segunda-feira, 26 de maio de 2008

Notícias do Foro: As FARC Ainda Estão Lá!

Se não fosse por dois fatores, o Foro de São Paulo, um encontro anual de esquerdistas latino-americanos, seria apenas mais uma oportunidade para debater sobre medidas que jamais sairão do papel e para perpetuar a desgastada retórica de que a culpa pela pobreza latino-americana é dos Estados Unidos e do neoliberalismo. O primeiro fator que faz do Foro de São Paulo merecedor de atenção é que muitas das organizações políticas que dele fazem parte estão no poder -- ou formam a base de apoio do governo -- em mais de uma dezena de países da América Latina. O segundo é que o Foro tornou-se o centro de uma contradição que divide e remói a esquerda latino-americana: a incapacidade de se posicionar de maneira firme contra as violações de direitos humanos cometidas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), um grupo que esteve presente em boa parte dos dezoito anos de existência do Foro.
Equilibrando esses dois estigmas, começou nesta quinta-feira um novo encontro do Foro de São Paulo, desta vez em Montevidéu, no Uruguai (o último foi em El Salvador). O evento termina no domingo, dia 25. Em um hotel de frente para o Rio de la Plata, cerca de 30 pessoas, representantes de alguns dos principais partidos de esquerda da região, fizeram uma reunião do chamado Grupo de Trabalho – espécie de cúpula diretiva do Foro de São Paulo. A discussão foi presidida por Valter Pomar, secretário de relações internacionais do Partido dos Trabalhadores brasileiro e secretário-executivo do Foro de São Paulo. Como a entidade não tem uma estrutura hierárquica com presidente e diretores, isso faz de Pomar uma espécie de comandante-en-jefe do Foro. Logo após a reunião, que aconteceu a portas fechadas e durou pouco mais de três horas, Pomar concedeu uma entrevista à reportagem de VEJA no bar do hotel, enquanto se deliciava com as bolachinhas que acompanhavam sua xícara de café com leite.
VEJA - É verdadeira a notícia de que as Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN) serão impedidos de ser membros do Foro de São Paulo, a partir deste encontro em Montevidéu?
Pomar - Não existe uma filiação ao Foro. Nenhum desses grupos, portanto, pode ser chamado de membro do Foro. Basta se inscrever e vir participar. Assim como você se inscreveu e está aqui.
Eu estou aqui como jornalista, é diferente.
Seja como for, você não vai ver ninguém das Farc aqui porque a inscrição de qualquer grupo que queira participar do Foro é submetida à aprovação dos partidos que fazem parte do Grupo de Trabalho. Se o PP [Partido Progressista] brasileiro resolvesse se inscrever, por exemplo, certamente não seria aceito porque o PT barraria. Se as Farc quisessem se inscrever, o que aconteceria? O PDA [Polo Democratico Alternativo, do ex-candidato à presidência Carlos Gaviria], da Colômbia faria o quê? O que você acha que faria?
Não sei.
Não permitiria, claro.
Quando as Farc deixaram de participar do Foro?
As guerrilhas colombianas - não apenas as Farc, veja bem, porque há outros grupos - há muitos anos deixaram de vir, até porque a situação da guerra não lhes permite. Na década de 90 havia uma situação de negociação das Farc com o governo e naquele período a presença delas em eventos na região era pública e notória.
O texto de convocação do Foro em Montevidéu fala em combate à corrupção e ao narcotráfico. Trata-se de um mensagem velada às Farc de que não são bem-vindas?
Não, não é nenhuma mensagem velada. Este tema está no texto porque nos preocupa. O narcotráfico é um problema para a região e, portanto, também o é para a esquerda. Eu vejo a Colômbia da seguinte forma: o problema lá não são as Farc em si, é a guerra. Trata-se de um conflito que tem como atores o estado colombiano, os paramilitares e a guerrilha. Classificar as Farc de terrorista significa tratá-las como um grupo criminoso, e ninguém negocia com criminosos. Só que para solucionar a guerra na Colômbia, é preciso negociar. Não é a solução que o atual governo colombiano quer, que é matar a todos. A guerra colombiana tem 40 anos e os grupos guerrilheiros estão nesse contexto histórico. Não concordo com seus métodos, mas não se trata de uma guerrilha artificial. Ela tem causas sociais e políticas.
As Farc tem como meta derrubar pelas armas um governo democraticamente eleito. No texto de convocação do Foro há claramente a defesa da via eleitoral para chegar ao poder. Trata-se de uma tentativa de o Foro se posicionar a respeito da questão das Farc, com seus métodos de seqüestro, tortura e mortes?
Essa posição acompanha o Foro desde sua fundação. Nós tentamos deixar claro que a via eleitoral é o caminho. Mas a realidade colombiana é complexa. Os interessados em manter a guerra como está são a direita colombiana, que tem ligações com os paramilitares e o narcotráfico, e os Estados Unidos, que assim tem uma justificativa para sua presença militar na região. É preciso negociar.
Uma vez que não se deve classificar as Farc como criminosas e que é legítimo negociar com seus membros, nada impede que o grupo tenha ligações com outras organizações da região. Nesse sentido, o PT mantém algum tipo de relação com as Farc?
O PT, como instituição, não tem nenhum relação com as Farc. Se algum membro do PT, como pessoa, tem alguma relação, é por sua conta e risco. Eu não sei de ninguém que tenha contato com as Farc, nem de ouvir falar. Quando prenderam aquele padre, o Olivério Medina, houve alguns membros do partido que assinaram uma petição para que ele não fosse extraditado, mas ali é outro caso, tratava-se de uma questão de direitos humanos.

