Leio na imprensa que vão abrir um Museu para o Lula. O nome oficial do negócio - Museu do Trabalho e do Trabalhador - esconde o verdadeiro objetivo do troço: bajular o Filho do Barril. A idéia partiu do prefeito de S. Bernardo do Campo (SP), berço do petismo, o famoso pelegão Luiz Marinho. O preço da brincadeira? 18 milhões de reais, saídos - surpresa! - dos cofres públicos.
Estimulado por iniciativa tão edificante, motivada certamente pelos mais altos ideais de civismo e de preservação da memória histórica e cultural, resolvi dar minha modesta contribuição aos idealizadores do tal museu. Elaborei uma pequena cronologia com as datas mais marcantes da trajetória do líder mais importante do mundo desde o Gênese. Acredito que será útil para explicar os vídeos e fotografias. Ei-la:
1944 - Nasce o Messias, no sertão de Garanhuns (que fica, na realidade, no agreste pernambucano), de uma mulher que nasceu analfabeta. Na hora do nascimento, dizem, apareceu um arco-íris, as flores desabrocharam e caiu uma chuva que fez correr leite e mal nas barrancas do rio mais próximo. O menino Lula cresce em meio a - e dentro de - animais do pasto, tais como cabritas, vacas e jumentas.
1952 - Em um caminhão pau-de-arara, Lula vai ao Sul Maravilha. Já tinha a idéia de reformar a geografia comercial do mundo e realizar sua grande ambição - comprar a Câmara dos Deputados (30 mil paus a cabeça).
1952 a 1970 - Período formativo na vida do redentor da humanidade. Forçado pelas circunstâncias, Lula tem que trabalhar. Consegue seu primeiro diploma, de torneiro-mecânico no Sebrae. Por alguma razão estranha, ele se esqueceu desse detalhe depois, quando, eleito presidente, disse que aquele era seu "primeiro diploma". Nesse mesmo período, o Brasil passa por transformações radicais, inclusive golpe militar e ditadura. Lula joga bola, namora e perde um dedo.
1971 - Filia-se ao sindicato dos metalúrgicos de São Paulo. Descobre aí uma mina de ouro. Tem tempo bastante para estudar, mas desiste por achar aquilo tão chato quanto andar de esteira (além do mais, os intelectuais acham bonito: operário que se preze tem que falar "menas" e "pra mim fazer"). Em vez dos livros, prefere as assembléias e as partidas do Corinthians.
1974 - Pára de trabalhar para se dedicar ao sindicato, onde faz tudo para que outros parem de trabalhar também. Levado por um de seus irmãos, militante do Partido Comunista, ele se candidata à diretoria do sindicato. Ganha. Começa aí sua ascensão para o Olimpo. Na vida pessoal, conhece uma "viúva jeitosinha" com quem se casa depois de um luto de seis meses (estendido depois, em entrevistas, para três anos).
1978 a 1980 - Com as greves do ABC paulista, Lula dá o grande salto, despontando para o cenário nacional, mundial e intergalático. Age como um mediador entre os patrões e os trabalhadores, aperfeiçoando um estilo que seria comum nos anos seguintes. Gasta seu tempo falando para assembléias de operários num dia e para patrões no outro. Para ambos promete o melhor dos mundos. Vira o xodó da esquerda festiva e dos intelectuais, que o santificam. Em 1979, um artigo do New York Times o apresenta como "herói da classe trabalhadora". O autor, um jornalista norte-americano, é recompensado anos depois, com Lula já na presidência, com a expulsão do país por ter-se referido aos hábitos etílicos do presidente. Conhece Zé Dirceu.
1980 - Momento dramático na vida do Grande Líder: Lula é preso por incitamento à greve e enquadrado na lei de segurança nacional da ditamole do general Figueiredo. Passa momentos terríveis no DOPS paulista, comandado, à época, por seu amigo Romeu Tuma. Tão terrível foi a estada de um mês na cadeia que os prisioneiros resolvem fazer uma greve de fome de três dias: Lula adere, tomando o cuidado de esconder um saco de balas Paulistinha debaixo do travesseiro. Indignado com tamanha arbitrariedade, ele ainda acha tempo para conhecer melhor o "menino do MEP". Por esse trauma, Lula garantiu 6 mil reais mensais em sua conta bancária, a título de indenização como "perseguido político".
No mesmo ano, Lula e mais um grupo de sindicalistas, intelectuais e padres marxistas fundam o PT - Partido do Trambique.
1982 - Candidata-se a governador de S. Paulo. Perde feio. Ainda não tinha descoberto o caminho das pedras - e dos dólares.
1985 - Como presidente do PT, expulsa do partido três deputados que votaram em Tancredo Neves para a presidência. O candidato dos militares, Paulo Maluf, é hoje seu fiel aliado.
1988 - Sob seu comando, o PT se recusa a assinar a Constituição Federal. Passa todo o mandato de José Sarney atacando ferozmente o presidente, também ele hoje seu fiel aliado.
1989 - Candidata-se pela primeira vez à Presidência da República. Perde no segundo turno para Fernando Collor de Mello, hoje também - adivinhem - seu fiel aliado.
1990 - Funda, juntamente com Fidel Castro, o Foro de São Paulo, organização de partidos revolucionários que tem por objetivo "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu". Só em 2005 - quinze anos depois! - a grande imprensa brasileira "descobre" que o Foro existe e é bastante ativo.
1992 - Na crise do impeachment de Collor, descobre o discurso da "ética na política". Nos anos seguintes, passa a interpretar, com maestria, o papel de único político honesto do Brasil. Enquanto isso, seu partido preparava na surdina o maior escândalo de corrupção da História do país.
1994 - Candidata-se pela segunda vez a presidente. Perde no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Acusa o Plano Real, que acabou com a inflação e estabilizou a moeda brasileira pela primeira vez em décadas, de "estelionato eleitoral".
1998 - Candidato pela terceira vez, é novamente derrotado no primeiro turno por FHC. Passa anos atacando veementemente o governo, principalmente aquilo que manterá e de que se beneficiará quando chega ao poder, como as privatizações, o Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal etc. Inclusive o Bolsa-Família ele tratou de copiar da administração anterior, não sem antes condenar, em várias declarações, o "assistencialismo das elites", que leva o povo a "votar com o estômago, não com a cabeça".
2002 - Finalmente elege-se presidente da República no segundo turno, contra José Serra. Em uma de suas primeiras declarações, confessa que tudo que dissera até ali fora mera bravata. Foi aplaudido.
A cronologia se encerra por aqui. O resto da história é de todos conhecida. Ou pelo menos deveria.
Uma boa idéia seria estampar as paredes do museu com frases do companheiro Lula. Algumas sugestões:
"Obrigado, Fidel, por você existir" (sobre seu grande ídolo)
"Todos fazem igual" (sobre o mesmo assunto)
"Fui traído" (ibidem)
"Na Venezuela tem democracia até demais" (sobre o país de Hugo Chávez)
"É uma questão de vascaínos contra flamenguistas" (sobre os protestos por democracia no Irã, durante os quais dezenas de pessoas foram assassinadas pelos agentes do regime)
"Imaginem se todos os bandidos de São Paulo resolverem fazer greve de fome" (sobre os presos políticos na ilha de Cuba, os quais comparou a criminosos comuns)
"Que se foda a Constituição!" (quando expulsou o jornalista que escreveu sobre seu gosto por uma cachacinha)
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