Um amigo meu enviou-me a seguinte notícia por e-mail: de acordo com pesquisa recente, cientistas norte-americanos comprovaram que as opções políticas têm uma base biológica. Quem se identifica mais com as posições de direita, por exemplo, é movido principalmente pelo medo. Isso ajudaria a explicar muitas das escolhas políticas da direita norte-americana, que seria mais desconfiada e mais precavida contra ameaças como o terrorismo. Em outras palavras: direitistas seriam mais medrosos. Como sou um reaça e um troglodita fascista, do tipo que vê comunistas até embaixo da cama, meu amigo conclui no e-mail, em tom de brincadeira, que eu sou um "amarelão".
Sou tentado a concordar com o resultado da pesquisa, mas por um motivo, digamos, diferente. Concordo que o medo, pelo menos nos EUA, é um fator de diferenciação da direita norte-americana dos que seriam os representantes da esquerda (lá eles são chamados de "liberais"), os apoiadores de Obama e do Partido Democrata. Mas estou longe de considerar isso algo negativo. Pelo contrário.
O medo é um instinto altamente salutar e progressista. É uma condição da sobrevivência. Sem ele, não há civilização. É o medo que tem garantido, até o momento, a existência da própria humanidade. Foi o medo dos predadores e das intempéries que levou o homem a desenvolver a técnica e dominar a natureza. O medo, em suma, é um elemento indispensável a uma visão realista do mundo, de seus riscos e perigos, e à preservação da espécie.
Ao contrário, a ausência de medo, o destemor absoluto, cheira a imprudência e a namoro com o perigo. Pior: beira a ingenuidade. O sujeito que não tem medo, em política, vira um bobalhão, um leso, sendo facilmente enganado pelo primeiro malandro e espertalhão que aparecer. Em outras palavras, aquilo que, em outros tempos nem tão distantes, se chamava de "inocente útil" (prefiro o termo em inglês: useful idiot, literalmente, "idiota útil"). É o medo, a prevenção contra seus inimigos, o que garante a democracia. Ao contrário, a falta de medo, a confiança excessiva, costumam preceder seu fim. Foram políticos demasiadamente confiantes e sem medo que fecharam os olhos para o expansionismo hitlerista nos anos 30, que resultou na Segunda Guerra Mundial. Foram homens destemidos que permitiram várias vitórias dos comunistas durante a Guerra Fria, como na China, em Cuba e no Vietnã. E são valentes democratas, sem um pingo de medo do terrorismo islamita da Al-Qaeda, que atacam sem tréguas a política de Bush no Iraque, acusando os republicanos, como McCain e Sarah Palin, de terem uma visão por demais hobbesiana do mundo.
Por outro lado, é preciso muita coragem para ser de direita no Brasil. Aqui, como se sabe, alguém se dizer de direita equivale a tirar um passaporte para o ostracismo, um verdadeiro atestado de óbito social. O sujeito é tachado com os piores adjetivos, e imediatamente se torna um pária, um excluído. Não por acaso, nenhum intelectual ou professor universitário se atreve a fazê-lo, por receio de ter as portas fechadas para ele. Nas escolas, universidades, redações de jornal, até na mesa de bar, quem quer que se diga abertamente de direita terá de enfrentar uma muralha de unanimismo esquerdista construída por décadas de doutrinação ideológica, segundo a qual "capitalismo" é a encarnação do mal, e "socialismo", o bem absoluto. Vigora no Brasil um espírito de manada, pelo qual destoar da maioria e pensar com a própria cabeça é a pior das heresias. Muita gente, diante disso, acaba desistindo de expor suas opiniões e termina acompanhando a multidão, temendo ferir suscetibilidades e criar desafetos. Entre ter uma opinião e ser boas pessoas, ficam com a última opção. De certo modo, o Brasil é uma república soviética.
Aliás, por estas bandas, é preciso coragem até para ter medo. Que o diga a atriz Regina Duarte, que foi quase crucificada e ridicularizada em 2002. Vocês se lembram. Naquele ano, durante as eleições presidenciais, ela ousou ir à TV confessar que tinha medo do Apedeuta. Os fatos que se seguiram, principalmente em 2005, o Ano do Mensalão, deram-lhe razão. Regina Duarte certamente não sabia o que viria a seguir, nem quais eram as verdadeiras intenções de Lula e dos petralhas, principalmente em economia; por isso, disse que tinha medo. Era o desconhecimento que alimentava seu temor. Muita gente ainda acha que ela estava exagerando, pois afinal a política econômica adotada pelo governo Lula mostrou-se correta. Para mim, este é mais um motivo para ter um pé atrás com os lulistas: quem se converte repentinamente ao que sempre condenou com todas as forças apenas porque chegou ao poder, sem nenhuma confissão nem arrependimento, não revela lucidez nem bom senso, mas apenas desonestidade.
Quando confessou seu medo na TV, Regina Duarte não sabia nada, e continua não sabendo, sobre o Foro de São Paulo, as articulações de Lula e cia. com os protoditadores Hugo Chávez e Evo Morales, as ligações dos petistas com os narcoterroristas das FARC, os objetivos antidemocráticos e pró-totalitários da turma do PT e seus aliados, as tentativas de calar a imprensa, a devoção quase religiosa de Lula por Fidel Castro etc. Nem tampouco sobre a gigantesca lavagem cerebral gramsciana a que a população brasileira está sendo submetida, sem se dar conta, há pelo menos trinta anos, e para a qual somente um punhado de medrosos e amarelões direitistas, paranóicos e conspiracionistas, prestam atenção e denunciam. Diante disso, é de se perguntar: é para ter medo ou não é?
Até mesmo para ter medo e denunciar os lulistas é preciso ter coragem no Brasil. A que ponto chegamos.
por Gustavo Bezerra no Blog do Contra
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