A reportagem de VEJA foi "convidada a se retirar" de uma das reuniões do Foro de São Paulo, nesta sexta, em Montevidéu. Tratava-se de uma das quatro oficinas com temáticas regionais que aconteciam simultaneamente na parte da manhã. A reportagem assistia à oficina "Andino Amazônica" – em que Ricardo Patiño, ministro de Coordenação Política do Equador, explicava que o ataque que matou o terrorista colombiano Raúl Reyes em território equatoriano havia sido feito com aviões americanos, e não colombianos, como divulgado –, quando um segurança abordou o jornalista e pediu que se retirasse do local.
Curiosamente, a abordagem aconteceu poucos segundos depois de Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT e secretário-geral do Foro de São Paulo, avistar o jornalista de VEJA na platéia. Em seguida, ele saiu da sala, provavelmente para avisar ao segurança. A justificativa é que a imprensa não poderia participar daquela oficina.
A regra, pelo visto, só valia para VEJA: nos corredores do Foro, a reportagem conversou depois com quatro jornalistas uruguaios e um mexicano e todos garantiram que entravam e saíam livremente das reuniões, sem serem importunados. Em algumas salas, equipes de TV da Telesur e de um canal local registravam os debates livremente. Os seguranças foram orientados a manter a reportagem de VEJA longe das salas em que ocorriam as oficinas. O Foro de São Paulo vai até domingo, dia 25, e reúne cerca de 500 representantes de organizações e partidos de esquerda da América Latina.

