terça-feira, 6 de maio de 2008

Síndrome de Peter Pan

A tarefa principal dos adolescentes em nossa cultura é emancipar-se psicologicamente de seus pais deixando de lado a dependência que tinha quando criança. Antes de poder desenvolver uma relação adulta com seus pais, o adolescente primeiro deve distanciar-se da forma como se relacionava com eles no passado. É normal que este processo seja caracterizado por uma certa dose de rebeldia, desafio, insatisfação, confusão, inquietude e ambivalência. As emoções geralmente estão exaltadas. As flutuações amplas do estado de humor são comuns. Na melhor das hipóteses, esta rebeldia do adolescente continuará por aproximadamente 2 anos; não é raro que persista durante 4 a 6 anos.

De todos os adolescentes são esperados comportamentos rebeldes e a rebeldia já virou, inclusive, sinônimo de adolescência. Esta relação feita entre esta fase da vida e este padrão comportamental faz com que a rebeldia seja entendida como uma característica própria da idade, que passa com o tempo e que, como tal, não pode ser solucionada nem discutida. Na verdade a rebeldia é um comportamento comum na fase adolescente, comum no sentido de freqüente e não de próprio desta fase. O próprio da fase adolescente, universal e que inevitavelmente acontece com todos os jovens normais, são as mudanças corporais, o aparecimento do interesse sexual, a mudança de outros tipos de interesse e uma nova forma de se relacionar com o mundo, que não é mais infantil nem adulta e que, portanto, caracterizam uma fase de transição muito marcante.

Tal rebeldia, porém, pode ser apenas uma reação à falta de jeito dos adultos para lidar com esta nova fase, da falta de compreensão, apoio e esclarecimento das modificações, que podem assuntar o adolescente, se forem absolutamente desconhecidas, e de outros problemas de trato com esta pessoa, que não pode mais ser tratada como a criança que era, e que não tem maturidade suficiente para assumir uma vida adulta.

Diante disso, é comum que os adolescentes juntem-se a um grupo. A imersão em um grupo de amigos é uma das etapas essenciais do desenvolvimento dos adolescentes. O jeito de se vestir, de falar e agir de forma diferente dos adultos podem ajudá-lo a sentir-se independente.

Ainda, tal rebeldia faz com que todos os adolescentes já tenham, pelos menos algum dia, pensado em fugir de casa, ou, à medida que crescem e se instruem politicamente, quererem destituir os governantes do poder, através de revoluções, professarem idéias radicais e a aceitarem mais facilmente teorias coletivistas, em razão do fato de pertencer a um grupo onde todos são mais ou menos "iguais" (o que podemos chamar de "socialismo hormonal").

No meu caso, não foi diferente. Como outros milhares, também passei por uma fase ultra-radical e sectária, em que eu só pensava em mandar bala e não media o significado de minhas palavras (em geral falando mais do que ouvindo), levado por uma espécie de transe revolucionário e messiânico que me fazia ver não pessoas, seres de carne e osso, mas somente "classes" e "inimigos de classe".

O problema surge quando tais características perduram e o adolescente se nega a crescer e assumir suas responsabilidades, que é o que eu chamo hoje de "Síndrome de Peter Pan".

Peter Pan é uma personagem criada por J. M. Barrie, personificado por um adolescente que se recusa a crescer e que passa a vida a ter aventuras mágicas num lugar chamado "Terra do Nunca" pelo resto da vida.

Embora não haja evidências de que seja uma doença psicológica real - e por isso não está referenciada nos manuais de transtornos mentais -, a chamada "Síndrome de Peter Pan" foi aceita em psicologia desde a publicação de um livro escrito em 1983 pelo Dr. Dan Kiley: "The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up" (A Síndrome de Peter Pan: Homens que Nunca Crescem).


Esta síndrome caracteriza-se por determinados comportamentos imaturos em aspectos comportamentais, psicológicos, sexuais ou sociais. Segundo Kiley, rasgos de irresponsabilidade, rebeldia, cólera, egocentrismo, dependência, negação ao envelhecimento. Ou seja, comportamentos típicos da adolescência.


