O texto é longo. Mas é daqueles “de formação”.
Alguns leitores reclamam — poucos, é verdade, mas merecem atenção porque o fazem de modo até sensato — que, às vezes, dou excessiva atenção a questões que eles não consideram, assim, tão definidoras do jogo político. Preferem quando trato ou de teoria política mesmo ou quando entro na economia interna de Brasília, essas coisas. Pois eu lhes digo que certas ocorrências que parecem periféricas têm uma enorme importância porque caracterizam o espírito de um tempo, de uma época. Por isso dediquei um longo texto ao filme Ninguém Sabe O Duro que Dei, que conta a trajetória do cantor Wilson Simonal, e comentei as falas indecorosas de Ziraldo e Jaguar. Por isso darei agora relevância a um episódio ocorrido na Empresa Brasileira de Comunicação, a EBC (ver post das 23h08). Segue uma síntese do que noticiou a Folha Online:
A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), antiga Radiobrás, decidiu na semana passada mudar a crítica semanal que o ouvidor da empresa faz sobre o jornalismo praticado pela "Agência Brasil". Na crítica, o ouvidor-adjunto Paulo Machado aponta diversos erros de informações em notícias veiculadas no noticiário da agência, colocando em dúvida a credibilidade da empresa.
Com o título "Credibilidade da agência pública de notícias", Machado relaciona erros apontados por leitores e a respectiva resposta da "Agência Brasil", que em alguns casos não reconhecia o erro de informação.
A crítica, publicada nas manhãs das sextas-feiras, ficou parada no sistema interno da EBC e não foi ao ar. A coluna semanal do ouvidor foi publicada apenas no sábado (16), com um outro texto, sobre assunto diferente, desta vez com críticas mais amenas.
(...)A Folha Online apurou que a reunião que decidiu pela substituição do texto gravado no sistema pelo que foi ao ar teve a participação da diretora-presidente da empresa pública, Teresa Cruvinel, e o ouvidor-geral da EBC, Laurindo Leal Filho.No fim da sua coluna publicada no sábado, Machado ainda se desculpa aos leitores pelo atraso na publicação e remete o ocorrido a "motivos alheios" à sua vontade.(...)
A mudança no texto e a possível censura à crítica anterior está em desacordo com a norma interna da ouvidoria.
Na parte que trata dos objetivos do ouvidor, o texto é claro ao afirmar que a crítica não pode sofrer impedimentos. "A Ouvidoria tem os seguintes objetivos: 1 - assegurar ao cidadão o direito à crítica sobre o jornalismo e a comunicação da Radiobrás, sem impedimentos ou discriminações."
Voltei
Vamos ver como a fala dos cartunistas do extinto O Pasquim e a ação da EBC, com a participação de Tereza Cruvinel e de Laurindo Leal Filho, são sintomas de uma mesma doença. Acompanhem.
Vocês certamente sabem que as indenizações aos ditos “perseguidos da ditadura” já somam uns R$ 4 bilhões, não? As pensões mensalmente pagas já devem estar custando hoje, aos cofres públicos (NÓS PAGAMOS), algo em torno de R$ 30 milhões. Sim, queridos: POR MÊS!. Em alguns casos, poucos na comparação com o total de indenizados, houve, de fato, tortura e/ou morte de pessoas sob a guarda do estado. E a indenização é justa e correta. Mas a grande maioria é formada por oportunistas descarados. O emblema da farsa ocupa o topo da República.
Lula recebe, todo mês, quase R$ 5 mil da Bolsa Ditadura. É considerado “um perseguido político”. Desde 1975, quando passou a integrar a diretoria do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Bernardo, até janeiro de 2003, quando assumiu a Presidência, este senhor não ficou um miserável mês sem receber salário ou do sindicato ou do PT. Aquela militância lhe custou o que tem hoje. Foi preso pelo Regime Militar, segundo as leis daquele período, e, felizmente, nunca ninguém lhe encostou num fio de barba. Quando chegou à Presidência, seu patrimônio oficialmente declarado estava próximo de R$ 1 milhão, superior à da esmagadora maioria dos trabalhadores brasileiros, operários ou não.
Recebe a indenização por quê? Há várias respostas. Lembro duas. Em primeiro lugar, porque a impressionante elasticidade de sua moral pessoal lhe permite. Isso e muito mais. Ele tem até um “Ronaldinho”, lembram-se? Em segundo lugar, mas não menos importante, porque passou, dadas as suas vinculações com a esquerda, a integrar o grupo dos inimputáveis do Brasil. Por aqui, esquerdistas são sempre inocentes, ainda que, no mundo, sejam, como é sabido, quase sempre culpados. Ocorre que os veículos encarregados de dar voz e consistência à opinião pública estão tomados de militantes.
Ziraldo e Jaguar, como sabem aqueles que viram o filme sobre Simonal, justificaram o massacre do cantor alegando a guerra ideológica do período. Bem, serei mais preciso: o primeiro, sempre muito loquaz, é que tentou ensaiar ali alguma sociologia do confronto. O outro nem se ocupou disso. Saiu-se com uma espécie de “antes ele morto do que eu”. O excesso de álcool costuma livrar as pessoas de todas as virtudes curativas da vergonha na cara. O pai do Menino Maluquinho, o Velhão Malucaço, foi explícito. Usou a tal imagem da capoeira. O Pasquim, que ajudou a destruir Simonal, estava dando pernadas. Pegou no cantor. Fazer o quê? Entenderam? Estes dois senhores receberam mais de R$ 1 milhão da Bolsa Ditadura e têm direito a quase R$ 5 mil por mês enquanto viverem. Segundo declarou Ziraldo, o Brasil lhe “DEVE” isso. É mesmo? O que devo a Ziraldo, infelizmente, não poderei pagar sem que ele me processe depois...