Por Diogo Schelp, de Montevidéu, em 23/05/2008 na Veja

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão presentes no Foro de São Paulo. Não, não há nenhum terrorista com uma credencial onde se lê “Farc-EP” andando pelos corredores do Edifício do Mercosul, em Montevidéu, onde ocorre o encontro. Mas a cada vez que algum dos participantes toma a palavra nos debates e toca no assunto Colômbia, percebe-se a presença das Farc – na forma de argumentos que tentam justificar sua existência e na incapacidade de condenar com firmeza os crimes cometidos pelo grupo.
Representantes das Farc já participaram em várias edições do Foro de São Paulo. Há muitos anos se sabe que o grupo tem ligações com o narcotráfico, vale-se de métodos desumanos de recrutamento e mantém centenas de pessoas seqüestradas. Há poucos meses, no entanto, os detalhes desses crimes e a maneira atroz como os seqüestrados são tratados vieram à tona e ficou impossível para quem apoiava as Farc negar os seus crimes. Nesse contexto, seria de esperar que o Foro de São Paulo se manifestasse de maneira contundente e inequívoca contra o grupo que já fez parte de suas fileiras. Não é o que está acontecendo. No plenário que ocorreu no sábado, dia 24, à tarde, por exemplo, um representante do PRD (o partido de Lopez Obrador, ex-candidato presidencial no México) fez um discurso em que disse: "Queremos que as Farc sejam reconhecidas como força beligerante, para que possam ter participação política no processo colombiano." É exatamente o que as Farc querem e é exatamente o que o presidente venezuelano Hugo Chávez tem defendido desde que ficou evidente seu vínculo com o grupo.
Crítica – A única crítica contra as Farc, até agora, foi feita por Carlos Gaviria, ex-candidato à presidência da Colômbia pelo Pólo Democrático Alternativo. Mas Gaviria restringiu-se a dizer que discorda dos métodos dos grupos armados colombianos e em nenhum momento citou as Farc nominalmente. Ao final, relativizou os crimes dos terroristas dando a entender que eles têm motivação social. Eis alguns trechos do discurso:
"Temos uma dificuldade, que é a luta armada. Para nós, consiste em um desgaste de energia permanente cada vez que temos que manifestar que não concordamos com a luta armada. De que é preciso buscar a conformação de uma sociedade democrática pela via do debate público, pela via eleitoral. Eu sempre acreditei que essa é a única via para conseguir as reformas substanciais que nossas sociedades necessitam. Há alguns anos, éramos taxados de utópicos por isso. Eu, que tenho feito uso de uma ética incompatível com o uso da força e de uma filosofia política que se orienta dessa mesma forma, tenho que estar permanentemente fazendo esse tipo de manifestação. Que desgaste tão inútil de energia! Agora mesmo, aqui, um jornalista me perguntava se eu deploro os crimes cometidos pela guerrilha ou pela insurgência na Colômbia. Incomoda-me que me façam essa pergunta. Toda a minha vida estive comprometido com a defesa dos direitos humanos, e o Pólo também está."
"A luta insurgente, com seus atos rechaçados por toda a sociedade, tem contribuído para dar mais estabilidade ao regime [de Uribe]."
"Hoje, eu acho que os utópicos são os que acham que na América Latina pode triunfar um movimento armado. De maneira que não unicamente por razões de ética de filosofia política, como também por questão de viabilidade, esta via está descartada para nós."
"Mas o que faz o governo? Todos os dias, nega que haja um conflito armado na Colômbia. Claro que tem que negá-la, porque se assume, a pergunta seguinte é: e quais são os fatores que geraram esse conflito? Entre esses fatores, é preciso enumerar a pobreza, a distribuição desigual da riqueza, a exclusão, e o governo não quer saber nada disso. Então nega a existência de um conflito armado, contra toda a evidência. Temos que identificar qual é o nosso verdadeiro adversário e não gastar energia destroçando-nos entre nós mesmos."
Mentiras – Segundo explicou a VEJA María Belela Herrera, uma ativa participante do foro que até recentemente ocupava o cargo de vice-chanceler no governo do presidente uruguaio Tabaré Vazquez, as Farc não comparecem ao encontro esquerdista desde sua última edição brasileira, em 2005. Antes disso, os terroristas não só participavam dos encontros do Foro de São Paulo, como faziam intervenções freqüentes nos debates – em geral para contar mentiras, como dizer que não têm ligação com o narcotráfico.
No encontro em Montevidéu, por exemplo, está à venda um livro chamado "Debates e propostas da esquerda para o século XXI" que contém o conteúdo das principais discussões ocorridas no sétimo e no oitavo encontros do foro. Está lá, por exemplo, o conteúdo de uma oficina com o tema "O narcotráfico na América Latina e no Caribe", em que os representantes das Farc conseguiram que fosse incluído, no documento final do debate, um texto de Raúl Reyes, do Secretariado do Estado Maior Central das Farc. Sim, trata-se do mesmo Reyes que foi morto por uma operação do exército colombiano, este ano.
Eis um trecho de seu texto: "É necessário repetir que as Farc-EP não compartilha, não negocia, não tem relação com o narcotráfico, que rechaçamos por princípio e por ética, porque é incompatível com a democracia e a convivência cidadã", etc. Em outra oficina, com o tema de "Negociação e processos de paz na América Latina", há um resumo do discurso feito por um dos terroristas. Eis um trecho curto: "Por último tomou a palavra Marco Leon Calarcá, representante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP), que afirmou que não pode existir uma verdadeira paz se forem mantidas as condições de miséria e injustiça que sofre o povo colombiano." Guarda uma certa semelhança com parte do discurso feito no atual encontro por Gavíria.

