quarta-feira, 18 de abril de 2012

Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo

O texto a seguir foi tirado do livro "Esquerdismo, doença infantil do comunismo – Ensaio de palestra popular sobre a estratégia e tática marxistas", escrito em 1920 por ninguém menos do que o próprio Lenin e disponível online neste endereço: http://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/esquerdismo/index.htm. Nele, Lenin reprova o simplismo e a ingenuidade dos revolucionários radicais, que criticavam quaisquer alianças estratégicas com forças políticas mais conservadores. Vocês verão, também, como o texto é atualíssimo e tem servido de BASE PARA TODAS AS AÇÕES DO PT!


Ao surgir em 1903, o bolchevismo herdou a tradição de luta implacável contra o revolucionarismo pequeno-burguês, semi-anarquista (ou capaz de "namoricar" o anarquismo), tradição que sempre existira na social-democracia revolucionária e que se consolidou particularmente em nosso país em 1900/1903, quando foram assentadas as bases do partido de massas do proletariado revolucionário da Rússia. O bolchevismo fez sua, e continuou a, luta contra o partido que mais fielmente representava as tendências do revolucionarismo pequeno-burguês (isto é, o partido dos "socialistas revolucionários") em três pontos principais. Em primeiro lugar, esse partido, que repudiava o marxismo, obstinava-se em não querer compreender (talvez fosse mais justo dizer que não podia. compreender) a necessidade de levar em conta, com estrita objetividade, as forças de classe e suas relações mútuas antes de empreender qualquer ação política. Em segundo lugar, esse partido via um sinal particular de seu "revolucionarismo" ou de seu "esquerdismo" no reconhecimento do terror individual, dos atentados, que nós, marxistas, rejeitávamos categoricamente. É claro que condenávamos o terror individual exclusivamente por conveniência; as pessoas capazes de condenar "por princípio" o terror da grande revolução francesa ou, de modo geral, o terror de um partido revolucionário vitorioso, assediado pela burguesia do mundo inteiro, já foram fustigadas e ridicularizadas por Plekhanov em 1900/1903, quando este era marxista e revolucionário. [cap.IV]


“Em 1908, os bolcheviques ‘de esquerda’ foram expulsos de nosso partido, em virtude de seu empenho em não querer compreender a necessidade de participar num ‘parlamento’ ultra-reacionário...” [cap. IV]


“O parlamentarismo é uma forma de trabalho; o jornalismo é outra. O conteúdo pode ser comunista em ambas, e deve sê-lo, se os que trabalham num e noutro setor são verdadeiros comunistas, verdadeiros membros do partido proletário, de massas. Mas, tanto numa como noutra - e em qualquer esfera de trabalho no capitalismo e no período de transição do capitalismo para o socialismo - é impossível evitar as dificuldades e as tarefas originais que o proletariado deve vencer e resolver para utilizar em seu benefício pessoas que procedem de meios burgueses, para alcançar a vitória sobre os preconceitos e a influência dos intelectuais burgueses, para debilitar a resistência do ambiente pequeno-burguês (e, posteriormente, para transformá-lo por completo)”.[cap. IV]


“Em 1918, as coisas não chegaram à cisão. Os comunistas ‘de esquerda’ só constituíram, na ocasião, um grupo especial, ou ‘fração’, dentro de nosso Partido, e por pouco tempo. No mesmo ano, os mais destacados representantes do ‘comunismo de esquerda’, Rádek e Bukharin, por exemplo, reconheceram abertamente seu erro. Achavam que a paz de Brest era um compromisso com os imperialistas, inaceitáveis por princípio e funesto para o partido do proletariado revolucionário. Tratava-se, realmente, de um compromisso com os imperialistas; mas era precisamente um compromisso dessa espécie que era obrigatório naquelas circunstâncias.” [cap. IV]


