Não há evento similar em passado recente na América Latina. Na verdade, dada a forma como se opera, estamos diante de algo inédito no mundo. Os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Daniel Ortega (Nicarágua) agem livremente, à vista de toda gente, para levar Honduras à convulsão social e política. O governo interino do país e a imprensa denunciam o “Plano Caracas” — um conjunto de medidas posta em marcha por Chávez, que conta até com o massacre de civis —, e ONU e OEA silenciam. Nem mesmo se dão ao trabalho de enviar delegados ao país para avaliar a veracidade da denúncia.
Parte do plano denunciado (...) já começou a ser posto em prática ontem e deve seguir hoje. Chávez planeja para sábado o grande dia, quando Manuel Zelaya entraria no país, protegido, diz a imprensa hondurenha, por gangues de narcotraficantes.
Tudo invenção do governo provisório? Os indícios são todos em sentido contrário. Chávez confessou de viva voz que estava em contato com “lideranças” de Honduras para preparar a volta de Zelaya. O Bandoleiro de Caracas, que já exportou a sua “revolução” para o Equador e a Bolívia, agora se comporta como interventor mesmo. Deve se considerar, assim, uma espécie de União Soviética dos velhos tempos no comando do Pacto de Varsóvia.
O mundo assiste calado a um cerco que transgride os princípios mais básicos da soberania de um país. Sem contar, evidentemente, que praticamente todas as instituições democráticas de Honduras — além da esmagadora maioria da população — rejeitam a volta de Zelaya ao poder. O pouco de tempo que lhe restaria de mandato teria de ser exercido com o chicote na mão. Estamos falando de trocar a relativa paz de agora por um governo de confronto. Adivinhem quem pagaria o pato.
Ainda que Zelaya não fosse quem é — um golpista confesso — e que houvesse mesmo um governo gorila em Honduras, o que é mentira, a ingerência de Chávez e Ortega no país é inaceitável. Militantes bolivarianos e sandinistas cruzaram a fronteira para ajudar os manifestantes com sua “tecnologia” — do terror, naturalmente. No “Plano Caracas”, noticiado pela imprensa hondurenha e confirmado por fontes militares da própria Venezuela, eles estão lá para fazer baixas civis entre os próprios apoiadores de Zelaya, o que serviria para caracterizar o governo interino como uma horda de facínoras.
Honduras é um pequeno país, sem dúvida. Mas está começando a se tornar um emblema — com detalhes e contornos ainda um tanto indefinidos. Será história! Se conseguir resistir, enfraquece Chávez e fornece um caminho de combate ao assalto bolivariano. Se voltar a cair nas mãos de Zelaya, o Tirano de Caracas, com razão, vai se sentir vitorioso. E terá incorporado uma prática a mais em sua luta diária contra a democracia.
por Reinaldo Azevedo
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