Por Felipe Werneck, da Agência Estado
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Os milagres vão se multiplicando. O PAC, que, reitero, não existe, teve mais do que dobrada a sua verba da noite para o dia. Sou contra botar aspas nas palavras para mudar o seu sentido. O fato é que Lula nos colocou diante de um problema também de linguagem. Como vamos nos referir objetivamente às desrealidades com as quais ele nos confronta? De pouco mais de R$ 500 bilhões, o PAC saltou para R$ 1,4 trilhão... Hoje foi o dia da multiplicação da habitação popular: na semana passada, anunciou-se a construção de 500 mil casas. Ah, é pouco. Por que não o dobro? E Lula mandou ver: “Eu quero um milhão de casas até 2010. Não gostei do que foi apresentado. Pedi para refazer alguns estudos, e ele pode ser reapresentado a mim até sexta-feira". E adivinhem quem vai lançar o programa, que será apresentado, a exemplo do PAC, como obra já realizada? A mesma Dilma que hoje anunciou o programa de intenções (sic) aos prefeitos.
Estamos diante de uma máquina de propaganda profissional, azeitada, que faz com que a imprensa se esqueça até mesmo de indagar de onde vai sair tanto dinheiro ou quanto dinheiro já foi efetivamente gasto no tal PAC. Tudo se desenvolve numa certa esfera de otimismo onírico.
E, agora sim, falemos dos tucanos: enquanto isso, o que faz o partido de oposição que tem o candidato, seja quem for, que vai afrontar o ungido — ou ungida — por Lula? Fica trocando farpas, passando à opinião pública a sensação da divisão e do desentendimento. Vi há pouco o governador Aécio Neves (MG) na TV falando da necessidade de o PSDB definir, mais do que o candidato, uma proposta para o Brasil etc e tal. Os petistas não têm por que comprar briga com ele agora por razões óbvias: “Que eles se biquem...” Se chegar esse momento, poderiam dizer (e qualquer um de nós, no lugar deles, faria o mesmo): “Ah, Aécio, você quer definir um programa para o Brasil? Então deixa com a gente, que o nosso já está definido. Melhor ficar com o certo do que com o incerto”.
FHC falou em o PSDB pedir uma autorização ao TSE para também sair em campanha. É uma ironia que faz, sim, sentido: afinal, Lula está usando a máquina de maneira, creio, nunca antes vista "nestepaiz"... Mas convenhamos, né? E se o tribunal concedesse mesmo tal licença? O que os tucanos fariam? Iriam a público para dizer que não conseguem se entender? Aquele que aparece como favorito nas urnas vai dizer que não é candidato; o que diz que é candidato não é favorito e sustenta que esse negócio de favoritismo é bobagem — o importante seria o tal “projeto”, uma certa “convergência”... E a gente nunca sabe “convergência” entre quê e o quê...
O filme é velho. Eu diria que já chega a ser um clássico do tucanismo.
por Reinaldo Azevedo
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