“Imagine que o carro em que você está viajando é detido por bandidos armados. Você lhes dá o dinheiro, a carteira de identidade, o revólver e o automóvel; mas, em troca disso, escapa da agradável companhia dos bandidos. Trata-se, evidentemente, de um compromisso. Do ut des (‘dou’ meu dinheiro, minhas armas e meu automóvel, ‘para que me dês’ a possibilidade de seguir em paz). Dificilmente, porém, se encontraria um homem sensato capaz de declarar que esse compromisso é ‘inadmissível do ponto de vista dos princípios’, ou de denunciar quem o assumiu como cúmplice dos bandidos (ainda que esses, possuindo o automóvel, e as armas, possam utilizá-los para novas pilhagens). Nosso compromisso com os bandidos do imperialismo alemão foi semelhante a esse.” [cap. IV]


“Todo bolchevique que tenha participado conscientemente do desenvolvimento do bolchevismo desde 1903, ou que o tenha observado de perto, não poderá deixar de exclamar imediatamente, depois de haver lido tais opiniões: ‘Que velharias conhecidas! Que infantilidades de ‘esquerda’!’” [cap. V]


“É impossível conceber maior insensatez, maior dano causado à revolução pelos revolucionários ‘de esquerda’! Se hoje, na Rússia, depois de dois anos e meio de triunfos sem precedentes sobre a burguesia da Rússia e a da Entente estabelecêssemos como condição de ingresso nos sindicatos o ‘reconhecimento da ditadura’, faríamos uma tolice, perderíamos nossa influência sobre as massas e ajudaríamos os mencheviques, pois a tarefa dos comunistas consiste em saber convencer os elementos atrasados, saber atuar entre eles, e não em isolar-se deles através de palavras de ordem tiradas subjetivamente de nossa cabeça e infantilmente ‘esquerdistas’”. [cap. VI]


“Os comunistas ‘de esquerda’ são pródigos de elogios a nós bolcheviques. Às vezes dá-nos vontade de dizer-lhes: louvem-nos menos e tratem de compreender melhor a nossa tática, familiarizar-se mais com ela!...” [cap. VII]


“É surpreendente que, com semelhantes idéias, esses esquerdistas não condenem categoricamente o Bolchevismo! Não é possível que os esquerdistas alemães ignorem que toda a história do bolchevismo, antes e depois da revolução de Outubro, está cheia de casos de manobras, de acordos e compromissos com outros partidos, inclusive os partidos burgueses!” [cap. VIII]


“As pessoas ingênuas e totalmente inexperientes pensam que basta admitir os compromissos em geral para que desapareça completamente a linha divisória entre o oportunismo, contra o qual sustentamos e devemos sustentar uma luta intransigente, e o marxismo revolucionário ou comunismo. Mas essas pessoas, se ainda não sabem que todas as linhas divisórias na natureza ou na sociedade são variáveis e até certo ponto convencionais, só podem ser ajudadas mediante o estudo prolongado, a educação, a ilustração e a experiência política e prática...” [cap. VIII]


“... Renunciar a acordos e compromissos com possíveis aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes, condicionais), não é, por acaso, qualquer coisa de extremamente ridículo?” [cap. VIII]


“Colocar obrigatoriamente, a todo preço e imediatamente em primeiro plano a denúncia do Tratado de Versailles, antes da questão de libertar do jugo imperialista os demais países oprimidos pelo imperialismo, é uma manifestação de nacionalismo pequeno-burguês ... podemos e devemos aceitar, se for necessário, uma existência mais prolongada do Tratado de Versailles...a situação atual é de tal natureza, que os comunistas alemães não devem amarrar-se as mãos e prometer a renúncia obrigatória e indispensável ao Tratado de Versailles em caso de triunfar o comunismo. Isso seria uma tolice...”


