Ao falar - muito contra a vontade, diga-se - de mais essa página vergonhosa da política externa brasileira, Luiz Inácio aproveitou para descer um pouco mais no poço aparentemente sem fundo das baixezas lulistas. "Ninguém é mais democrata do que eu", proclamou o estadista global de Davos, em sua infinita modéstia. "Não se pode dar palpite nos assuntos dos outros países", aproveitou para dizer o professor de relações internacionais.
Qual a contribuição de Luiz Inácio para a democracia no Brasil? (Nem falo mais no caso de Cuba, em que o apreço de Lula e dos companheiros petistas pela democracia é, como está claro, notório.) É a seguinte: em 1985, alegando que a eleição seria indireta, ele ficou contra a eleição de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito no País depois de 21 anos de ditadura militar, e orquestrou a expulsão de três deputados petistas que, contrariando decisão do partido, votaram no mineiro contra Paulo Maluf. Três anos depois, recusou-se a assinar, juntamente com os demais parlamentares do PT, a Constituição democrática de 1988, que pôs um ponto final a décadas de arbítrio. Nesse meio tempo, fez muito barulho, apoiou greves, muitas das quais eleitoreiras, arruinou reputações (algumas das quais trata, hoje, de limpar - afinal, fazem parte da "base alugada" do governo...) e defendeu o calote da dívida externa, entre outras coisas que hoje quer que todos esqueçam. Essa foi a grande contribuição de Luiz Inácio para a redemocratização do Brasil.
Sem falar no compromisso dele, Luiz Inácio, com a estabilidade econômica, uma conquista quase tão importante quanto a redemocratizãção, e esteio de seu governo. É o que demonstra sua oposição ao Plano Real, ao Proer e à Lei de Responsabilidade Fiscal. Luiz Inácio chegou mesmo, à frente de seu partido, então na oposição, a defender o impeachment do então presidente. É que era outro o que fez essas reformas, não ele, Luiz Inácio. Agora, age como se fosse o pai fundador da democracia e da estabilidade da economia, colhendo os frutos de tudo a que se opõs com veemência. Aproveita-se do que outros fizeram e ainda diz, malandramente, que foi ele que fez.
Sobre a não-intervenção nos assuntos de outros países, que agora proclama e defende no caso da tirania castrista em Cuba, também não é preciso ir muito longe para verificar a enorme sinceridade de Luiz Inácio. A não-intervenção, assim como a defesa da democracia, é realmente uma questão de honra para a diplomacia lulista. Menos, claro, se o país em questão for Honduras. Nesse caso, vale até mandar a soberania do país às favas e abrigar um presidente deposto por tentar rasgar a Constituição, permitindo que este use o prédio da Embaixada brasileira para pregar a insurreição e a guerra civil contra um governo constitucional. Intervenção nos assuntos internos de outro país? Atentado à soberania? Imagina...
Um outro exemplo é o Irã. Aqui, a noção de não-intervenção dos lulistas é realmente ímpar. Lula se adiantou ao resultado claramente fraudulento das eleições no Irã, que anunciava a vitória de Mahmoud Ahmadinejad, antes mesmo que os próprios aiatolás iranianos o fizessem. Não contente em dar pitaco na eleição alheia, disse ainda que os protestos da oposição e a violenta repressão aos manifestantes que pediam democracia eram uma disputa entre torcidas de futebol... Interferência indevida? Apoio à tirania? Nada...
Para Luiz Inácio, pedir democracia e respeito aos direitos humanos em Cuba é dar palpite nos assuntos dos outros. Já apoiar um golpista em Honduras e minimizar a repressão no Irã, não. Em outras palavras: dar palpite pode, desde que seja a favor dos amigos, e desde que seja a favor de ditaduras. É a diplomacia aloprada e sua incrível coerência em ação.
Raúl Castro, o tirano de plantão de Cuba, culpou os EUA pela morte de Orlando Zapata Tamayo. Luiz Inácio foi além, e culpou o próprio morto, que "se deixou morrer". Ainda por cima, tripudiou dos dissidentes, dizendo que eles agora seriam "dissidentes do Lula". Conseguiu superar a própria ditadura castrista em ignomínia. Deve-se esperar sempre o pior de Luiz Inácio.
por Gustavo Bezerra
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