O primeiro-ministro russo Vladimir Putin declarou nesta quinta-feira, 25, que as relações de seu país com a America Latina serão a maior prioridade de Moscou. Ele também disse ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, que está em visita a Rússia, que está disposto a compartilhar com Caracas o uso pacífico de energia nuclear. "Estamos todos prontos para considerar a possibilidade de operar na esfera da energia atômica pacífica", declarou Putin durante o encontro com Chávez na residência do premiê em Novo-Ogariovo, nos arredores de Moscou, informaram as agências russas.
O premiê também anuncio que a Gazprom - companhia de gás russa - está pronta para começar a explorar hidrocarbonetos na costa venezuelana no final de outubro. "Estou muito contente de informar que está planejado o lançamento da primeira torre de perfuração da Gazprom para o fim de outubro", declarou.
Chávez, por sua vez, disse considerar que a manutenção de relações mais próximas entre Caracas e Moscou ajudará a fortalecer um mundo multipolar. A oferta de apoio ao presidente venezuelano, um forte crítico ao governo americano, aparece dias depois da Rússia bloquear um encontro entre chanceleres de grandes potências nas Nações Unidas em Nova York para discutir sanções contra o Irã por seu programa nuclear.
"Eu não posso deixar de agradecer você pela cordialidade na recepção da equipe de nossos aviões bombardeiros estratégicos que passaram vários dias na Venezuela", disse Putin a Chávez. Ainda nesta quinta, Moscou anunciou um empréstimo de US$ 1 bilhão à Venezuela para que o país latino compre armas russas.
A Venezuela já comprou caças de combate, tanques e rifles da Rússia. O país também quer adquirir sistemas de defesa aérea, outros modelos de tanques e mais equipamento de combate, informou o jornal Kommersant.
Em uma segunda manobra militar, navios de guerra da Rússia dirigem-se ao Caribe para se juntarem em exercícios militares com a Venezuela. Moscou deixou claro que os recentes exercícios são uma resposta aos EUA, que no mês passado enviaram navios de guerra à Geórgia com ajuda humanitária, o que foi altamente criticado pelo Kremlin.
O cruzador nuclear "Pedro, o Grande" encabeça a frota russa que segue para Venezuela. O envio é a maior mostra do poderia militar russo na região do continente americano desde o fim da Guerra Fria. A Rússia intensificou recentemente seus contatos com Venezuela, Cuba e outros países latino-americanos, ao mesmo tempo em que aumentam as tensões entre Moscou e Washington.
Quando acabou a União Soviética, não se ouviu um único choro da Cortina de Ferro pra lá. Era impossível colher uma só lágrima de descontentamento — a não ser de uma parte do antigos aparelhos de estado que foram desmobilizados; outra se adaptou bem depressa ao novos regimes, uns mais, outros menos democráticos. Onde o fim do socialismo foi mais pranteado? Onde as carpideiras se vestiram de negro para encomendar o defunto? Onde intelectuais se declararam de luto para lastimar um mundo unipolar? Ora, no Ocidente, é claro, especialmente nas democracias. Há 17, 18 anos, não se tinha clareza ainda de uma China emergindo como potência global. E se vislumbrou, então, um mundo terrível, inteiramente entregue à hegemonia americana.
Pois bem. As carpideiras podem agora relaxar, não é mesmo? O mundo unipolar era só uma fantasia do antiamericanismo. Temos a China como a grande alavanca da economia dos países emergentes. E, mundo afora, é grande a torcida para que o regime que entronizou o terror e a tirania como método não sofra qualquer abalo. Somos todos mais ou menos dependentes daquele quase um quarto da população mundial que vive debaixo de vara.
E a Rússia está de volta ao cenário mundial, como se viu com a sua ação tão, como direi?,convincente na Geórgia. E agora vem dar em águas latino-americanas, aproveitando para fazer chicana com um bandoleiro como Hugo Chávez. Acordo nuclear para fins pacíficos? Com um doidivanas? Talvez seja mesmo a hora de os EUA elegerem um presidente havaiano. Quem sabe ele consiga manter um diálogo “construtivo” com Rússia e Venezuela, e o primeiro país decida manter a sua influência no continente, “mas só um pouquinho”, como na lábia dos antigos sedutores...
Não se cumpriu a fantasia do mundo unipolar, é evidente. O que temos aí é um mundo, com efeito, multipolar, quem sabe um quadrilátero, com EUA, Europa, Rússia e China. Um do lados é uma tirania explícita. Outro recorre a todos os instrumentos do regime democrático para solapar a democracia. A Europa, por mais que se esforce, não consegue sair da irrelevância — quem dá bola para o que pensam os europeus? Às vezes, nem os europeus... E há os EUA, que continuam, não raro, a ser objeto de ódio no próprio Ocidente.
Nunca consegui saber o que as democracias ocidentais perderiam de importante com a possibilidade do tal mundo unipolar, que provocava tantos sustos. Mas sei o que estamos ganhando com o atual multipolaridade: um Irã que continua a desenvolver o seu programa nuclear, protegido por Rússia e China; uma Venezuela que caminha para a ditadura explícita buscando ancorar-se nos russos, e, o mais grave de tudo: a aceitação tácita, também entre nós, de que a democracia é só uma das escolhas entre outros sistemas aceitáveis e eficientes. E já há quem desconfie se é mesmo a melhor escolha, agora que se sabe que economia de mercado com ditadura é bem mais fácil de ser manejada.
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