A digressão
Há leitores neste blog que acompanham o que escrevo há pelo menos 10 anos. Os há ainda mais antigos. Sabem todos que denuncio, desde sempre, duas máquinas que os petistas operam como ninguém: a de sujar e a de lavar reputações. O partido fará uma coisa ou outra a depender do lado em que esteja o objeto ou do seu mimo ou do seu agravo. É adversário? Então eles sujam, como Lula fez com Roseana e com José Sarney em 2001, no Maranhão (vídeo aqui). Só não chamou os dois de santos. É amigo? Então Lula lava a reputação, como fez com… Roseana e com José Sarney no mesmo Maranhão, em 2006 (vídeo aqui)!!! Os “bandidos” tinha se tornado santos. E é impressionante a convicção com que ele diz tanto uma coisa como outra.
Já coordenei editoria de política em Brasília e sei bem como funciona “a cidade”. Os petistas sempre foram e seguem sendo os grandes pauteiros do jornalismo. Mais: eu os vi atuando numa espécie de linha de produção:
- petista arranja a denúncia;
- repórter noticia;
- Ministério Público decide investigar o acusado;
- e quem caiu na boca do sapo que se vire e, se quiser, dê “o outro lado”.
Esse “fordismo” da lama já havia atingido, por exemplo, o próprio Eduardo Jorge quando secretário-geral da Presidência (governo FHC). Num esforço notável, gigantesco, conseguiu provar a falsidade de todas as acusações de que foi vítima.
Os petistas têm um modelo de ocupação do estado que não data de 2003, ano em que chegaram ao poder. É muito anterior. Quadros do partido infiltrados na administração pública, nas estatais e nos fundos de pensão usam as informações privilegiadas de que dispõem e as licenças que os cargos lhes facultam para bisbilhotas a vida de adversários, produzir dossiês, fazer acusações, ameaçar, chantagear, intimidar. Recentemente, até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi alvo dos “companheiros”.
Por isso mesmo, já escrevi uma vez aqui que a eventual derrota de Dilma Rousseff na disputa presidencial não significará, de modo nenhum, o fim do aparelhamento do estado pelo PT. O partido usaria sua posição privilegiada para tentar fazer o que fazia na gestão FHC: sabotar o governo. Não pensem que alguns jornalistas, que se tornam serviçais do petismo, ignoram o que estão fazendo. Ao contrário: eles integram “A Máquina”. E noto à margem, antes que caminhe para o centro da questão, que é uma tolice considerar que, se todos denunciam todos, então a moralidade sai ganhando. Isso é falso como nota de R$ 3. Algumas das “acusações”, ao longo do tempo, colheram pessoas decentes, inocentes, corretas, que só cometeram o crime de ser adversárias da… “Máquina”.
A QUESTÃO É DE PRINCÍPIO: UM SERVIDOR PÚBLICO NÃO PODE USAR A SUA POSIÇÃO PRIVILEGIADA NO APARELHO DE ESTADO PARA PUNIR PESSOAS AO ARREPIO DA LEI, AINDA QUE ACREDITE ESTAR FAZENDO O BEM. ARROMBADA A PORTA DA INSTITUCIONALIDADE, O MAL SERÁ O SENHOR. E O MAL É A PRÓPRIA TRANSGRESSÃO, POUCO IMPORTA O PRETEXTO OU A JUSTIFICATIVA. ESTE TEM DE SER UM ESTADO DE DIREITO. Vamos ao caso.
Reportagem da VEJA
Reportagem de Otávio Cabral na VEJA desta semana começa a desvendar a MÁQUINA CLANDESTINA petista incrustada no Estado para, abusando de informações privilegiadas e de dados sigilosos de todos os brasileiros, produzir dossiês contra adversários, intimidá-los, chantageá-los, difamá-los. É uma história cabeluda, de arrepiar. Leiam um trecho:
“A máquina petista de produzir dossiês é ampla, bem organizada e atua como um apêndice oficial para satisfazer interesses do próprio governo. E, o mais surpreendente, ela não é abstrata e tem até endereço comercial: a sede da Previ, o poderoso fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Em entrevista a VEJA, o advogado Gerardo Santiago revela que o gabinete da presidência da Previ foi usado como centro de montagem de dossiês para constranger e intimidar adversários do governo. Ex-diretor e ex-assessor da presidência do fundo, Gerardo conta que, cumprindo ordens superiores, elaborou dossiês contra deputados e senadores da oposição. Entre os alvos dos petistas já esteve até o atual candidato à Presidência da República José Serra. “A Previ é um braço partidário; é um bunker de um grupo do PT, uma fábrica de dossiês”, acusa o advogado, que garante ter cumprido missões determinadas diretamente por Sérgio Rosa, que presidiu o fundo até maio passado”.
