O episódio é recente e ocorreu em Viamão. Certa escola local fez mutirão para pintar o prédio. Toda a comunidade se envolveu nele. Serviço pronto, escola rejuvenecida, apareceram pixações nas paredes. Durante uma semana a direção investigou o fato. O principal suspeito, ouvido, denunciou outros alunos. Finalmente, foi identificado como sendo ele próprio o responsável. Além de pixador, agira como tremendo mau-caráter. Punição estabelecida e cumprida: diante dos colegas, o rapaz teve que repintar o que havia borrado e que fazer pequenos retoques em outras salas, dado que se havia omitido durante o mutirão da pintura.
Você não imagina, leitor, a confusão que isso gerou. Os pais do aluno, que não haviam mexido uma palha, ou, melhor dizendo, um pincel, na pintura da escola, saíram do sofá e denunciaram a professora à Secretaria da Educação. O assunto ganhou páginas de jornal e foi tema dos principais programas de entrevistas e de debates em rádio e tevê.
Até aí tudo à moda nacional: pais sem critérios, incompetentes para educar os filhos, produzindo cidadãos inadequados à vida civilizada e uma direção de escola que, ao resolver pôr ordem no seu terreiro, contrastou tanto com o contexto vigente que chamou a atenção da mídia estadual.
O que me leva a este artigo foi o que, com os raros cabelos em pé, ouvi de muitos entrevistados sobre o episódio. Estou falando de gente grande. Estou falando de gente da Promotoria da Infância e da Juventude. Estou falando de doutos pedagogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e por aí afora. Estou falando de pessoas qualificadas, portanto, exceções feitas às autoridades educacionais do Estado, que rapidamente extinguiram o processo direcionado contra a professora. Mas a indignação de um eminente promotor com a “humilhação” a que fora exposto o aluno, a sorridente tolerância de um mestre de professores da nossa universidade federal, para quem a transgressão é saudável para o adolescente, etc. e tal, não me saem da cabeça.
Foi durante esses debates que fiquei sabendo de algo surpreendente: desde a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente não existem mais, nos regimentos escolares, punições prescritas para atos que contrariem o que neles esteja estabelecido. Não há mais pena de expulsão. Não há mais pena de suspensão. Não há mais punição alguma! Nestes assuntos, os Conselhos Tutelares mandam nas direções das escolas. Eduque-se alguém nessa bagunça.
Chegava a ser engraçado. Os programas de debate, interativos, ouviam os entendidos e estes, com raras exceções, condenavam a conduta da direção da escola. A opinião pública, por sua vez, a aplaudia de pé, com a aprovação de mais de 95% de ouvintes e telespectadores. Milhares de telefonemas! Eis por que, então, trago o assunto aos meus leitores. Que o episódio sirva de exemplo.
Como assim – “de exemplo”? – perguntará o leitor. Sim, de exemplo para bem compreendermos a origem da esbórnia que se instalou no país. Assistimos ao efeito corrosivo do pensamento marxista que, inspirando as pedagogias dominantes no ambiente acadêmico nacional, conseguiu seu objetivo e virou tudo de cabeça para baixo. E que isso sirva de exemplo, por fim, aos que pensavam estar tudo perdido. Não, não está. O processo em curso corre de rédeas frouxas, é verdade, mas corre contra a imensa maioria da opinião pública. O mais notável nisso tudo é que a minoria ínfima, quando fala, limpa a garganta, estufa o peito, sobe o tom e garante que representa o povo. O povo não é burro nem mal intencionado.
por Percival Puggina
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