Escrevi aqui algumas vezes, para protesto de alguns, que, com efeito, não podemos contar a história que não houve. Mas podemos presumir algumas coisas com base em ocorrências históricas protagonizadas por ideólogos semelhantes. No tempo em que eram revolucionários — ou, para ser mais exato, no tempo em que recorriam à luta armada —, os comunistas e esquerdistas associados jamais chegaram ao poder sem promover morticínio em massa — ou preparar as condições para que ele ocorresse. Os esquerdistas dizem agora que os mortos da ditadura brasileira foram 427. Não deveria ter sido um só. Mas não foram os 100 mil de Cuba — e a nossa população é 12 vezes maior do que a da ilha. Já fiz a conta aqui: por cem mil habitantes, Fidel é milhares de vezes mais assassino do que os nossos ditadores. Mas, vocês sabem, Chico Buarque toca violão pra ele. Se soubesse, tocaria flauta também. É uma metáfora-metonímia, é claro. Uso a nossa Deusa dos Olhos Glaucos, a Palas Athena dos vermelhos, apenas como sinal do refinamento máximo a que chegou a esquerda brasileira: um sambista! Há também o funk delúbio-spinoziano de Marilena Chaui, mas todos preferem Chico, como é sabido.
O que estou querendo dizer é que Ziraldo e Jaguar nos deixam entrever com que moral o Brasil teria sido governado por um largo período se os adversários do regime militar tivessem vencido a parada. 427 mortos? Isso Stálin matava por dia. Era tão obsessivo, que andava com uma caderneta sebenta no bolso com a lista dos campos de trabalhos forçados. 427? Mao Tse-Tung eliminava entre um catre imundo e outro. Imaginem se a lógica da pernada daquele senhor indenizado tivesse prevalecido. 427? Isso Che, o Porco Fedorento, fez em questão de dias. 427? Não deveria ter sido um só. O que me pergunto é por que os prosélitos do vitimismo dos 427 adoram ditadores que matam milhares, milhões. A resposta: porque eles não se importam com os mortos. Os mortos que importam são apenas os que estão do lado certo.
Agora a EBC
O chefe da comunicação do governo, incluindo a EBC, é, como todos sabem, Franklin Martins. É ele quem manda em Tereza Cruvinel e Laurindo Lalo Leal Filho. Franklin e Tereza passaram pelo grupo Globo, e Laurindo era um crítico contumaz do conglomerado de comunicação. Vem daquela militância que diz querer a “democratização” dos meios de comunicação. O governo vai promover até uma conferência com nome de exame laboratorial de latinha para cuidar do assunto — a Confecom. Tereza e Franklin nunca chegaram a ter posições realmente de comando no grupo Globo. Felizmente! Isso é sinal de que não puderam “democratizá-lo” a seu modo, não é? Laurindo, o “grande pensador” da mídia, está dizendo a que veio.
Nada como dar poder efetivo e real às esquerdas para que possamos apreciar o seu amor pela pluralidade e pela diversidade. Faz sentido. A maior de todas as torpezas históricas e teóricas é relacionar esquerdas e democracia. Quando foi que elas, de fato, a quiseram? Nunca! Na verdade, elas têm é um largo contencioso com a prática democrática, sempre considerada um instrumento das minorias para manipular as maiorias. Quando os esquerdistas decidiram usar os meios da democracia para chegar ao poder — como as eleições, por exemplo —, foi com o intuito de criar um sistema que pudesse torná-las irrelevantes. Assim, só cretinos, destituídos de leitura, acreditam que um esquerdista quer “democratizar” o que quer que seja. Ou se é de esquerda ou se é democrata. Quem quer que se diga os dois a um só tempo ou não sabe o que é um, ou não sabe o que é outro, ou não sabe o que são ambos.
Esses iluminados estão empenhados, vejam que coisa!, em criar o que chamam de alternativas de comunicação. Fizeram uma nova TV porque, diziam, a comercial não servia. Não conseguem sair do traço. Olhem como são democráticos e tolerantes até entre os seus... Já sabemos o que teriam feito com o Brasil se tivessem vencido. Sabemos agora o que fariam com as Organizações Globo — só para citar o maior grupo do país — se mandassem lá. Evidentemente, quem assegura a democracia dos meios de comunicação no país são as empresas privadas. Esquerda entende é de ditadura.
E arremato com a questão da hora. Não me surpreende, em absoluto, que os petistas tenham sacado do estoque de imposturas a cascata da privatização da Petrobras para tentar bombardear a CPI. O que é uma mentira particular no estoque das mentiras universais?
*PS – Sobre a EBC, deixo claro: não considero a função de “ombudsman” algo relevante hoje em dia. Os ouvidores da imprensa, na era da Internet, tornaram-se meros procuradores das reclamações organizadas do petismo. O que era uma boa novidade se tornou algo regressivo. Quem precisa deles para fazer o debate? Tornaram-se apenas um braço a mais do aparelhamento da imprensa. Mas, se existem, não podem ser censurados.
Por Reinaldo Azevedo
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