No domingo, 29 de março, espiando o Caderno 2 de O Estado de S. Paulo, me detive numa resenha de Ricardo Lísias sobre a mais recente publicação de obra de Slavoj Zizek no Brasil. Zizek é um dublê de filósofo que se dedica a escrever panegíricos a Mao Tsé Tung e até a Robespierre, o que evidencia sua paixão pelas políticas de extermínio e dispensa outros comentários.
O próprio Lísias, apesar de rematado usuário do ópio dos intelectuais, faz restrições a Zizek, afirmando que ele "é o tipo de intelectual que não deve ser pesado livro a livro", pois escreve alguns "intrigantes e lúcidos" e outros "precipitados" e "inconsequentes", entre os quais, aliás, Lísias inclui o elogio a Mao.
Entretanto, fique claro de que não se trata de uma questão de moral. O resenhista não condena Zizek pela adesão ao totalitarismo criminoso, mas pelo fato de, com seu proselitismo, oferecer "munição, de grosso calibre, para o conservadorismo que, infelizmente, está crescendo de novo no Brasil". Note-se que esse é o mesmo argumento que o petista Valter Pomar deu para defender sua posição contrária ao reingresso de Delúbio Soares no PT.
Note-se também que do "infelizmente" de Lísias pode-se colher um fato significativo: pelo crescimento do conservadorismo, o resenhista provavelmente alude ao sucesso de público de Luiz Felipe Pondé, de João Pereira Coutinho, de Demétrio Magnoli e, "last but not least", de Reinaldo Azevedo. (Deveria estar incluída na alusão o sucesso da excelente revista Dicta & Contradicta).
Isso é bom, pois mostra que o quarteto de articulistas anda deixando a esquerda em polvorosa: o monopólio esquerdista da opinião no Brasil foi colocado em xeque, afinal, no âmbito da mídia impressa (para não falar da internet, onde já são referência obrigatória o site pioneiro de Olavo de Carvalho, bem como os de Percival Puggina e Heitor de Paola, o Mídia Sem Máscara, e um sem número de blogs - entre os quais me orgulho de poder incluir o meu Observatório de Piratininga).
Mas a esquerda é assim: se não pode censurar, lamenta-se quando vê seu pensamento questionado. Se isso não é suficiente para mostrar a idéia de democracia que essa gente tem, um outro exemplo bastante significativo chegou também neste fim de semana ao meu conhecimento.
A coleção Revoluções do Século 20, publicada pela Editora Unesp, da Universidade Estadual Paulista, sob a direção da historiadora Emília Viotti da Costa.
Seria inaceitável que a editora de uma universidade pública bancasse a edição de uma coleção dedicada a esse tema, não se soubesse o que vai pela cabeça da "intelektualidade" brasileira, em seus gulags acadêmicos. A coleção que pretensamente visa expor o assunto com objetividade, pelo prisma histórico-sociológico, é na verdade composta de obras que fazem a apologia ou o elogio dos processos revolucionários, com o intuito exclusivo de promover uma cultura ou mentalidade revolucionária.
Quem são os autores dos livros? Na apresentação, Viotti da Costa diz que "os autores foram selecionados entre historiadores, cientistas sociais e jornalistas, norte-americanos e brasileiros, de posições políticas diversas, cobrindo um espectro que vai do centro até a esquerda". Além da evidente exclusão do pensamento de direita, por "centro" deve-se entender, de fato, a esquerda norte-americana, que compõe a coleção pelo simples fato de que a organizadora até recentemente pontificava na universidade de Yale.
Ou seja, os autores foram selecionados de acordo com seu relacionamento pessoal com a organizadora da coleção. De resto, que objetividade e imparcialidade podem ter o leninista Daniel Aarão Reis Filho para tratar da Revolução Russa e o maoísta Wladimir Pomar para discorrer sobre a Revolução Chinesa? Creio que se pode resumir o projeto intelectual dessa gente assim: partido único e pensamento único. Ou não?
por Tibiriçá Ramalho
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