segunda-feira, 23 de março de 2009

A Moral dos Imorais - Pomar não quer Delúbio no PT

"Reintegrar Delúbio será fornecer farta matéria-prima para os ataques da direita, ajudando a reavivar a ofensiva lançada contra nós durante a crise de 2005."


A frase acima é de Valter Pomar e está publicada no Painel de ontem, da Folha. Pomar é secretário de Relações Internacionais do PT e fina flor da extrema esquerda do partido. Também é secretário executivo do Foro de São Paulo, aquela entidade fundada por Lula e pelo Coma Andante Fidel Castro, que reúne partidos de esquerda da América Latina. Mas vamos à sua frase, com uma observação prévia. Nem toda vigarice intelectual é de esquerda, é certo. Mas não se é um esquerdista sem a vigarice. Terá Pomar atentado para os frutos lógicos que derivam de seu pensamento? Vamos ver.


1) Se o principal entrave ao retorno de Delúbio Soares ao PT é a exploração que a direita faria do fato, tem-se que não há — e eu concordo, então, com Pomar — qualquer natural incompatibilidade entre o partido e aquele gigante moral. Mas estamos só no começo.


2) Se a volta de Delúbio ao partido “fornece farta (atentem para o “farta”) matéria-prima à direita”, somos obrigados a concluir que a direita é, então, avessa àquilo que Delúbio representa. O que, desde logo, confere a essa direita um atestado de boa conduta. Já o PT, conforme o demonstrado, poderia muito bem abrigá-lo, sem incompatibilidade nenhuma, não fosse a eventual patrulha dos adversários. Sigamos.


3) Se a direita é o entrave à volta de Delúbio Soares, supõe-se que ela procuraria evidenciar as artes de Delúbio, que o PT tenta esconder. Logo, trata-se do confronto entre quem quer a verdade e quem quer a mentira.


4) Observem que Pomar não diz que a direita vai “inventar” uma farta matéria-prima. Segundo diz, Delúbio é que vai "fornecê-la".


5) Pomar, no entanto, como bom esquerdista, reconhece os pecados da sua turma, mas prefere acusar os adversários. Notem que ele chama o mensalão de “ofensiva lançada contra nós”. Quando o escândalo estourou, ele foi um dos petistas que tentaram usar o episódio para, digamos, “desdirceuzar” o PT. O partido passou a acusar, então, a tentativa de um “golpe”. Pomar adere à teoria. Também para ele, então, o mensalão não existiu, e Delúbio é um injustiçado.


6) Se é assim, se tudo não passou de uma “ofensiva da direita”, manter o homem longe do partido é uma injustiça, ainda que ele “forneça farta matéria-prima” aos adversários. Como conciliar as duas coisas? O cérebro de um esquerdista permite diagnóstico, mas não cura.


7) Sendo Delúbio quem é, com a sua longa biografia — fora aquela “não-contabilizada”, que a gente desconhece —, só posso concluir que a direita estaria, então, fazendo um bem ao PT caso passasse a atacar o partido.


8) É uma pena que a direita praticamente não exista. Se eu soubesse onde ela "mora", iria até lá para dizer: “Por favor, não toque no assunto; deixe Delúbio voltar. Com ele, o PT fica entregue à sua real natureza, e isso é bom para o país”. Não sei se fui muito sutil...


9) A fala de Pomar é também pouco corajosa. Como não quer comprar briga com setores do partido, usa esse adversário imaginário — a direita — como bicho-papão.


10) E, para concluir, pode-se escrever a sua frase de outro modo: “Por mim, ele até voltaria, mas o problema são os nossos inimigos. Não é a minha moral que se choca com a de Delúbio, é a moral da direita”.


Vejam só: comecei a escrever este texto para criticar Pomar e, depois de 10 itens, concluo que ele está certo. Nada há de contraditório entre Delúbio e o PT. O tesoureiro não combina mesmo é com a direita.


por Reinaldo Azevedo

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