“Quanto à paz de Versailles, não estamos de modo algum obrigados a rechaçá-la a todo custo e, além disso, imediatamente. Amarrarmos as mãos antecipadamente, declarar abertamente ao inimigo, hoje melhor armado que nós, que vamos lutar contra ele e em que momento, é uma tolice e nada tem de revolucionário. Aceitar o combate quando é claramente vantajoso para o inimigo e não para nós constitui um crime, e não servem para nada os políticos da classe revolucionária que não sabem ‘manobrar’, que não sabem concertar ‘acordos e compromissos’ a fim de evitar um combate que todos sabem ser desfavorável”. [cap. VIII]


“Depois da primeira revolução socialista do proletariado, depois da derrubada da burguesia num pais, o proletariado desse país continua sendo durante muito tempo mais débil que a burguesia, em virtude, simplesmente, das imensas relações internacionais que ela tem e graças à restauração, ao renascimento espontâneo e contínuo do capitalismo e da burguesia através dos pequenos produtores de mercadorias do país em que ela foi derrubada. Só se pode vencer um inimigo mais forte retesando e utilizando todas as forças e aproveitando obrigatoriamente com o maior cuidado, minúcia, prudência e habilidade a menor ‘brecha’ entre os inimigos, toda contradição de interesses entre a burguesia dos diferentes países, entre os diferentes grupos ou categorias da burguesia dentro de cada país; também é necessário aproveitar as menores possibilidades de conseguir um aliado de massas, mesmo que temporário, vacilante, instável, pouco seguro, condicional. Quem não compreende isto, não compreende nenhuma palavra de marxismo nem de socialismo científico, contemporâneo, em geral. Quem não demonstrou na prática, durante um período bem considerável e em situações políticas bastante variadas, sua habilidade em aplicar esta verdade à vida, ainda não aprendeu a ajudar a classe revolucionária em sua luta para libertar toda a humanidade trabalhadora dos exploradores. E isso aplica-se tanto ao período anterior à conquista do Poder político pelo proletariado como ao posterior.” [cap. VIII]


“E se replicarem dizendo que esta tática é muito ‘astuta’ ou complicada, que as massas não a compreenderão, que dispersará e desagregará nossas forças impedindo-nos de concentrá-las, na revolução soviética, etc., responderei aos meus contestadores ‘de esquerda’: não atribuam às massas o seu próprio doutrinarismo!” [cap. IX]


“A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em particular pelas três revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não basta que as massas exploradas e oprimidas tenham consciência da impossibilidade de continuar vivendo como vivem e exijam transformações; para a revolução é necessário que os exploradores não possam continuar vivendo e governando como vivem e governam. Só quando os ‘de baixo’ não querem e os ‘de cima’ não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode triunfar. Em outras palavras, esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que afete explorados e exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir, em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em todo caso, a maioria dos operários conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a fundo a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apática), que reduza o governo à impotência e torne possível sua rápida derrubada pelos revolucionários.” [cap. IX]


É necessário unir a mais absoluta fidelidade às idéias comunistas à arte de admitir todos os compromissos práticos necessários, manobras, acordos, ziguezagues, retiradas, etc....” [cap. X]


“...Não conseguireis nada através unicamente dos hábitos de propagandista, com a simples repetição das verdades do comunismo ‘puro’. E é porque nesse caso a conta não é feita aos milhares, como faz o propagandista membro de um grupo reduzido e que ainda não dirige massas, e sim aos milhões e dezenas de milhões. Nesse caso é preciso perguntar a si próprio não só se convencemos a vanguarda da classe revolucionária, como também se estão em movimento as forças historicamente ativas de todas as classes da tal sociedade, obrigatoriamente de todas, sem exceção, de modo que a batalha decisiva esteja completamente amadurecida, de maneira que
1) todas as forças de classe que nos são adversas estejam suficientemente perdidas na confusão, suficientemente lutando entre si, suficientemente debilitadas por uma luta superior a suas forças;
2) que todos os elementos vacilantes, instáveis, inconsistentes, intermediários, isto é, a pequena burguesia, a democracia pequeno-burguesa, que se diferencia da burguesia, estejam suficientemente desmascarados diante do povo, suficientemente cobertos de opróbrio por sua falência prática;
3) que nas massas proletárias comece a aparecer e a expandir-se com poderoso impulso o afã de apoiar as ações revolucionárias mais resolutas, mais valentes e abnegadas contra a burguesia. É então que está madura a revolução, que nossa vitória está assegurada, caso tenhamos sabido levar em conta todas as condições levemente esboçadas acima e tenhamos escolhido acertadamente o momento”.[cap. X]

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