Há alguns dias, mais precisamente em 17 de Fevereiro, a Folha de São Paulo fez um editorial em que chamava o regime militar brasileiro (1964-1985) de “ditabranda”. O trocadilho óbvio era com “ditadura”.
Os números, já publiquei aqui, vindos do livro Dos Filhos Deste Solo, escrito pelo ex-ministro Nilmário Miranda, petista, e pelo jornalista Carlos Tibúrcio - uma co-edição da Boitempo Editorial e da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT -, lista, com enorme boa vontade nos critérios, 424 casos de pessoas que teriam morrido ou que ainda são dadas como desaparecidas em razão do regime militar — ainda que numa razão nem sempre direta. Estão contados aí pessoas vítimas de acidentes, suicídios, gente que morreu no exterior e até os justiçamentos: esquerdistas assassinados por esquerdistas por serem supostos traidores. E desses 424 foram assassinadas mesmo, comprovadamente, 293 pessoas, incluindo as que morreram na guerrilha do Araguaia.
E por causa deste editorial, membros da "burritsia" esquerdista - além dos militontos de sempre - destilaram seu ódio contra a Folha, indignados com o que lhes pareceu uma diminuição ou justificação das barbaridades cometidas pelos militares, como a tortura e a censura.
Nada mais mentiroso - o que, aliás, é marca característica das esquerdas. O tal editorial faz, inclusive, em algumas partes, comparações nefandas, parecendo querer passar a mão nos atos e fatos causados pela esquerda: uma hora acusou Fujimori, ditador peruano, de ser precursor de Chávez; noutra, afirma que este pretenso ditador trilhou este caminho por causa da tentiva de golpe ocorrida em 2002 - esquecendo-se, obviamente, que o próprio Chávez tentou um golpe em 1992.
Mas o que gerou o bombardeio de críticas bovinas por parte da esquerda não foi tanto o fato de o editorial ter chamado a época do regime militar de "ditabranda" - termo, aliás, nem tão novo assim, pois já era bastante empregado pela própria esquerda na década de 80, sendo o governo Figueiredo, em especial, chamado de “ditabranda” -, mas, sim, a ousadia do jornal em mostrar as diferenças existentes entre esta e regimes venerados pela esquerda, como da China, da Coréia do Norte e especialmente o de Cuba.
A indignação destes senhores e senhoras e a aceitação por parte do jornal, pouco depois, em retratar-se publicamente mostra o nível de pensamento politicamente correto ao qual a sociedade tem chegado: a proibição de comparar ditaduras.
O que é mais incrível é que é rotineira a associação que estes mesmos esquerdistas fazem entre o regime militar brasileiro e as demais ditaduras do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile), apesar de o regime militar ter tido características próprias, independentes até da Guerra Fria, querendo inferir que, sendo todas elas dominadas por indivíduos com tendências à direita do espectro político, todas foram igualmente maléficas.
Porém, como fez o editorial da Folha, quando se compara as tais ditaduras com os regimes comunistas espalhados ao redor do mundo, fazendo-se um levantamento entre a população existente e o número de mortos causados pela implantação deste regime assassino, eis que se levantam os "defensores da liberdade e dos direitos humanos", como eles mesmos tendem a se chamar.
É óbvio que a comparação é válida e tem que ser feita, apesar de que, em se tratando de regimes de exceção, qualquer ditadura ser execrável. Mas o que não se pode esquecer é que no caso brasileiro, a tortura realmente tratava-se de uma exceção, enquanto que nos países comunistas virou uma regra: que o falem os sete milhões de ucranianos mortos de fome em apenas um ano, durante a tomada pela URSS e os mais de cem mil mortos em prisões ou simplesmente assassinados a sangue-frio durante a "revolução" cubana, inclusive a mando ou pelas mãos do próprio Che Guevara.
Além do mais, cabe dizer que, em qualquer sociedade civilizada, o senso de proporção é a bússola mesma que orienta o comportamento e o pensamento humano e a comparação é a base do Direito. Quem mata ou fere um será punido com a sanção que é devida a quem mata e fere um, e não dez ou vinte. Do mesmo modo, quem mata, mutila e tortura não vinte ou cem ou quinhentos ou mil, mas cem mil, ou cem milhões, merece receber uma punição muito mais severa, compatível com a gravidade desses crimes.
Esta grita esquerdista é parte de uma tática de dominação, uma vez que as pessoas que não compartilham com seus ideais comunistas tendem a calar-se diante dos desmandos da turba furibunda. Assim, devido ao fato de já terem dominado quase que a totalidade das universidades, da mídia, das opiniões, qualquer testemunho em contrário deve ser refutado veementemente - inclusive utilizando a mentira como arma de repúdio à Verdade -, maximizando os delitos do adversário e minizando os próprios, até que só se enxergue os crimes do inimigo, e se esqueça por completo - ou se justifique - os cometidos em nome do socialismo.
As esquerdas sabem que os regimes e movimentos comunistas mataram mais, e de maneira muito mais sistemática e, se quiserem, científica, do que qualquer ditadura militar sul-americana, ou mesmo do que os regimes nazi-fascistas. No século XX, foram cerca de 100 milhões os mortos pelo comunismo em países como a ex-URSS, a China, o Camboja e a Coreia do Norte. Isso faz do comunismo uma ideologia muito mais assassina do que qualquer coisa engendrada, até aqui, pela mente humana. Não por acaso, Stálin dizia que a morte de um homem é uma tragédia; a de milhões, é uma estatística. É por isso que as esquerdas berram sempre que alguém tem a ousadia de comparar as ditaduras de direita e as de esquerda: tendo mais esqueletos no armário que esconder, sentem-se injuriadas quando alguém os expõe à luz, chamando de fascista e reacionário quem o fizer.
É bom esclarecer que não estou defendendo as chamadas ditaduras de direita, quer por ideologia quer porque mataram menos que as de esquerda. Estou apenas afirmando que qualquer ditadura é condenável e os mais assassinos são mais condenáveis, mas que as esquerdas não se contentam geralmente em exterminar ou calar seus opositores: fazem questão de implantar um sistema de coerção mental que não tem nenhum paralelo com nada que a direita tenha inventado até hoje, graças ao pensamento abominável, principalmente, de Antonio Gramsci.
O regime militar brasileiro matou 424 pessoas em 21 anos de existência. Foi, portanto, 424 vezes execrável. A ditadura cubana matou quase cem mil, entre fuzilados e afogados tentando escapar da ilha-prisão. Logo, merece ser repudiada cem mil vezes.
Comparar não é relativizar, nem justificar o que quer que seja. É repor a Verdade histórica.
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