Ontem, numa escola técnica em Planaltina, no Distrito Federal, Lula procurou exercitar aquele sotaque de estadista que costuma atacá-lo quando na presença de algum oposicionista — no caso, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM. E então se ouviu a voz do desapego, da tolerância, da convivência dos opostos. Para lembrar um poeta, Aquiles encontrava Heitor, Saul fazia as pazes do Davi...
Leiamos uma vez mais as palavras do Pacificador:
O que eu espero que aconteça no Brasil? Possivelmente, eu não veja isso na minha geração, mas se daqui para a frente, os governantes que vierem a governar o Brasil e as cidades esquecerem que as divergências políticas acontecem até o dia da eleição, terminou a eleição, alguém ganhou e alguém perdeu. Quem perdeu e quem ganhou têm a responsabilidade de trabalhar para que o País dê um salto de qualidade. Hoje, o que acontece? Eu sou de um partido, o Arruda é de outro, o Serra é de outro, o Eduardo Campos, de Pernambuco, é de outro. Se a gente não assumir a responsabilidade de que a gente tem a vida inteira para brigar, que temos apenas quatro anos para governar, e que a gente tem que governar junto, quem perde é a sociedade.
Uma coisa, sobretudo, para formar politicamente a nova juventude, uma coisa importante. O Arruda pertence a um partido e eu pertenço a outro, agora ele é governador e eu sou presidente. Se eu colocar isso na minha cabeça, que o Arruda pertence a um partido que não é o meu e, portanto, eu não vou passar dinheiro para ele, não vou ajudar, quem é que perde? Não é ele que perde. Quem perde são os moradores de Brasília. Da mesma forma que se eu pedir para o Arruda fazer um projeto para fazer um investimento aqui, meio a meio, o que acontece? Se ele tiver má vontade e falar: “Eu não vou fazer, porque eu não vou permitir que esse tal de Lula entre em Brasília”. Quem é que perde? É o Lula? Não. Quem perde é o povo de Brasília.
No entanto...
Esse é o Lula da situação. Mas ele também já foi oposição — aliás, a sua experiência nesse terreno é muito maior. E não houve, naqueles tempos, uma só proposta de sucessivos governos que o PT não tenha sabotado de maneira determinada, deliberada, sistemática, organizada. FHC, mais do que qualquer outro político, sabe bem o que é isso. Por incrível que pareça, no seu caso, a sabotagem sobreviveu ao fim do seu mandato. Lula foi relativamente bem-sucedido na estratégia de apagamento das virtudes daquela gestão, extremando as suas falhas. Na propaganda que o governo fez, em inglês, numa revista estrangeira — a Foreign Affairs —, reconhece-se a “Mr. Cardoso” o mérito da estabilidade da economia. Em solo pátrio, até hoje, Lula fala na “herança maldita”. Recente documento do PT faz o PSDB e o DEM co-responsáveis pela crise mundial porque seriam, pasmem!, “neoliberais”, a exemplo daqueles que teriam provocado o desastre.
“Ah, Reinaldo, por que lembrar essas coisas se, agora, Lula faz a política da mão estendida?” Porque essa conversa é mera parolagem de palanque. No próximo evento, financiado com dinheiro público, para alavancar Dilma Rousseff, ouviremos, de novo, a mesma ladainha do “nunca antes nestepaiz”. Mais uma vez, vai demonizar os adversários, traidores contumazes do povo... Chefe inconteste do PT, vai liberar essa verdadeira máquina de manchar e lavar reputações para, se possível, eliminar os adversários.
