A aprovação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva disparou quase dez pontos, segundo a pesquisa CNT/Sensus, divulgada nesta segunda-feira, 22. Lula passou de 69,3% para 77,7%, e voltou ao patamar do primeiro ano de governo, em 2003. A avaliação do governo também subiu de 57,5% para 68,8%. Esse é o melhor resultado da série histórica da Sensus, iniciada em julho de 1998. Mesmo batendo recordes de popularidade, Lula não consegue transferir votos para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a favorita para sucedê-lo, nem para outros candidatos do PT, que aparecem em último lugar em simulações na disputa de 2010, revela levantamento.
Em todas as simulações para as eleições presidenciais em 2010, os candidatos do PT estão em último lugar. Na primeira simulação, na disputa com o governador de São Paulo, o tucano José Serra, Dilma Rousseff teria 8,4% dos votos, contra 38,1% de Serra. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ficaria em segundo lugar, com 17,4% e Heloísa Helena, presidente do PSOL, com 9,9%. Embora em último lugar, Dilma mostrou uma ligeira melhora em relação à pesquisa de abril, quando ficou com 6,2% dos votos na disputa com esses três candidatos.
Numa segunda simulação, na qual Serra é substituído pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, do PSDB, Ciro Gomes lideraria o primeiro turno, com 24,9%, seguido por Aécio, com 18,2%. Heloisa Helena teria 13,4% e Dilma, 8,6%.
Num outro cenário, no qual o candidato do PT seria a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, José Serra lideraria com 37,9%, Ciro Gomes viria em segundo lugar, com 18,9% e Marta ficaria com 5,9%. Numa quarta simulação, o candidato do PT seria o ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que ficaria com 2,7% dos votos. Nesse cenário, Serra teria 38,5%, Ciro Gomes, 19,6% e Heloisa Helena, 10,6%.
A CNT/Sensus mostra que nas simulações para o segundo turno das eleições presidenciais em 2010 os candidatos tucanos sairiam vitoriosos. Em um cenário em que a disputa seria entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), Serra venceria com 51,4% dos votos, enquanto Dilma teria 15,7%. Embora continue muito atrás, Dilma apresentou uma melhora em relação à pesquisa de abril, quando Serra teria 53,2% dos votos e ela, 13,6% dos votos.Numa segunda simulação, em que a disputa seria por Aécio Nevers (PSDB), Dilma ficaria com 18,4% dos votos e o candidato tucano venceria com 34%. Num terceiro cenário, no qual disputariam José Serra e Patrus Ananias (PT), o tucano venceria com 55,1% dos votos e o candidato do PT teria 7,7%. Num último cenário, no qual Serra disputaria com Ciro Gomes (PSB), Serra venceria com 47,1% dos votos e Ciro Gomes ficaria com 22,5% dos votos. A pesquisa CNT/Sensus foi realizada de 15 a 19 de setembro e ouviu duas mil pessoas em 24 Estados. A margem de erro é de 3 pontos, para baixo ou para cima.
O diretor da Sensus, Ricardo Guedes, avaliou que ainda não há transferência de votos do presidente Lula para os candidatos do PT, mas lembrou que a ministra Dilma Rousseff, tem subido paulatinamente nas pesquisas e que, por não serem nomes que estão no cenário político, os candidatos do PT ainda têm chances de crescer com o início da campanha eleitoral. "São nomes mais recentes, que precisam ser feitos", disse Guedes.
Segundo ele, nomes que deixaram de participar do cenário político, como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, por serem mais conhecidos da população, teriam mais chances de melhor colocação nesse momento nas pesquisas. Guedes lembrou que, em Minas Gerais, o candidato a prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda, apoiado por Aécio Neves, do PSDB e por Fernando Pimentel, do PT, começou a campanha com 3% dos votos e deve chegar ao segundo turno.
Qualidade de vida e Lula
A avaliação regular do governo caiu de 29,6% para 23,2%, enquanto que a avaliação negativa teve uma redução de 11,3% para 6,8%. A desaprovação do presidente Lula caiu de 26,1% em abril para 16,6% em setembro.
A pesquisa revela ainda que 61,5% dos entrevistados acham que a qualidade de vida melhorou nos últimos quatro anos, enquanto que 11,6% consideram que houve uma piora, e 25,8% acham que está igual. Segundo o diretor da Sensus, Ricardo Guedes, a avaliação sobre a qualidade de vida é um bom referencial sobre a possibilidade de o presidente Lula fazer seu sucessor. Segundo ele, esse indicador é utilizado nas eleições dos EUA e mostra que candidatos com índice acima de 50% tendem a fazer seu sucessor.
