Esqueçam a saúde. Ou a educação. Ou a segurança. Ou a situação calamitosa das estradas. O maior problema do Brasil é a inexistência de uma alternativa política aberta e claramente de direita.
Basta ligar a televisão por esses dias para constatar essa realidade. Nada mais monótono do que eleições no Brasil. E não me refiro somente ao show de horrores e desfile de bizarrices chamado enganosamente de "horário eleitoral gratuito". É que as eleições por aqui já viraram um concurso de esquerdismo, em que cada candidato se esforça por parecer mais antiliberal, mais anticapitalista do que o outro. No Brasil, "direita" é insulto pessoal, e não categoria política. Não surpreende, pois, que o debate político - se é que se pode chamar assim - seja tão raso, tão superficial. Os candidatos passam ao largo de qualquer questão substancial e ficam discutindo quem vai fazer mais operações de varizes e de próstata. É um deserto de idéias, feito de marketing e de bom-mocismo, ou de porralouquice.
A idéia de democracia vigente no Brasil de hoje é uma assembléia de esquerdistas acusando uns aos outros de serem de direita. Que o diga José Serra. Faz uns dias, ao responder alguma barbaridade dita por Lula, o candidato do PSDB à Presidência da República afirmou que quem apóia ditaduras como a de Mahmoud Ahmadinejad no Irã é um "troglodita de direita". OK, Serra. Troglodita é mesmo como deve ser chamado quem apóia regimes em que mulheres são apedrejadas por adultério. Mas por que o "de direita"? Desde quando ser a favor de ditaduras é privilégio da direita? Basta comparar os ídolos da esquerda - Stálin, Mao, Fidel Castro, Che Guevara - com as figuras exponenciais da direita liberal no século XX - Winston Churchill, Ronald Reagan, Margaret Thatcher. Digam-me quem, nessas duas listas, é troglodita e quem é democrata. Aproveitem e me digam que país que se preza não tem um partido forte de direita.
Ah, é de ditadores militares que se está falando, como Franco, Médici ou Pinochet? OK, não há dúvida de que eram tiranos homicidas. Mas quem disse que a direita é sinônimo de regime militar (ou, ainda pior, "fascista")? Tão vítimas dessas ditaduras quanto os esquerdistas, e até mais do que estes, foram muitos liberais e conservadores. Estes, ao contrário daqueles, tiveram um papel muito mais importante na restauração das liberdades democráticas. Não me consta que Tancredo Neves e Ulysses Guimarães fossem esquerdistas. Sem falar no fato irrefutável de que tais ditaduras, por mais horrores que tenham cometido, não chegaram aos pés, em termos de brutalidade e número de vítimas, do mais brando regime comunista.
Essa é a grande tragédia da política brasileira: não há um partido de direita. Há partidos de esquerda, de centro-esquerda, até de extrema-esquerda (geralmente, nanicos que entram nas eleições apenas para denunciar a "democracia burguesa" e fazer proselitismo em favor da revolução). Há partidos para quase todos os gostos, inclusive os inevitáveis picaretas, para os quais as ideologias valem tanto quanto uma nota de 3 reais (há um Partido Liberal, mas que está na base de apoio do governo...). Há de tudo, só não há direita. Onde está uma agremiação política que defenda e pratique, efetivamente, o ideário liberal e conservador, advogando claramente as teses de Hayek e de Milton Friedman? Esta não existe, nem como partido nanico. E não me venham dizer que o DEM, que está até mesmo cogitando fundir-se ao PSDB, é de direita. Em lugar nenhum do mundo um partido que ostenta a expressão "social-democracia" no nome é considerado de direita. Só no Brasil.
Antes que digam: não, não estou dizendo isso porque eu sou um, como diriam Lula e Serra, troglodita de direita. Digo porque a ausência de um partido de direita nas eleições é um fator que explica o baixo nível das campanhas eleitorais. O Brasil deve ser o único país em que nas eleições se discute tudo, menos política. Tentei acompanhar o debate presidencial na Band, há alguns dias. Serra e Dilma ficaram o tempo todo discutindo números e maltratando a língua portuguesa. Marina Silva posou de Marina Silva, um personagem criado por ONGs. A nota dissonante veio de um nanico de ultra-esquerda, que passou o tempo todo acusando os demais de não serem esquerdistas o suficiente. Mudei de canal.
Se você ainda não está convencido da gravidade da coisa, e acha que isto é só muxoxo de um "reaça" inconformado, então preste atenção para esse fato: nem na época da ditadura militar havia uma situação parecida. Durante o regime de 64, havia censura, ou seja, a imprensa não poderia publicar certas notícias e assuntos que desagradavam aos governantes de plantão, mas havia a possibilidade de um pensamento político discordante. Havia uma oposição legal, o MDB - tolhida, intimidada, mas havia. Hoje, a oposição se esforça para parecer o menos oposicionista possível. Evita bater nos petistas e em Lula, pois afinal este é popular. O general Médici também era muito popular.
Diante disso, a frase de Lula - "Que bom que não teremos trogloditas de direita nas eleições" - adquire um ar de ainda maior boçalidade. Ela pode ser lida como um elogio ao pensamento único, o contrário da diversidade política. Pelo menos mentalmente, já vivemos uma ditadura ideológica de esquerda. E isso é louvado pelo supremo mandatário da nação! E o pior: ele é aplaudido!
Já escrevi antes e repito: não é normal uma eleição sem um candidato de direita. Não é normal, nem desejável. É um sinal de uniformização ideológica, de ausência de pluralidade. É desse material que se constroem os regimes totalitários.
Uma democracia sem direita é uma democracia pela metade. Isso equivale a uma ditadura pela metade. É algo tão falso quanto uma democracia que não tivesse partidos de esquerda. Não se trata sequer de pedir votos para candidatos que ostentem posições liberais ou conservadoras. Trata-se tão-somente de garantir o fundamento mesmo da democracia: a pluralidade.
Já tivemos o troglodismo fardado. Agora temos o troglodismo de esquerda. Essa é a ideologia oficial do Brasil.
por Gustavo Bezerra
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