segunda-feira, 12 de maio de 2008

As FARC no Brasil

No início da década de 1990, a esquerda brasileira foi decisiva na criação do chamado Foro de São Paulo, uma espécie de organização que reúne as esquerdas da América Latina.
Na época, além de representantes de partidos políticos, participaram também integrantes de movimentos sociais e guerrilheiros da região, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Farc.
As FARC são uma organização de tipo totalitário, formada nos moldes da concepção socialista, que propugnava pela servidão dos povos via a conquista violenta do poder. Acostumando-se com a máxima marxista de que os fins justificam os meios, fez uso corriqueiro de seqüestros e do tráfico de drogas. Afetada essencialmente por esses meios, tornou-se um bando de criminosos que procura simplesmente se reproduzir fisicamente, mantendo o seu objetivo de derrubar o Estado colombiano, erigindo-se em um "Estado" dentro do Estado.
São históricos e profundos os laços que unem a guerrilha e a esquerda brasileira. Com a chegada ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, essas relações se tornaram mais discretas por um lado, e mais intensas por outro.
O Foro de São Paulo nasceu em julho de 90, mas foi concebido em janeiro de 89, em reunião de cúpula do PC de Cuba e PT do Brasil, onde ficou estabelecido que, se Lula não ganhasse as eleições em novembro de 89, deveria ser formada uma organização para coordenar toda a esquerda continental, cabendo a Lula a liderança do processo. O projeto principal era "conquistar, na AL, uma espécie de contrapartida, do que já se antevia, nessa reunião, ou seja, o que a URSS iria perder o leste europeu". Com a vitória de Collor, foi organizada a primeira reunião da esquerda continental no Hotel Danúbio em SP. Sua criação, entretanto, foi precedida de algumas visitas estratégicas a Itaici, sede dos encontros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), articuladas por Frei Betto, levando a cúpula do Partido Comunista Cubano, que viera à fundação do Foro, a uma reunião com o Cardeal Evaristo Arns, da qual veio a ser enviada carta de simpatia ao ditador Fidel Castro. Compareceram representantes de 48 partidos comunistas e grupos terroristas convidados por Marco Aurélio Garcia, a mando de Fidel. Estava fundado o Foro, organização que, desde então, coordena toda a esquerda na região. Os co-Presidentes são Fidel Castro e Lula, e Garcia é o Secretário Executivo e ocupa um dos principais gabinetes vizinhos a Lula no Palácio do Planalto, de onde controla e coordena todos os grupos guerrilheiros e terroristas desde o Rio Grande até a Patagônia.
Essa articulação para a eleição de Lula já vinha desde há muito: em 10 de Março de 2002, um mês depois de Palocci, que militou na Libelu - corrente trotskista de extrema esquerda -, ter assumido a chefia da campanha presidencial, após a morte suspeita de Celso daniel, uma matéria de Joel Silva, Free Lancer e Marcelo Toledo da "Folha de Ribeirão" com a colaboração de Evandro Spinelli, revelava que "um dos secretários do prefeito de Ribeirão Preto e coordenador do programa de governo do pré-candidato à Presidência do PT Luiz Inácio Lula da Silva, Antônio Palocci Filho, vai lançar um comitê pró-Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no município. O secretário é o ex-vereador Leopoldo Paulino (PSB), que compõe a base de apoio do prefeito de Ribeirão. As Farc são o maior grupo guerrilheiro colombiano, com cerca de 17 mil homens. São responsáveis por centenas de seqüestros em 2001. Foram atribuídos ao grupo mais de 1.700.
O escritório será lançado oficialmente no dia 20, na Câmara de Ribeirão. A sede será o Templo da Cidadania, instituição cultural sem fins lucrativos, da qual Palocci é membro fundador. Também fazem parte do grupo, que deve se chamar Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano e aos Movimentos de Libertação Nacional, os vereadores governistas Beto Cangussú (PT) e José Antônio Lages (PDT) e o médico petista Edmundo Raspanti, diretor do MIS (Museu da Imagem e do Som) de Ribeirão.
Parte do comitê diz que quer defender as causas das Farc, mas não sua violência. ‘A idéia é que a gente possa divulgar ao máximo em todas as partes do Brasil a situação do povo colombiano e as verdadeiras causas da luta das Farc contra o governo local’, afirmou Cangussú. Paulino, no entanto, é radical: ‘Não acho que é a eleição que vai resolver, é a revolução. Hoje no Brasil não há condição de fazer uma revolução armada, mas na Colômbia não é assim. Eles têm um exército organizado’.
Palocci e Luiz Inácio Lula da Silva não foram encontrados para falar sobre o assunto ontem. O comitê vai colher assinaturas pró-Farc e defender as posições do grupo guerrilheiro no Brasil. No lançamento, um guerrilheiro deve estar presente. ‘Precisamos difundir e abrir comitês das Farc no mundo inteiro sobre os problemas que ocorrem naquele país’, disse Cangussú.
Para ‘selar a união’, houve uma reunião em Ribeirão Preto entre Paulino e Olivério Medina, porta-voz informal das FARC no Brasil, que chegou a ser preso em 2000 em Foz do Iguaçu (PR), a pedido do governo colombiano, acusado de atividades terroristas.
‘Se conseguirmos passar algo para a população, vamos prestar um serviço à mente das pessoas’, afirmou o advogado Vanderley Caixe, um dos fundadores das FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional), grupo guerrilheiro que atuou entre 1967 e 1969.