O relógio do tempo parou para o Peter Pan. Ele se recusa a envelhecer e a entender as suas verdadeiras responsabilidades na sociedade. Está sempre querendo estar com os adolescentes, que considera seu grupo e, de preferência, é tão ou mais rebelde que aqueles.

Fazendo um paralelo na vida política, assim são os coletivistas: os eternos Peter Pan da vida. Sempre prontos a abraçar uma revolução, cheios de cólera para com as "elites" e as "burguesias", com dificuldades extremas de entender que o que querem destruir - como o "Peter Pan chefe" Karl Marx preconizou - para implantar o "novo-homem" na "Terra do Nunca" é só uma "viagem". É a gangue do rua que quer dominar a quadra no bairro onde moram.

Basta ver que a geração dos anos 60 e 70 está, atualmente, no poder em toda parte, tendo conservado a mesma lamentável ideologia de seus "anos rebeldes". Envelheceram de corpo e alma, porém, ficaram mais cínicos e guardaram e nutriram a imaturidade da mocidade, como ótimos Peter Pan, permanecendo "enfeitiçados por superstições totalitárias".

E nada é mais perigoso do que gente imatura, convencida de que é generosa e libertária, e imbuída da missão auto-conferida de transformar o mundo à revelia dele. No grupo, doutrinam, aliciam e enganam os demais, a fim de manter-se como os maiorais da turma.

Mas muitos destes "eternos adolescentes" acabam por reconhecer a própria doença e ir-se tratar, e assim, acabamos por ver um fenômeno bastante conhecido: muitos intelectuais e não-intelectuais que já estiveram um dia sob o encanto inebriante das palavras de ordem esquerdistas depois se desencantaram, tornando-se ativos adversários das idéias comunistas e socialistas.

Como já disse, professar idéias radicais é uma fase da vida, uma espécie de doença infantil, como o sarampo e a catapora, que precisamos pegar para ficarmos imunes dela pelo resto da vida. Não por acaso, essa fase coincide com a adolescência, período em que os hormônios e a confusão de emoções costumam ditar o que se passa na cabeça, e não o contrário (o "socialismo hormonal").

A maioria das pessoas não compreende por que aqueles que costumavam ser os militantes mais radicais se convertem, depois, nos adversários mais ferrenhos das teses esquerdopatas. Não entendem como os mesmos que antes eram os maiores inimigos da burguesia são agora os críticos mais implacáveis do socialismo.

A resposta é simples: porque estes conhecem a esquerda. Porque, já tendo estado sob o jugo mental da ideologia esquerdista, eles sabem quais são seus objetivos. A maioria das pessoas nunca conheceu um partido ou movimento ideológico por dentro. Logo, é compreensível que alimentem ilusões a respeito, tendendo a encarar qualquer crítica mais veemente como puro delírio e paranóia de reacionários empedernidos. A maioria também nunca ouviu falar de Gramsci. Não sabem, mas estão sob o domínio da esquerda também.

O discurso esquerdista já invadiu todos os aspectos da vida social, e até mesmo pessoal, incrustando-se e dominando qualquer setor da sociedade. O mais curioso é que não se trata de algo coerente, muito pelo contrário: são justamente suas ambigüidades e incoerências, sua falta elementar de consistência lógica, o que permite e garante o predomínio desse discurso hegemônico. Não se trata de simples erro lógico, o que poderia ser corrigido com um pouco de honestidade intelectual, mas de uma estratégia consciente, articulada, que visa a promover a confusão nos cérebros dos indivíduos e garantir a hegemonia cultural e ideológica da sociedade, ao mesmo tempo em que se convence os setores liberais de que não há razões para desconfiar da sinceridade dos esquerdistas quanto ao compromisso destes com a democracia e com a economia de mercado. Para perceber as dimensões dessa farsa colossal, basta prestar um pouco de atenção às seguintes características comuns a todos os agrupamentos de esquerda:

Alardeiam a própria superioridade moral, pelo simples fato de serem de esquerda: consideram-se os donos exclusivos da verdade e da ética - mesmo quando pegos em flagrante mentindo descaradamente e dilapidando o patrimônio público;

Cultuam o "popular", mas omitem que esse culto resulta de uma visão elitista de intelectuais que acreditam poder moldar o gosto estético e até o idioma da população de acordo com sua visão de mundo totalitária;

