por isso que nós sempre relutamos em sufragar o seu nome. A nós nos repugna a idéia de alienar os nossos votos a troco de uma mesada de alguns poucos reais.

por João Mellão Neto

*Elite, do francês Élite, significa o que há de melhor numa sociedade ou num grupo.