terça-feira, 10 de março de 2009

Ser de Esquerda

Um leitor do blog, Douglas, que já havia questionado o que eu tinha contra a punição dos torturadores do extinto regime militar, escreveu-me novamente fazendo uma pergunta:

Concordo com o senhor. Mas creio que ambos devem ser punidos: torturadores e terroristas. Derrubem a lei Anistia!
Só uma pergunta que eu não entendi muito bem: Por que ser de esquerda é necessariamente estar planejando um golpe de estado, do tipo como foi citado pelo senhor "uma ditadura semelhante à de Mao, de Pol Pot, de Fidel, que sempre enviou à prisão (e no mais das vezes à morte sumária, sem qualquer direito de defesa) qualquer um que simplesmente discorde da política do Estado"?
Se eu não me engano, antes do golpe militar, viviamos numa democracia, correto? Ou eu estou errado?


Como diria Jack, o estripador, vamos por partes:

Concordo com o senhor. Mas creio que ambos devem ser punidos: torturadores e terroristas. Derrubem a lei Anistia!
Você, como eu, crê que, em caso de punição, caso a Lei da Anistia fosse revogada, torturadores e terroristas deveriam sê-lo. Nada mais justo, afinal ambos os tipos perpetraram crimes de lesa-humanidade e estavam fora das leis.

Se eu não me engano, antes do golpe militar, viviamos numa democracia, correto? Ou eu estou errado?
Você está corretíssimo, Douglas! À época do contra golpe militar, como agora, as pessoas viviam numa democracia. E esta democracia é que os esquerdistas queriam derrubar, para instaurar um regime comunista nos moldes da extinta URSS ou da Cuba de Fidel ou da China de Mao Tse-Tung, dependendo da doutrina que cada corrente dita "socialista" seguia e de onde foram treinados para guerrilha os líderes destas correntes. Para mais detalhes sobre como estávamos à beira do abismo, veja meu post sobre aquela época e, também, dois outros posts: um artigo publicado pelo historiador Marco Antonio Villa, especialista na História do regime militar, e a resposta dada por dois esquerditas ao referido artigo, que pode ser desmontado factualmente.

Só uma pergunta que eu não entendi muito bem: Por que ser de esquerda é necessariamente estar planejando um golpe de estado, do tipo como foi citado pelo senhor "uma ditadura semelhante à de Mao, de Pol Pot, de Fidel, que sempre enviou à prisão (e no mais das vezes à morte sumária, sem qualquer direito de defesa) qualquer um que simplesmente discorde da política do Estado"?
Para você começar a entender o por quê destas afirmações é necessário estudar algumas obras ditas "filosóficas" que são usadas pelos esquerdistas, dentre elas "O Capital" de Karl Marx, o "Manifesto Comunista" de Marx e Engels e "Cadernos do Cárcere" de Antonio Gramsci, para citar apenas três entre muitas.

O golpe de Estado, hoje, é planejado pelas esquerdas de forma diferente daquele que fora planejado nos anos 60 do século passado. Apesar de ainda seguirem muitos dos ensinamentos marxistas, a grande maioria dos esquerdistas segue os ensinamentos de Gramsci para a derrubaa da democracia e a tomada do poder.

Se antes as palavras de ordem eram "todo poder ao povo" e "morte à burguesia", como se o povo realmente estivesse interessado em promover as revoluções que os esquerdistas tanto queriam para criar o "novo mundo possível" - e vimos pela História que este "novo mundo" nunca foi possível e jamais o será -, hoje eles estão devorando a democracia pelas bordas e destruindo a civilização que levamos séculos para construir.

Gramsci ensinava que, para tomar definitivamente o poder e implantar o comunismo, dever-se-ia renunciar à força (diga-se, às revoluções), pois os trabalhadores não odeiam as classes média e alta e nem têm disposição inata para destruir a ordem existente, porque eles mesmos estão impregnados com muitos valores dessa ordem. O importante é atacar e destruir esses valores o que, não pode ser feito com base na força, mas sim por meio de persuasão e ação deliberada. Assim, o novo socialismo é baseado em uma revolução com o povo e não sem povo.

O método persuasivo é demorado, trabalhoso e requer um planejamento estratégico para, no fim, chegar ao domínio das consciências. Nessa empreitada, tem grande importância, para Gramsci, a conquista dos órgãos da cultura, das escolas, das igrejas, dos jornais, do rádio, das revistas, da música (letrada), da literatura e, sobretudo, das artes visuais. É crucial trilhar muito mais a pista das emoções do que a da razão.

Com isso, chegar-se-ia ao "controle natural" dos pensamentos, utilizando-se com ênfase a imaginação e a criatividade das pessoas. As resistências mais fortes tenderiam a desaparecer. Os integrantes da classe baixa deixariam de amar a "servidão" sem, no entanto, odiar os dominadores. Essa é a receita para se chegar a uma hegemonia cultural, que seja capaz de minar os elementos da cultura tradicional.

Dentro dessa concepção, a transformação almejada pelo projeto de poder das esquerdas não pode vir por meio da tradicional concepção marxista de revolução do proletariado contra a burguesia. Ao contrário, ela tem de se utilizar das próprias instituições para fazer penetrar na juventude e no povo o questionamento dos valores existentes, de modo a levar os destituídos a ocuparem, gradualmente, os postos dirigentes das empresas e do governo para então apoiar e implantar uma forte intervenção do Estado em setores estratégicos da vida econômica – única forma de se assegurar mais igualdade e mais justiça social. E é o que temos visto muito, ultimamente: cada vez mais, o governo do PT e seus aliados vem dando este tipo de "golpe de Estado".

E por que eu digo que os moldes deste novo golpe de Estado são Cuba, China e URSS? Ora, Douglas, por comparação pura e simples entre a realidade que nos cerca. Não podemos comparar o imaginário com o real. Só o real com o real. E o que ocorreu nos países onde o socialismo/comunismo foi implantado: doutrinamento bovino, encarceramento sem qualquer tipo de julgamento, tortura pior do que a existente durante o regime militar brasileiro, população famélica, extermínio puro e simples dos "inimigos do proletariado" (muitas vezes até dos amigos, para que não cobiçassem o lugar do ditador de plantão).

Quando os esquerdistas falam de "outro mundo possível" é como se dissessem: ah!, vamos materializar o papai noel e todo o mundo terá presentes de Natal gratuitos de verdade! Vamos materializar o coelhinho da páscoa e todos terão ovos de chocolate gratuitos de verdade! Vamos materializar... pense em qualquer coisa que você queira...

Papai Noel? Coelhinho da Páscoa? Compare, agora, com a realidade que o cerca: quem compra seus presentes de Natal e seus ovos de Páscoa? Você? Seus pais? Seus amigos? Seus parentes? Sua namorada? Para tanto, eles trabalham! E por trabalharem, eles negociaram receber um valor (em dinheiro, em vales-refeição, em vales-transporte, assistência médica etc., dependendo do trabalho). É uma troca: o empregado entra com a força de trabalho e o empregador paga por ela. Não há almoço gratuito. Sempre há uma troca.

Há muitos outros posts onde eu falo como agem as esquerdas. Dê uma olhada nos posts sobre gramscismo e você começará a compreender melhor como se dá o novo golpe de Estado. E leia também sobre o Foro de São Paulo para entender a extensão real do golpe.

E continue inquirindo. Estou sempre aqui para conversarmos. Abraços.

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