Dizem defender a Pátria contra o imperialismo, a globalização e o capitalismo, e no entanto incentivam ONGs estrangeiras que se apropriam de nacos da Amazônia;

Idolatram o deus Estado como o instrumento por excelência da distribuição de renda e da "justiça social" - no máximo, consideram a livre empresa e a livre iniciativa falta de opção ou um mal necessário para a aplicação de suas "políticas sociais" eleitoreiras e demagógicas;

"Liberal" (ou "neoliberal"), para eles, é um anátema; "conservador", então, é um palavrão; já "socialista" e "comunista" são títulos dos mais honrosos e dignos de reverência;

Consideram os EUA a maior ameaça à paz e a segurança no mundo - mesmo que os EUA sejam hoje a maior barreira ao avanço do terrorismo fundamentalista islâmico e do comunismo à Stalin, com seus 30 milhões de mortos;

Condenam o lucro como um pecado, e consideram a distribuição de renda a virtude máxima - mas não têm o mesmo pudor em enriquecer às custas do erário público, nem se importam se não houver o que distribuir, como em Cuba;

Em nome dos mais pobres, são críticos da globalização, que têm beneficiado principalmente os mais pobres do mundo;

Defendem cotas para negros nas universidades e no serviço público em geral, em nome da luta contra o racismo, instituindo, assim, o próprio racismo como política de Estado;

Afirmam ser contra qualquer forma de discriminação por raça, etnia, sexo ou religião, mas defendem tratamento diferenciado para quem for apanhado cometendo crimes, desde que seja negro, mulher ou homossexual;

Falam em pluralidade de idéias, mas defendem a idéia de que um partido, agrupamento ou organização são mais sábios do que o conjunto da sociedade, a quem desejam "guiar";

São conspiracionistas: quando apanhados com a boca na botija, primeiro tentam negar, dizendo que é tudo um complô da mídia e das elites; depois, buscam justificar, afirmando que "todos fazem igual", ou que a corrupção de esquerda é menos corrupta do que a de direita, porque a de esquerda está a serviço de um fim puro e belo;

São os paladinos da democracia - sobretudo, se esta os ajudar a conquistar o poder (depois, são outros quinhentos...);

Reescrevem a História de acordo com suas conveniências ideológicas, premiando em dinheiro terroristas como se tivessem sido combatentes pela democracia, enquanto os familiares das vítimas destes estão à míngua;

Defendem a moderação e o bom-mocismo, mas não hesitam em lançar mão de velhas acusações - tais como "reacionário", "entreguista" e "pró-imperialista" - contra qualquer um que ousar desmascará-los;

Consideram (os mais moderados) a democracia um valor universal, e são contra a tortura e a favor dos direitos humanos - menos em Cuba;

Consideram a denúncia implacável de ditaduras presentes ou passadas, como a de Pinochet e a de geisel, uma obrigação moral, mas rechaçam a mesma atitude diante de ditaduras de esquerda, como a cubana, como um "extremismo de direita";

Acusam os EUA de "terroristas" por derrubar ditadores como Saddam Hussein e caçar facínoras como Bin Laden, mas se recusam a chamar de terroristas os narcobandoleiros das FARC;

Vomitam seu compromisso com a liberdade de imprensa e de expressão - desde que esta não seja usada para criticá-los. Dizem-se a favor da isenção e da imparcialidade da imprensa - mas só dos jornais e revistas que não os aplaudem;


Conseguiram encobrir durante dezoito anos a maior articulação revolucionária da esquerda na América Latina desde o fim do bloco soviético, cobrindo de ridículo e de escárnio quem quer que ousasse fazer a menor referência ao Foro de São Paulo, onde são parceiros de traficantes e ditadores - e ainda há quem acredite, mesmo entre seus críticos, que o caso não é assim tão grave;

Até para denunciar suas tramóias, seus críticos vez ou outra se pegam usando as palavras e chavões esquerdistas e pregando a volta a um suposto passado de pureza virginal ("não são mais de esquerda" etc.).

Diante disso, quem poderá discordar que estamos sob uma ditadura mental, uma ditadura ideológica de esquerda, como a pregada por Gramsci, meio caminho andado para uma ditadura comunista de fato no País?

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