Os objetivos da Revolução Comunista
O objetivo final da revolução marxista-leninista é atingir o comunismo - "a última e grande síntese" -, uma sociedade sem Estado e sem classes. Sem classes e, portanto, sem a luta de classes, o comunismo seria a "sociedade perfeita", onde, não havendo contradições, o materialismo histórico não seria aplicado.
Segundo essa ideologia, para a chegada ao objetivo final, terá que ser atingido um estágio anterior, transitório, verdadeiro trampolim para "o salto final". É o estágio do socialismo, da destruição do Estado burguês, sobre cujas ruínas o proletariado erigirá um Estado próprio, caracterizado pela "ditadura do proletariado" sobre as demais classes.
Esta etapa do socialismo marxista-leninista, também chamada de "socialismo cientifico", não deve ser confundida com outros tipos de socialismo, ditos democráticos e não leninistas.
Mas, ainda antes de chegar ao socialismo ou à ditadura do proletariado, os comunistas defendem a existência de um objetivo intermediário, onde seria implantado um Estado do tipo "progressista", cujo governo seria composto pelo proletariado, pelo campesinato e, ainda, por uma parcela da burguesia - a pequena parcela "nacionalista".
Os trotskistas, apesar de se considerarem marxistas-leninistas, não advogam essa etapa intermediária para a implantação da "ditadura do proletariado". Para eles, a revolução, desde seu inicio, terá caráter socialista.
O esquema a seguir apresentado, sintetiza os objetivos dos marxistas-leninistas, a partir da democracia - representada por um triângulo em equilíbrio instável (1).
(1) Embora se nos apresente paradoxal, a defesa, pelos comunistas, da democracia, com as liberdades elevadas ao máximo, ela se justifica. Quanto mais débil e sem defesa a democracia, mais fácil sua dcsestabilizacão e a deflagração do processo de tomada do poder.
Os Caminhos da Revolução
Para atingir seus objetivos estratégicos, a violência tem sido o caminho apontado pelos ideólogos comunistas. Na prática, a história mostra ter sido a violência a tônica de sua revolução. Em nenhum pais do mundo os comunistas lograram alcançar o poder por outra via.
Marx, referindo-se à Comuna de Paris, disse que um dos seus erros fundamentais "foi a magnanimidade desnecessária do proletariado: em vez de exterminar seus inimigos, dedicou-se a exercer influência moral sobre eles" (Marx, K.: "A guerra civil na França", 1933, página 80).
Engels, seu dileto companheiro, complementou: "A violêcia joga outro papel na história, tem um papel revolucionário: é, seguhdo a frase de Marx, a parteira de toda a velha sociedade, é o instrumento com a aj~da do qual o movimento social se dinamiza e rompe formas políticas mortas" (Engels, F.: "A Dühring", Ed. Sociales, Paris, 1950).
Lenin, em seu famoso livro "O Estado e a Revolução", dizia: "A liberdade da classe operária não é possível sem uma revolução sangrenta" (Lenin, V. L: "O Estado e a Revolução", 1935, página 9).
Com tais premissas, baseadas na lei fundamental marxista da transformação e apoiadas nos seus conceitos de moral, compreende-se a fonte da violência (o processo do emprego da violência para a tomada do poder é chamado, pelos comunistas, de "luta de classes").
Embora Marx e Engels insistissem na necessidade universal da violência, chegaram a admitir, em casos especiais, a possibilidade de uma mudança social por meios pacificos. Seria inaceitável
que inteligências tão lúcidas não a admitissem. Sun Tzu já nos ensinava há 500 anos A.C., e é principio de guerra cada vez mais vãlido, que não se faz uso da força quando se pode conquistar os objetivos almejados, a despeito do inimigo, sem fazê-lo. Ademais, o emprego da força apresenta sempre um risco pela resposta violenta que necessariamente provoca.
Para Lenin, a base de toda a doutrina de Marx e Engels está na necessidade de inculcar sistematicamente nas massas a idéia da revolução violenta. No entanto, na sua obra antes citada, ao expor a doutrina marxista do Estado e as tarefas do proletariado na revolução, examina a utilização da violência para a tomada do poder, mas considera, também, a possibilidade da passagem pacifica para o socialismo, bem como trata da necessidade de um estágio intermediário, para a implantação da ditadura do proletariado.