No dia 10 deste mês, o diretório nacional do PT divulgou uma resolução sobre a crise mundial, exaltando, claro, as medidas do governo federal. Num determinado trecho, lê-se: “Onde somos oposição, é preciso enfrentar as medidas conservadoras adotadas por governos como os de Yeda Crusius, José Serra e Aécio Neves. Neste sentido, o PT deve estar na linha de frente de toda a mobilização social contra as tentativas de governos e empresários que busquem fazer os trabalhadores pagar a conta da crise.” SIM, O PT SEMPRE ESTÁ NA LINHA DE FRENTE. Como esquecer, por exemplo, que o partido apoiou, em São Paulo, uma greve armada de policiais civis, comandada por uma miríade de sindicatos, alguns deles ligados ao partido?
Serra lançou um pacote de medidas de combate à crise. As oposições, até agora, não têm uma comissão ou coisa que o valha para avaliar as obra do tal PAC — sem dúvida, a maior de todas as mistificações do lulismo. Pois bem: em São Paulo, viu-se algo diferente. Nem bem o governador havia anunciado as medidas, os petistas começaram a desqualificá-las. E encontraram eco na imprensa. Quem dá pinta em jornal elogiando o Babalorixá ou livrando a sua cara de responsabilidades — como fizeram Aécio e Serra — é tucano. Lula, a exemplo do que fez no Distrito Federal, gosta é de elogiar a si mesmo.
Servidores e Yeda
Leiam o que vai no site do PT:
Servidores fazem manifestação contra o governo Serra na quarta (18)
Os servidores públicos de São Paulo realizam manifestação na próxima quarta-feira (18), às 14 horas, em frente à Secretaria Estadual de Gestão Pública, às 14h, na rua Bela Cintra, 847, em defesa da abertura de negociação e respeito à data-base da categoria. Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o secretário geral da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, destaca a importância da unidade e da mobilização dos trabalhadores do setor público e privado, do campo e da cidade, para a derrota da política de Estado mínimo aplicada pelo governador José Serra.
No Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crusius, também tucana, foi vítima de uma boçalidade inédita. Sindicatos de servidores espalharam 300 outdoors estado afora em que a sua imagem aparece ao lado de frases como “Essa é a face da destruição do RS”. A Justiça determinou que a foto fosse coberta, mas as peças publicitárias continuam. Quem lidera a estupidez é o Cpers (sindicato dos professores), ligado à CUT. Sua presidente, Rejane de Oliveira, é filiada ao PT. Nota: Yeda pegou o estado quebrado e conseguiu colocá-lo no azul em dois anos.
De novo, a fala
Por que Lula não diz a seus tontos-maCUTs o que segue?
“Quem perdeu e quem ganhou têm a responsabilidade de trabalhar para que o País dê um salto de qualidade. Hoje, o que acontece? Eu sou de um partido, o Arruda é de outro, o Serra é de outro, o Eduardo Campos, de Pernambuco, é de outro. Se a gente não assumir a responsabilidade de que a gente tem a vida inteira para brigar, que temos apenas quatro anos para governar, e que a gente tem que governar junto, quem perde é a sociedade.”
Não! Isso não vale para eles. Lula quer — e, em muitos casos, consegue — é a leniência da oposição com os desmandos do petismo. Os petistas, por sua vez, não hesitam um segundo em levar para a lama a reputação dos adversários. E que se dane a população. Se preciso, promovem e apóiam greve armada de policiais; se preciso, sabotam o programa de qualificação de professores em São Paulo; se preciso, tentam destruir a reputação da governadora que salvou as finanças do Rio Grande do Sul. Governos não-petistas têm de ser destruídos.
Sabem o que vale aquela fala de palanque de Lula? Nada! Na relação com as oposições, o verdadeiro PT é aquele que tentará promover arruaça hoje em São Paulo. Afinal, Serra conseguiu umas parcas notícias positivas com o pacote anticrise e a elevação do piso salarial no estado. E isso é certamente inaceitável. É preciso combatê-lo. Nem que seja com a sabotagem.
por Reinaldo Azevedo
Um comentário:
Posso saber o que o senhor tem contra a punição dos torturadores da ditadura. Cosideras que deve prevalecer uma anistia (impura) que oculta a violência sofrida pelo país?
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