O primeiro atentado terrorista, no aeroporto do Recife, foi em 1966. Matou, feriu e mutilou inocentes. Cumpriu seu papel macabro: aterrorizou a nação. O terrorismo e as guerrilhas comunistas desencadeadas em 1967 causaram o AI-5, em dezembro de 1968. Assegurada a ordem interna, o governo encaminhou ao Congresso, em 1978, projeto de lei de anistia. O presidente João Batista de Oliveira Figueiredo, de cujo governo fui líder, dizia que a anistia não significava perdão, uma vez que pressupunha arrependimento, mas esquecimento mútuo, o que até hoje a esquerda não aceitou. Para Carlos Marighella e seus seguidores, como o ministro de Direitos Humanos (que foi seu comandado), o terrorismo é arma de guerra, matança indiscriminada que assassina inocentes, mesmo mulheres e crianças.
Esta passagem do livro Entrevista com la historia, de Oriana Fallaci, escritora e jornalista italiana, de alta reputação mundial e de tendência esquerdista, desnuda a natureza desumana do terrorista. Entrevistou o pediatra George Habash, chefe da Frente Popular da Libertação da Palestina, que combatia Israel. Perguntou-lhe: “Que tem de heróico o terrorismo incendiar um asilo de anciãos, destruir as reservas de oxigênio de um hospital, fazer explodir um avião e destruir um supermercado?”. Respondeu que era necessário chamar a atenção do mundo para a causa palestina: “Nosso inimigo não é só Israel. O mundo já se serviu muito de nós. E tem nos esquecido. É chegado o momento para nos recordar”. Oriana tentou o paradoxo. “Como se explica que o senhor, um pediatra renomado, haja trocado de salvador da vida de crianças doentes, por matador de crianças, que estejam num hospital privado de oxigênio e num supermercado ao lado de suas mães?”. Admitiu ter e estar sofrendo por isso, “mas um homem tem que escolher a hora de salvar e a de matar”.
Entre nós, o esquecimento da selvageria do terrorismo pela esquerda, transmudado em heroísmo, tem provocado intermináveis postulações dos derrotados, ora respeitáveis, ora absurdas. Cultivam o deplorável maniqueísmo. Para eles o torturador é a fera ignara. E o terrorismo, como ensinou George Hasbah, uma arma de guerra, representando o bem contra o mal. Derrotados, terroristas e guerrilheiros são contemplados igualmente nas benesses da Lei Fernando Henrique Cardoso. Recebem indenizações, por vezes milionárias. Um escritor, insuspeito de simpatia com o os governos do ciclo militar, Millor Fernandes, brindou-os com esta joia humorística : “Em vez de luta armada, fizeram um bom investimento”.
Mas não lhes basta o presente financeiro que a burguesia (a “origem de todos os males”, na definição de Marx) lhes dá. Serve, também, para nutrir e aumentar o ódio ideológico, para tentar, amparados no espaço que lhes concede a mídia, desacreditá-los, como acaba de fazer o jornalista Mário Magalhães. Relatando a cerimônia de despedida, do serviço ativo do Exército, do general Paulo César de Castro, escreveu que este “exaltou o golpe militar de 1964, ironizou as políticas de cotas raciais, elogiou o presidente Médici, em cujo governo desapareceram dezenas de oposicionistas, defendeu a Lei de Anistia, dando a entender que não permite punir militares, e referiu-se à 'sanha' dos marxistas que estão aí”.
Em relação a um dos generais mais respeitáveis e honrados do Exército, onde só deixou exemplos de devotamento à pátria, o resumo da nota permite estas conclusões: a contra-revolução de 64 foi um crime de lesa pátria, que não merece elogio; o presidente Médici, que acabou com as guerrilhas urbanas comunistas sem ter feito um só “desaparecido”, deve ser odiado, enquanto se admira um tirano como Stalin, que fez desaparecer milhares de inocentes obrigados a confessar, sob tortura, crimes que jamais cometeram; a Lei da Anistia só anistia os terroristas e deve punir os militares que os combateram; os marxistas, que já dominam auditórios cativos nos educandários, não podem ser contestados, e a generais é defeso opinar sobre cotas raciais e sociais.
O general Castro dedicou ao serviço da pátria cerca de meio século de sua vida exemplar. A lição que nos deixa é o exemplo que deixa de quem, por servir irrepreensivelmente à pátria e defendê-la dos que intentaram manchá-la, não lhe perturba sequer o ódio dos ressentidos, porque aprendeu, na caserna, a doçura do sacrifício.
por Jarbas Passarinho, no JB OnLine
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