segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Via Ocidental

O presiMente Lula disse, certa vez, que há "excesso de democracia na Venezuela", no que é imediatamente seguido por seus assessores - Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, principalmente.


Aos que acompanham os acontecimentos naquele país, sabem que há excesso em suas palavras. O perigo é enorme, sobretudo considerando a concentração de poderes em mãos de Hugo Chávez, que segue aceleradamente no projeto de instalar o socialismo naquele país, seguindo os ditâmes do Foro de São Paulo, do qual Lula é um dos fundadores.


O PT, com sua "ética, não poderia ficar atrás neste "momento histórico" para a democracia da região: grita aos quatro ventos que tudo lá se faz segundo os "trâmites da legislação", ao justificar o sufocamento das liberdades, sendo a principal a de imprensa.


Tudo é feito "democraticamente", "legalmente"... Mas com que democracia e legalidade estamos lidando?


Os diversos analistas políticos não percebem o que vem caracterizando a conquista do poder na Venezuela - e, consequentemente, nos outros países em que as esquerdas foram eleitas, como Equador, Bolívia, Brasil etc.


Para eles, a instauração do socialismo ainda retém o "modus operandi" revolucionário: o golpe militar ao estilo da tomada do Palácio de Inverno pelos bolcheviques na Rússia, a guerra civil na China ou os assaltos a quartéis por Fidel Castro e Guevara, em Cuba. É o que chamaremos, aqui, de "via oriental".


O que eles ainda não percebem, é que há outro modo de conquista do poder: é o que podemos chamar de "via ocidental", em que as esquerdas socialistas solapam a democracia por dentro, a partir do jogo legal da política.


Ambas as formas de conquista do poder primam por uma ideia: a de que a democracia é uma estrutura que deve ser eliminada, sendo um mero instrumento de dominação política. Esta ideia é, como sabemos, o ponto nevrálgico do marxismo - e, mais especificamente, do marxismo-leninismo -, que criou a promessa da sociedade socialista, a qual, a partir do "novo homem" que seria sua criatura, seria a redentora da humanidade.


A via oriental caracterizou-se pelo uso da violência explícita, com um partido centralizador, que tanto forma quanto segue as ordens de uma cúpula, organizando seus militantes com uma disciplina férrea, não admitindo qualquer crítica. O exemplo mais bem acabado é o Partido Bolchevique, sob as ordens de Lenin e, depois, de Stalin.


A via ocidental, por sua vez, não usa a violência explícita, ao menos aparentemente. Utiliza, isto sim, os próprios meios democráticos para a captura do Estado e o controle da sociedade.


Esta via ocidental é preconizada nas teorias do socialista italiano Antonio Gramsci: a fim de conquistar o poder, dizia ele, deve-se aparelhar escolas, universidades, órgãos jurídicos, redações de jornais e todo e qualquer órgão que possa influenciar a sociedade, usando a democracia e as liberdades para que se as destrua por dentro - e quando a população perceber, já será tarde demais!


Experiências desse tipo foram utilizadas na antiga Checoslováquia, onde a conquista do poder foi feita por meio de eleições, sendo, depois, os defensores da democracia descartados, inclusive fisicamente. Hitler também chegou democraticamente ao poder, para destruir a democracia.


O que muitos analistas políticos não veem - e grande parte da população não compreende, também - é que é um erro crasso identificar a democracia com a simples realização de eleições. As eleições são apenas uma das condição da democracia, porém não a esgotam. Há outras condições tão ou mais importantes, como:


1) O respeito ao Estado de Direito, o respeito às regras, que não podem ser mudadas segundo o bel-prazer dos governantes;
2) Ampla liberdade de opinião, de organização e de manifestação;
3) Independência total dos Poderes, de tal maneira que haja um equilíbrio institucional;
4) A autonomia dos meios de comunicação, que não devem ser controlados e monitorados pelo Estado;
5) Jogo político onde sejam criadas e mantidas condições para que uma oposição, possa chegar ao poder.