Assim reduzidos às suas formas mais simples, podem ser sintetizados em dois os caminhos utilizados pelos comunistas para a tomada do poder: o uso da violência (ou luta armada) e a "via pacífica".
Ao longo do tempo os objetivos e a estratégia para conquistá-los acabaram por transformarem-se nos pontos fundamentais de divergência entre os comunistas. Em torno delas, Trotsky, Stalin, Mao Tsetung, Kruschev e Fidel Castro, para citar apenas os principais atores dessa história, desenvolveriam suas próprias concepções da revolução.
Essas concepções diferenciadas darão margem a um vasto espectro de organizações, todas intituladas marxistas-leninistas, com as quais travaremos contato.
O Trabalho de Massa
As formas utilizadas pelos comunistas para alcançar seu objetivo fundamental - a tomada do poder -, possivelmente por ter sido Lenin um estudioso de Clausewitz e ter sua própria filosofia da guerra, assemelham-se muito às da conquista de um objetivo militar na guerra, o que nos oferece uma imagem propicia para a compreensão do problema.
Para a conquista de um objetivo na guerra, há um árduo e persistente trabalho de preparação a realizar. As tropas precisam ser mobilizadas e organizadas; devem aprender táticas e técnicas de combate, durante um período relativamente longo de instrução; precisam ser equipadas e supridas de uma quase interminável série de artigos; necessitam de apoio de fogo, de engenharia, de comunicações, de saúde, etc. Deixando de lado uma série de outras necessidades, tais como o conhecimento sobre o campo de batalha, as informações sobre o inimigo, etc., devem, sobretudo, estar moralmente preparadas e possuir determinação e vontade de lutar. Eis, então, que se deslocam para o campo da luta. Chegado esse momento - o da batalha - o combate pode
ou não se realizar. Se o inimigo está organizado, tem forças suficientes e vontade de lutar, haverá, fatalmente, o combate. Se o inimigo, porém, é fraco ou está combalido, mal posicionado ou sem determinacão, ele pode entregar-se praticamente sem luta.
Na terminologia militar, nesta última situação, diz-se que o inimig0 "caiu pela manobra". Sem ser necessário o uso da força, será atingido o mesmo fim: sua submissão à vontade do exército que
empreendeu a operação.
Esses são, pois, os dois caminhos para a conquista do objetivo: o da violência - da luta armada - e o da manobra. Este último, em relação ao anterior, pode ser considerado "pacífico". O árduo trabalho prévio é indispensável para se utilizar ambos os caminhos, porque se ele não existir, não haverá, no momento do combate, a necessária desproporção de força e de vontade, suficiente para que a ação contra o inimigo seja bem sucedida ou o obrigue a render-se sem combater.
Para a tomada do poder pelos comunistas, também existe um trabalho prévio, árduo e persistente, denominado por eles de "trabalho de massa".
O trabalho de massa consiste nas atividades de infiltração e recrutamento, organização, doutrinação e mobilização, desenvolvidas sob técnicas de agitação e propaganda, visando a criar a vontade e as condições para a mudança radical das estruturas e do regime. Entenda-se por "agitação" o que nos define o Dicionário da Língua Russa, de Ojegov: é atuação junto às grandes massas, com o objetivo de inculcar algumas idéias e lemas destinados à sua educação política e a atraí-lós para a solução dos deveres políticos e sociais mais importantes.
Em todos os Partidos Comunistas existe uma Seção de Agitação e Propaganda (SAP), que se encarrega dessa atividade. A teoria comunista distingue, porém, uma atividade da outra: a agitação promove uma ou poucas idéias, que apresenta à massa popular; a propaganda, ao contrário, oferece muitas idéias a uma ou poucas pessoas. Ambos são processos condicionantes.
O trabalho de massa objetiva: incutir em seus alvos a ideologia comunista como a única solução para todos os problemas; minar a crença nos valores da sociedade ocidental e no regime; enfraquecer as salvaguardas e os instrumentos juridicos de defesa do Estado; controlar a estrutura administrativa e influir nas decisões governamentais; e, atuando sobre os diversos segmentos sociais, reeducá-los, organizá-los, mobilizá-los e orientá-los para a tomada do poder.
O trabalho de massa é a preparaçao para o combate. Na hora decisiva da batalha, a sociedade organizada pode reagir e lutar - o que é normal -, ou, se desmoralizada e sem determinação, pode, simplesmente, "cair pela manobra", pacificamente.
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