Lula participou, como todo ano, de um evento com moradores de rua em São Paulo — ou catadores de papelão (material reciclável), como queiram. Prova de sua humildade? Não! para variar, evidência de sua arrogância. É a sua cerimônia do lava-pés; trata-se de mais uma tentativa, entre muitas, de rivalizar com o próprio Cristo. Poucos se dão conta de que esse negócio mais se parece com a celebração da pobreza do que com o seu combate.
No seu discurso, fica claro que existe um “outro”, um grande ser difuso, que é culpado pela existência dos moradores de rua e que também é contra a solução: “Tem uma parte da sociedade que não quer vocês morando no Centro. Neste país, é assim. Todo mundo quer feira, mas não quer a feira na rua de casa. Todo mundo quer ponto de ônibus, mas não quer ponto de ônibus na porta de casa. Todo mundo quer delegacia, mas não quer próximo. Prisão, então, ninguém quer. Pobre é bom para a gente ver em filme, não para morar no prédio que a gente mora.”
Qual “parte”? Lula culpa um grande “outro” para que possa exaltar a própria e suposta grandeza. Ele tem um ministério que cuida do assunto. Qual é o saldo em sete anos? O programa Minha Casa, Minha Vida está sendo vendido como aquele que já criou um milhão de casas. Deve fechar o ano que vem com menos de um terço disso. Esse programa vai exatamente na CONTRAMÃO DA OCUPAÇÃO DE IMÓVEIS VAZIOS NOS CENTROS DEGRADADOS DAS GRANDES CIDADES. De modo equivocado, ele cria bairros populares em áreas distantes, cujo destino é a degradação, além de ampliar enormemente a demanda por infra-estrutura, o que ferra a vida dos municípios e dos estados.
De resto, que tal comparar os programas existentes em São Paulo para atender aos moradores de rua com os que NÃO EXISTEM em Belo Horizonte, sob o comando do PT até 2008? Aliás, na capital mineira, a prefeitura petista mandou cercar os logradouros públicos que estavam sendo usados como moradia pelos sem-teto. E não apareceu nenhum padre de passeata para reclamar. Lula diria que “há gente que não quer pobre no centro”. Em tempo: sou contra gente morando em logradouro público. As pessoas têm de ser tiradas de lá. Ponto! O público é público. Não pertence nem ao com-teto nem ao sem-teto.
“Pó, você critica tudo o que o Lula diz”. Critico e continuarei a criticar enquanto ele não se livrar dessa compulsão à demagogia egocêntrica, que mistura o discurso populista mais rasteiro com laivos de messianismo.
Perto do Natal, nunca é demais lembrar que, para os crentes ao menos, Messias é um só. Os outros todos não passam de falsos profetas.
por Reinaldo Azevedo
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