Qual será o efeito da pesquisa CNT-Sensus, que reforça, com números ainda mais vistosos, o que já havia sido apontado pelo Datafolha? A volta do “Movimento Queremista", o “Queremos Lula”. Não acho que dê em alguma coisa, mas é claro que vão tentar.
Não parece compreensível aos petistas que tenham um presidente aprovado pela maioria dos brasileiros, mas que não consigam fazer o sucessor. Conviver pacificamente com isso significa aceitar o princípio da alternância do poder. E eles o acatam apenas formalmente — de fato, acham que não tem de ser assim. A maioria acredita que está operando uma revolução no poder. E revoluções têm de andar sempre para a frente. Logo, entregar o poder por quê? Vão tentar ficar ali.
Não que o petismo vá ser apeado pra valer mesmo que o presidente venha a ser José Serra ou Aécio Neves. De algumas instâncias do estado e do “para-estado” (se me permitem o neologismo), eles jamais sairão: fundos de pensão e estatais, por exemplo. A razão é simples: chegam lá por meio da máquina sindical. Aliás, caso a oposição realmente vença, será preciso tomar cuidado com a sabotagem. Já escrevi isso aqui diversas vezes.
Mesmo com o apoio da maioria — e sendo o mais lembrado para a Presidência no voto espontâneo, com mais de 23% —, não creio que Lula consiga viabilizar o terceiro mandato. Mas também é besteira achar que um candidato, ou candidata, do governo está fora do jogo. Quando Lula entrar pra valer na disputa presidencial, dando suporte a alguém, essa realidade muda.Escrevi sobre isso nessa madrugada. Se o seu discurso é hoje beligerante e messiânico como é, imaginem em 2010, quando ele tentará um “Eu ou Eles”. Sempre que algum cretino afirmar que Lula prefere eleger um candidato de oposição para voltar mais forte em 2014, vocês saltem de banda, saiam de perto do sujeito, enfiem a mão no bolso e saiam assoviando... Melhor a solidão. Se Lula conseguir eleger um aliado à Presidência, torna-se o condestável da República. Será, se quiser, o candidato do PT em 2014, pouco importa quem esteja na Presidência. É uma questão de hierarquia. Ele sempre fez o que quis no partido e fará enquanto for vivo. Porque sabe que é bem mais abrangente do que a legenda. Mas me desviei um pouco. Retomo.
Essa disjuntiva entre a avaliação positiva de Lula e a possível eleição, segundo números de hoje, de um candidato de oposição não continuará assim, como está, com essa boca de jacaré: candidata petista lá embaixo; aprovação de Lula lá em cima. As duas trajetórias tendem a se aproximar — ainda que jamais coincidam porque inexiste transferência absoluta de prestígio e de votos.
Os números, dada a realidade, são favoráveis à oposição, em especial a José Serra — mesmo com o PSDB pisando no tomate de modo formidável: troca tapas em São Paulo; junta-se ao PT em Minas... Mas cumpre tomar cuidado. Dilma tem esse índice baixo porque, com efeito, é ruim de cintura. A insistir nela, o partido a fará passar por um intenso trabalho de construção de imagem. Nada que o PT não possa fazer: dispõe de gente competente pra isso e de recursos.
E esse super-Lula, ainda que não esteja — e não estará — com essa bola toda em 2010, vai partir com tudo para tentar fazer o sucessor. A única saída das oposições é a força total. O que é “força total”? Para começo de conversa, PSDB e DEM teriam de estar juntos — tomara que as barbeiragens de São Paulo não atrapalhem. Mais: as duas principais lideranças tucanas, José Serra e Aécio Neves, têm de estar engajadas num mesmo projeto. Isso vai acontecer? Vocês sabem: desde que Lula chegou ao poder, nunca ninguém perdeu dinheiro apostando que o PSDB faria uma besteira.
Apesar do formidável desempenho de Lula nas pesquisas, é o PSDB que está com a arma na mão. O temor de quem aposta em alternância de poder é que ele dê um tiro no próprio pé. Como de hábito.
por Reinaldo Azevedo em seu blog na Veja On-Line
Nenhum comentário:
Postar um comentário