quarta-feira, 11 de março de 2009

Nós que Somos Traço

Sim, o presidente Lula tem uma série de dons. Sua comunicação com quem escolhe presidente por semelhança consigo mesmo o converte num candidato sempre forte. Convence bêbado que água mineral é champanha. E convence abstêmio que champanha é água mineral. Ao longo de seis anos conseguiu não apenas transformar em mérito próprio tudo aquilo que seu antecessor lhe deixou servido numa bandeja como ainda inverteu a situação e lhe devolve a continuidade em forma de ônus. Coisa de deixar o mágico David Copperfield embasbacado.


Quando o governo se encontrou encalhado no mensalão e no Caixa 2, Lula se declarou traído e descobriu ali, entre os odores da crise, a fórmula perfeita para o sucesso: fatura tudo que é bom e joga as encrencas no colo dos demais. E faz isso como política de governo, coisa oficial, que só não virou Medida Provisória porque ele achou preferível adotar como conduta definitiva. Quanto mais tal velhacaria repugna as consciências bem formadas, mais se afirma o fato de que estas são traço nas pesquisas CNT/Sensus.


Só estou me dando ao trabalho de lembrar que as coisas são assim porque até as consciências bem formadas acabam se acostumando e não mais percebendo as constantes manifestações desse procedimento. Agora mesmo, no cenário da borrasca econômica, tudo se repete. E se repete com agravante: a culpa está saindo da esfera política, deixando Brasília de ontem e de hoje, onde estão os culpados de cada vez, e está sendo jogada para cima de certa parcela da sociedade. A artimanha, desta feita, assume claro intuito ideológico.


O leitor certamente sabe que durante os últimos três anos, com o crescimento das atividades econômicas, o número de empregos formais aumentou num ritmo muito positivo em nosso país. Milhões de novos postos de trabalho foram criados. Números realmente impressionantes. O agronegócio (não o negócio do MST) ia bem, as exportações cresciam, o mercado interno se expandia, o PIB aumentava, a indústria rodava em três turnos e as empresas ampliavam seus quadros.


Quem faturou com isso? O Lula. Não eram as empresas, não era cada empresa, cada empreendedor, que estava decidindo ampliar suas atividades e recrutando mais recursos humanos. Não, não. Quem criava empregos era ele, o Lula. Os méritos não cabiam à criatividade empresarial, aos que organizam os fatores de produção, mas à pessoa física do presidente. Pode? Pode, sim. Tanto pode que foi exatamente disso que as pessoas se convenceram. A fé em Lula ficou quase igual à fé em Jesus Cristo. Duvidam? Olhem as pesquisas. Quanto mais as empresas criavam empregos mais aumentava a popularidade de Lula, esse empregador. Agora, com a crise se instalando em proporções alarmantes, as empresas reduzem suas atividades e, consequentemente, seus quadros de pessoal. E a culpa é de quem? Do Lula? Absolutamente não. Ele já deixou claro que a culpa é do maldito empresariado nacional, incompetente para produzir sem mercado e incapaz de pagar a folha de pessoal sem faturamento. Com esse tipo de estrupício dirigindo negócios um país não pode ir para frente, não é mesmo?


Você e eu, nós aqui, traço no CNT/Sensus, ainda nos atrevemos a balbuciar que não é bem assim. No entanto, no grosso da tropa, se instala a idéia de que seria muito melhor transformar o país numa grande empresa entregue a Lula, esse homem sem pecado, de méritos infinitos.


por Percival Puggina

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