Em seus primeiros depoimentos, Lungaretti revelou a existência de uma área de treinamento de guerrilhas, organizada e dirigida pela VPR, localizada num sítio da região de Jacupiranga, próxima a Registro, no Vale da Ribeira, a cerca de 250 quilômetros ao sul da Grande são Paulo.
Dois dias depois, foi presa, também no Rio de Janeiro, Maria do Carmo Brito, militante da VPR, que confirmou a denúncia de Lungaretti.
Imediatamente, tropas do Exército e da Policia Militar do Estado de São Paulo foram deslocadas para a área, a fim de apurar a veracidade das declarações dos dois militantes.
Desde janeiro de 1970, a VPR, com a colaboração de outras organizações comunistas, instalara essa area de treinamento sob o comando de Carlos Lamarca ex-Capitão do Exército, abrigando
duas bases, num total de 18 terroristas vindos de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.
As primeiras tropas, ao chegarem à região, em 20 de abril, encontraram apenas 9 terroristas na área, pois 1 já havia saído no início do mês e os outros 8, inclusive um boliviano, retiraram-se na manhã daquele dia, por ordem de Lamarca, em decorrência da prisão de Flozino, um dos proprietários da área. Permaneceram apenas os elementos necessários para desativar as bases.
Na noite do dia 21, um tiroteio marcou o primeiro choque, e, no dia seguinte, foram descobertas uma base e uma área de treinamento, encontrando-se armamento, munição, alimentos, medicamentos, rádios-transmissores, material de acampamento, mapas, fardamentos, bússolas, etc.
Em 26 de abril, foi descoberta nova área de treinamento. Darcy Rodrigues e José Lavecchia haviam permanecido em um Posto de Observação, a fim de acompanhar os movimentos das tropas regulares.
Entretanto, a quebra de seu rádio-transmissor os isolou dos demais terroristas, levando-os a tentar a fuga da área cercada. No dia seguinte, ambos foram presos, quando pediam carona na BR-116.
A partir daí, alguns dias passaram sem que houvesse qualquer contato. Uma parte da tropa da Polícia Militar foi retirada, permanecendo, apenas, um pelotão. Como voluntário para comandá-lo, apresentou-se um jovem de 23 anos, o tenente Alberto Mendes Júnior. Com 5 anos de policial Militar, o tenente Mendes era conhecido, entre seus companheiros, por seu espírito afável e alegre e pelo altruísmo no cumprimento das missões. Idealista, acreditava que era seu dever permanecer na área, ao lado de seus subordinados.
O dia 8 de maio marcou a tentativa de fuga dos 7 terroristas restantes. Alugaram uma "pick-up"e, no final da tarde, ao pararem num posto de gasolina, em Eldorado Paulista, foram abordados por seis policiais militares que lhes exigiram a identificação. Apesar de alegarem a condição de caçadores, não conseguiram ser convincentes. Os policiais desconfiaram e, ao tentarem sacar suas armas, foram alvejados por tiros que partiram dos terroristas que se encontravam na carroceria do veículo. Após o tiroteio, sem mortes, a "pick_up" rumou para Sete Barras.
Ciente do ocorrido, o tenente Mendes organizou uma patrulha, que, em duas viaturas, dirigiu-se de Sete Barras para Eldorado. Cerca das 21 horas, houve o encontro com os terroristas. Intenso tiroteio foi travado. O tenente Mendes, em dado momento, verificou que diversos de seus comandados estavam feridos à bala, necessitando urgentes socorros médicos.
Um dos terroristas, com um golpe astucioso, aproveitando-se daquele momento psicológico, gritou-lhes para que se entregassem. Julgando-se envolvido, o oficial aceitou render-se, desde que seus homens pudessem receber o socorro necessário. Tendo os demais componentes da patrulha permanecido corno reféns, o tenente levou os feridos para Sete Barras sob a intimação de suspender os bloqueios existentes na estrada.
De madrugada, a pé e sozinho, o tenente Mendes buscou contato com os terroristas, preocupado que estava com o restante de seus homens. Interrogado por Lamarca, afirmou que não havia nenhum bloqueio na direção de Sete Barras. Todos, então, seguiram para lá. Próximo a essa localidade, foram surpreendidos por um tiroteio. Dois terroristas, Edmauro Gopfert e José Araújo de Nóbrega, desgarraram-se do grupo (foram presos poucos dias depois) e os 5 terroristas restantes embrenharam-se no mato, levando o tenente da Polícia Militar. Depois de andarem um dia e meio, no. início da tarde do dia 10 de maio de 1970, pararam para um descanso. O tenente.Mendes foi acusado de tê-los' traído, e responsabilizado pelo desaparecimento dos seus companheiros. Por isso, teria que ser executado. Nesse momento, Carlos Lamarca, Yoshitane Fugimore e Diógenes Sobrosa de Souza afastaram-se, ficando Ariston Oliveira Lucena e Gilberto Faria Lima tomando conta do prisioneiro.
Poucos minutos depois, os três terroristas retornaram e, posicionando-se por trás do oficial, Yoshitane Fugimore desfechou-lhe violentos golpes na cabeça com a coronha de um fuzil. Ferido e com a base do crânio partida, o tenente Mendes gemia e contorcia-se em dores. Diógenes Sobrosa de Souza desferiu-lhe outros golpes na cabeça, esfacelando-a. Ali mesmo, numa pequena vala e com seus coturnos ao lado da cabeça ensanguentada, o tenente Mendes foi enterrado.
Alguns meses mais tarde, em 8 de setembro de 1970, Ariston Oliveira Lucena, que havia sido preso, apontou o local onde o tenente Mendes estava enterrado. As fotografias tiradas de seu
crânio atestam o horrendo crime cometido.
Ainda em setembro do mesmo ano, a VPR emitiu um comunicado "Ao Povo Brasileiro", onde tenta justificar o assassinato do tenente Mendes, no qual aparece o seguinte trecho:
"A sentença de morte de um Tribunal Revolucionário deve ser cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos' próximo ao inimigo, dentro de um cerco que pode ser executado em virtude da existência de muitas estradas na Região. O Tenente Mendes foi condenado a morrer a coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado."
Dos 5 assassinos do tenente Mendes, sabe-se que:
- o ex-Capitão Carlos Lamarca morreu na tarde de 17 de setembro de 1971, no interior da Bahia, durante tiroteio com as forças de segurança;
- Yoshitane Fugimore morreu em 5 de dezembro de 1970, em São Paulo, durante tiroteio com as forças de segurança;
- Diógenes Sobrosa de Souza e Ariston Oliveira Lucena foram anistiados em 1979 e vivem livremente no Brasil; e
- Gilberto Faria Lima fugiu para o exterior e desconhece-se o seu paradeiro atual.
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