A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que o órgão não se manifesta sobre questões internas, mas afirmou que o Brasil apóia o governo do presidente colombiano, Andrés Pastrana, que foi eleito democraticamente. As lideranças políticas do PT, PSB e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ) contam com posições divergentes sobre a criação do comitê. A deputada federal Luiza Erundina (PSB) disse que é contrária à forma de luta das FARC e que acha ‘meio estranho’ o secretário Leopoldo Paulino, de seu partido, organizar um comitê de apoio ao grupo guerrilheiro. ‘Não tenho muita ligação com ele, Paulino, e não sei quais são as razões dele’, disse Erundina. O líder do MST José Rainha Júnior disse que é solidário ao povo colombiano. ‘Eles estão sendo massacrados pela mão do imperialismo norte-americano’.
Para a cônsul-geral da Colômbia em São Paulo, Marta de Arevalo, ‘é muito estranho alguém se solidarizar com foras-da-lei, as Farc’. O caso será levado ao conhecimento da embaixada colombiana no Brasil".
Mais recentemente, segundo farto material publicado no jornal colombiano El Tiempo, se evidencia que os narcoguerrilheiros têm contato com nada menos de 400 grupos espalhados por sete países da América Latina, com algumas ramificações na Europa e Estados Unidos. O Peru e o Brasil servem para o recrutamento de simpatizantes e negócios com armas e cocaína; o Equador abriga o braço financeiro da organização e dá refugio a terroristas; a Venezuela, a Costa Rica e o México lavam os narcodólares.
A principal estratégia dos terroristas é enviar ao exterior representantes que ganham o status de refugiados políticos. El Tiempo dá nomes de alguns membros do grupo em vários países, e, claro, no Brasil. Sobre o Bananão, está lá: "(...) o contato das Farc, Francisco Antonio Caderna Collazos, o ‘Camilo’ — casado com uma professora brasileira e encarregado de trocar cocaína por armas e do recrutamento de simpatizantes —, não pôde ser extraditado para a Colômbia porque goza do status de refugiado desde 2006".
Ainda em julho de 2006, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, decidiu conceder a Olivério Medina, o status de refugiado político. O governo colombiano pediu que a decisão fosse revista e o pedido de extradição foi reiterado, mas os advogados do colombiano sustentaram que ele corria risco de morte se fosse entregue às autoridades do país. Vários partidos políticos do Brasil criaram um movimento pela libertação de Medina, que assumiu em carta, o compromisso de afastar-se do conflito político da Colômbia. No dia 21 de março de 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu arquivar o pedido de extradição do governo colombiano. Os ministros entenderam que a decisão do governo brasileiro de conceder status de refugiado ao acusado, impedia o prosseguimento do processo. Foi uma decisão política e não técnica.
O PT chegou a desmentir os vínculos com as Farc, mas solidarizou-se com a guerrilha como ficou claro na Resolução número 9 do X Foro de São Paulo, de 7 de dezembro de 2001.
O documento condena a repressão à guerrilha por parte do governo colombiano classificando-a como "terrorismo de Estado" e "verdadeiro plano de guerra contra o povo".
Desta forma, a assembléia decidiu: "Ratificar a legitimidade, justeza e necessidade da luta das organizações colombianas e solidarizar-nos com elas."
Trata-se de uma promessa de solidariedade que poucos meses depois, por temores eleitorais foi negada pelo PT. O texto é assinado por representantes de 39 organizações, entre as quais o Partido dos Trabalhadores.
A principal fachada das Farc, hoje, é a CCB — ou Coordinadora Continental Bolivariana. Olivério Medina, ainda segundo o El Tiempo, é peça graúda. Ele integrava o comando da CCB em companhia de Raúl Reyes, o terrorista pançudo morto no Equador, e de Orlay Jurado Palomino, ou "Hermes", que está na Venezuela. Com a morte do chefe, eles buscam ampliar a rede de contatos da CCB: o atual esforço é para instalar-se nos EUA por intermédio de uma ONG e de uma entidade ambientalista.
A ajuda às ações das FARC dada pelo PT perdura até hoje, como mostram os excertos da carta enviada ao XIII Encontro do Foro de São Paulo, realizado em 2007:


"Saudações à mesa diretora do Foro de São Paulo

Em 1990 nós experimentávamos a queda o campo socialista, [...] muitos revolucionários no mundo observaram atônitos e sem saber o que havia falhado para que ocorresse semelhante catástrofe.
A utopia desapareceu, o desespero tomou se apoderou de muitos líderes que tinham dedicado toda sua vida à luta para conquistar um mundo melhor, idealizando isto com o padrão de socialismo desenvolvido na União soviética. [...]
Foi precisamente naquele momento que o PT lançou a formidável proposta de criar o Foro de São Paulo, uma trincheira onde podemos encontrar os revolucionários de diferentes tendências, e diferentes manifestações de luta e de partidos no governo, concretamente o caso cubano. Essa iniciativa, que encontrou rápida acolhida, foi uma tábua de salvação e a esperança que tudo não foi perdido. Quanto razão havia, transcorridos 16 anos o panorama político é hoje totalmente diferente. [...]
De um partido no governo que era inicialmente parte do Foro, o partido comunista Cubano, hoje oito são as forças governando que, além a ser forças no governo, foram fundadores deste importante movimento. [...]

Comissão Internacional

Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo, FARC-EP

Montanhas de Colômbia, janeiro 07, 2007

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