E o que fazem as esquerdas, quando chegam ao poder?
1) Restringem, cada vez mais, o espaço das oposições, passando, progressivamente, a criminalizá-las por exercerem a sua função;
2) Destroem o Estado de Direito - com um Poder Legislativo submisso, o ditador-presidente passa a governar por lei delegada, tornando-se ele mesmo o Poder Legislativo;
3) Sufocam a liberdade de opinião, surgindo o crime de delito de opinião, como o de falar mal do ditador-presidente ou de seus familiares;
4) eliminam a autonomia dos Poderes Legislativo e Judiciário, que passam a seguir as ordens do ditador-presidente;
5) monitoram os meios de comunicação, controlados pela lei de delito de opinião; alguns são estatizados, de modo que as vozes discordantes se calem.


O exemplo mais bem acabado deste jogo "democrático" é Hugo Chávez, na Venezuela. A mais nova tentativa de seguir tais passos é o PNDH III, proposta vergonhosamente feita pelo PT com a ajuda de seus seguidores, os quais eles chamam de "sociedade civil".


E o presiMente Lula deu o maior exemplo desta "democracia" socialista em seu discurso no Forum Social Mundial, em janeiro do ano passado. Vejam o trecho a seguir:


O que nós conquistamos nesses últimos anos foi, na verdade, resultado da morte de muita gente que, muito jovem, resolveu pegar em armas para derrubar os regimes autoritários, no Chile, na Argentina, no Uruguai, no Brasil e em quase todos os países. Morreram, e nós estamos fazendo parte daquilo que eles sonhavam fazer. E conquistamos esse direito pelas vias democráticas.

Cada um de nós disputou uma eleição. Eu perdi quatro para chegar a ser presidente. Chávez, enquanto coronel do Exército venezuelano, tentou encurtar a forma de chegar ao poder. Juntou um grupo de amigos e tentou chegar ao poder. Não conseguiu, foi derrotado, foi preso e, pouco tempo depois, em 1998 e 2000, Chávez virou presidente da República.


Além da fala que glorifica a si próprio, Lula mente ao dizer que perdeu "quatro eleições para chegar a ser presidente", pois disputou 1989, 1994 e 1998, quando realmente perdeu; mas ganhou na quarta vez, em 2002, perpetuando-se em 2006 - e se pudesse, apesar das negativas, ficaria no poder.


Mas veja os grifos que fiz naquele discurso: o que eles têm, hoje, não é resultado direto da morte de muita gente que queria derrubar os regimes autoritários no subcontinente; no máximo, estes regimes acabaram autoritários por causa desta gente que resolveu pegar em armas para instaurar, através do socialismo, um regime ainda mais autoritário: a "ditadura do proletariado".


E vejam que ele louva Chávez ao dizer que ele "tentou encurtar a forma de chegar ao poder" quando "juntou um grupo de amigos". Ele não diz com todas as letras que CHÁVEZ TENTOU UM TRUCULENTO GOLPE DE ESTADO EM 1992 PARA IMPLANTAR O SOCIALISMO!


Vejam que o golpista é incluído no grupo dos "oprimidos" que finalmente chegaram ao poder. Observem que a democracia, para Lula, não decorreu dos esforços dos democratas. Ela nada mais é do que uma conquista daqueles "mártires", como Dilma, Franklin Martins, Genuíno, Vanucchi etc., que, sabidamente, queriam implantar o socialismo no continente. Ele e todos os monstros que se reúnem no Foro de São Paulo seriam os herdeiros destes "valorosos combatentes da liberdade e da democracia".



E é a isto que podemos chamar de "transição para o socialismo", o estágio intermediário: uma vez que sejam vencidas as etapas de eliminação da democracia, os próximos passos concernem à estatização dos meios de produção - principalmente os estratégicos, como os setores de energia e de telecomunicações - e a eliminação da pripriedade privada, através de expropriações ou desapropriações. Estas ações, no linguajar marxista, são sempre tomadas em "benefício do proletariado", resgatando injustiças milenares cometidas pela "burguesia".


Este é o manto moral "humanista" do socialismo, que captura as mentes incautas, provocando a adesão maciça de "intelectuais". Até hoje observamos que o socialismo é dotado de uma aura, enquanto os seus críticos são considerados “hereges”, “imorais”, quase inumanos. Em nome do socialismo tudo é justificado.


Lula e o PT dizem que não há perigo. Lula ulula porque só teremos candidatos de esquerdas nas eleições de 2010. O PT chama seu socialismo de "democrático". Enquanto isto, Hugo Chávez vai transformando a Venezuela numa nova Cuba, com a benção do ditador-mor Fidel Castro, o dono e feitor desta nação arrasada pelo socialismo.


Não há mesmo perigo?

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