Tenho ouvido insistentemente, na imprensa, entre meus alunos e também entre alguns amigos, comparações entre a ação recente de Israel na faixa de Gaza e o Nazismo.
"Estado nazissionista", montagens de fotos justapondo terrores do nazismo com aparente correspondência exata aos horrores sofridos pelos palestinos. Tudo isso é absolutamente inaceitável e, creio, revelador.
Não quero aqui me posicionar sobre a ofensiva israelense que é, certamente, controversa sob muitos pontos de vista, mas falar sobre esse frenesi comparativo entre o nazismo e Israel. O que quero, essencialmente, dizer, é que nada, nada, é comparável ao nazismo.
A não ser que surja uma nova campanha nacional e continental contra uma raça, simplesmente pelo fato de ela ser uma raça e não outra; a não ser que haja uma ação consensual, coletiva e institucional, de eliminação sumária e calculada de um povo inteiro, das formas mais cruéis e sádicas possíveis, perpetradas por um exército que parecia gozar no exercício de seus pequenos poderes (campeonatos para ver quem mata mais prisioneiros com um tiro só, troca de fetos por ratos, inserção de órgãos doentes no lugar de órgãos saudáveis etc.), a não ser que haja um certo silêncio da parte de outros países em relação a práticas ocultas mas também ostensivas, da extinção de um povo inteiro, a não ser que isso aconteça novamente, nunca, e repito, nunca mais se pode chamar qualquer outra ofensiva de nazista.(...)
Comparar Israel com o nazismo é como dizer: "eles não aprenderam a lição; estão praticando exatamente aquilo que sofreram".
Ou seja: comparar a ação de Israel com o nazismo é usar o próprio argumento racista do nacional-socialismo: "os judeus merecem o sofrimento" ; é justificar subconscientemente os acontecimentos da segunda guerra (...).
Comparar o nazismo à ação de Israel é, na verdade, uma prática antissemita, racista e ignorante. Uma ignorância orgulhosa, vingadora e recalcada, como talvez todas as grandes ignorâncias sejam, culpadas pela perpetração de barbaridades atrozes e injustificáveis.
por Noemi Jaffe, Na Folha de São Paulo
Embora seja muito pertinente a crítica feita por Noemi Jaffe, ao citar o absurdo da crítica feita por aqueles que comparam a ação de Israel com a ação nazista, é importante frisar que não há como dizer que "nada, nada, é comparável ao nazismo".
Há, sim, e o próprio Hitler já o havia dito a Hermann Rauschning (em Hitler m'a dir, publicado em Paris, em 1939): o socialismo.
Tanto que o "Deutsch Arbeit Partei" (Partido dos Trabalhadores da Alemanha), fundado em 1904, tornou-se o "Nazional Sozialism Deutsch Arteit Partei" (partido Nacional Socialista dos Trabalhadores de Alemanha), sob o comando de Hitler.
Hitler confessou a Rauschning, entre muitas outras coisas que o que mais adorava eram "os ensinamentos da revolução, eis todo o segredo da nova estratégia. Eu os aprendi dos bolchevistas e não tenho vergonha de dizer isso, porque é sempre dos inimigos que se aprende mais."
A diferença é que Hitler elevou à enésima potência todo o racismo de Marx, atacando mais brutalmente os judeus - muitos dos quais já eram grandes empresários à época da ascensão do Nazismo e reagiram à nacionalização das propriedades e das empresas.
O racismo não era uma idiossincrasia da doutrina comunista, mas era um aspecto constitutivo em sua origem. Com o tempo, o que houve foi apenas o deslocamento do ódio racial para a "lógica" da guerra de classes. Mas o chauvinismo russo (como o Chinês, ainda hoje) e o "complô dos médicos judeus" inventado por Stálin às vésperas de sua morte em plenos anos 50 deixam claro que o racismo sempre esteve lá, um pouquinho abaixo da superfície do comunismo. Engels, o industrial burguês que sustentou o parasitismo de Marx a vida toda, escreveu artigos chamando os povos rurais europeus de "volkerabfalle" - lixo racial - e afirmando que esse "lixo" teria de ser eliminado, já que não haveria como fazê-los ascender ao estágio "civilizacional" do comunismo. Povos não-europeus, então, nem sequer existiam para Marx e Engels.
Assim é que os socialistas nacionalistas - os nazistas e fascistas - seguiram ao pé-da-letra os "ensinamentos" de Marx e Engels.
Marx já ensinava que "as classes e as raças fracas demais para dominar as novas condições de vida devem retroceder (...) Elas devem perecer no Holocausto revolucionário", que aconteceu sob o comando de Stalin - e foi muito pior que o genocídio alemão.
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