Por Diogo Schelp, de Montevidéu, em 24/05/2008 na Veja


Talvez não fosse necessário, mas vamos lá, eu comento algumas falas dos esquerdistas:
A entrevista de Valter Pomar é, como sempre, mentirosa. Primeiro porque existe uma filiação, sim; há partidos e “grupos” filiados como membros sim, senão, por que o PT iria colocar em seu site uma Lista de Membros atualizada? Observem que nesta lista constam 74 partidos e grupos subversivos, que têm direito a voz e voto nas deliberações. Então, como não são membros? Eles tiveram o cuidado de retirar os grupos guerrilheiros porque, com as revelações dos computadores de Raúl Reyes, ninguém quer aparecer comprometido com este bando terrorista.
E dizer que os petistas nada têm a ver com as FARC é a mais pura "cara de pau". Há muitos anos sabe-se de suas ligações. Já até tiveram escritório regional aqui no Brasil, patrocinado por Palocci, e o site do partido já dedicou páginas às cartas enviadas pelo organização narco-terrorista e às saudações e apoio às atividades das FARC. Até o próprio Reyes admitiu isso, numa entrevista ao repórter Fábio Maisonnave da Folha de São Paulo, em 2003. Além disso, o fato de não estarem lá, não significa que não são mais membros ativos. Mas é da prática marxista: minta, minta, minta até que a mentira se incuta como verdade nos incautos e desmemoriados.
Há quase quarenta anos as FARC solapam a democracia na Colômbia. Há quase quarenta anos vem-se discutindo com as FARC, que cada vez rouba mais, assassina mais, seqüestra mais e exige cada vez mais "territórios desmilitarizados" que ficam sob seu poder, sem que o povo colombiano possa fazer algo, exceto pagar pela sua sobrevivência às frentes da guerrilha que dominam tais territórios. E as únicas "causas políticas e sociais" das FARC são aquelas que querem implantar a "ditadura do proletariado", com eles governando todo o país.
Assim, somente a coragem para enfrentar a situação como uma verdadeira guerra, de parte de Uribe, que já matou Reyes, o número dois do comando das FARC, e agora conseguiu matar Marulanda, o número um, é que faz com que as FARC estejam se desmantelando. E por isso - e somente por isso - elas não vem comparecendo aos encontros do Foro.
Pomar, depois, numa oficina do Foro, mostraria o lado democrático das esquerdas: fazendo com que a segurança do local expulsasse um répórter que ainda não foi cooptado pelas falácias esquerdistas!

Também a fala de Gavíria é sintomática: a condenação da luta armada, conforme os ensinamentos de Marx e Engels em seu Manifesto Comunista, em troca da "via democrática" conforme Gramsci. Vejamos novamente: "A luta insurgente, com seus atos rechaçados por toda a sociedade, tem contribuído para dar mais estabilidade ao regime. Hoje, eu acho que os utópicos são os que acham que na América Latina pode triunfar um movimento armado. De maneira que não unicamente por razões de ética de filosofia política, como também por questão de viabilidade, esta via está descartada para nós. Mas o que faz o governo? Todos os dias, nega que haja um conflito armado na Colômbia (...)"
A "luta insurgente" - esse pessoal das esquerdas sempre com suas palavras diferentes, como ensinou Gramsci, para uma coisa que todo o resto do planeta chama por outro nome (terrorismo) - sempre foi rechaçada por toda a sociedade - pelo menos aquela que está ao lado do bem.
E veja, ele somente condena a luta armada or uma "questão de viabilidade", caso contrário... Claro, a via democrática é bem mais demorada para a tomada do poder e a instauração da "ditadura do proletariado".
A última parte é ainda mais reveladora da prontidão que estes "vermelhos" têm para a mentira: o governo colombiano não nega, em nenhum momento, que haja um conflito armado na colômbia. Tanto que quer que seja dado o verdadeiro nome aos bois: as FARC são terroristas e não podem, nem devem, ter outra alcunha. E os combate com as mesmas armas que eles usam: à bala!

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