Vocês precisam ler a reportagem. Vão se lembrar de notícias que circularam na imprensa que tiveram origem no bunker e que se provaram falsas depois. Quem liga? Lembram-se da história de que o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) teria viajado num jatinho de Daniel Dantas? Se vocês recorreram ao Google, encontrarão centenas de referências. Pois é. Saiu dali. E era mentira.
Gerardo Santiago concede uma entrevista à VEJA. Ele confessa que um grupo foi formado na Previ já em 2002 para produzir dossiês contra o governo FHC. Ele alega que o objetivo era proteger a Previ. Sei… E emenda: “DOSSIÊS COM CONTEÚDO OFENSIVO, PARA ATINGIR E DESMORALIZAR ADVERSÁRIOS POLÍTICOS, SÓ NO GOVERNO LULA MESMO, NA GESTÃO SÉRGIO ROSA”. Leiam outros trechos, em que aquela “imprensa patriota” entra como parte do sérvio sujo:
Prossegue Santiago:
“Quando o PT chegou à Presidência da República, os dirigentes botaram a Previ para defender o governo, o partido, o sindicato, a CUT. Hoje, a Previ é um braço partidário, é um bunker de um grupo do PT, uma fábrica de dossiês. A Previ está a serviço de um determinado grupo muito poderoso, comandado por Ricardo Berzoini, Sérgio Rosa, Luiz Gushiken e João Vaccari Neto.”
NOTA, LEITOR: BERZOINI E JOÃO VACCARI NETO ESTIVERAM ENVOLVIDOS COM A CHAMADA OPERAÇÃO DOS ALOPRADOS, EM 2006. Até hoje não se sabe a origem do dinheiro. Não???
Depois de contar que Sérgio Rosa determinou que ele escarafunchasse documentos sigilosos para produzir dossiês contra oposicionistas, a VEJA pergunta o que o chefão fez com o material. Vejam o que Santiago respondeu:
“Em uma sessão da CPI no fim de fevereiro de 2006, o deputado ACM Neto (DEM-BA) estava atacando o governo e perturbando a senadora Ideli Salvatti (então líder do PT no Senado). Então, ela perguntou a um grupo que a assessorava: “Ninguém aí tem nada que possa calar a boca desse moleque?”. Aí eu falei: ‘Senadora, contra o rapaz, não. Mas eu tenho uma munição pesada contra o avô, não serve?’. Ela começou a pular, a comemorar. Ligou para o Sérgio Rosa, e a coisa andou. O Sérgio enviou o dossiê para o gabinete dela. Duas semanas depois, estava tudo na capa da revista Carta Capital (a reportagem foi publicada na edição de 8 de março de 2006).
E quem, afinal, integra “A Máquina”? Santiago faz o elenco:
“O grupo do Sérgio Rosa e do Berzoini é muito forte em todos os bancos públicos e fundos de pensão. Na Previ, dos seis dirigentes, quatro são petistas e ex-dirigentes de sindicatos de bancários. No Banco do Brasil, a maioria dos diretores e vice-presidentes é da mesma linha política. A presidente da Caixa, Maria Fernanda, é da Articulação Sindical Bancária. Os presidentes do Funcef (fundo de pensão dos funcionários da Caixa) e da Petros (fundo de pensão dos funcionários da Petrobras) também foram indicados por Berzoini e Sérgio Rosa.
Encerrando
É isto aí, leitor! Alguém que fez parte da “Máquina”, que trabalhou nela, que invadiu sigilo a serviço do partido — informações que foram parar na mão da líder do governo no Senado —, resolveu abrir o bico. Que fique claro: a entrevista de Santiago denuncia a agressão a direitos protegidos pela Constituição. Sim, trata-se de crimes contra a Constituição. Vamos ver como reagem as instituições. Eis aí: somos, hoje, todos funcionários dos petistas, seus subordinados. Dispõem, como lhes parece melhor, de nossos sigilos, de nossa biografia e, nessa marcha, do nosso destino. Para honra e glória da “Máquina”. Para honra e glória do “Partido”.
Com a palavra, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal, o Congresso e a OAB.
por Reinaldo Azevedo
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