Um vídeo de um minuto e 17 segundos começou a circular ontem na internet, com um alto poder profético: o maior indigenista do Brasil, Orlando Villas Bôas (1914-2002), antecipou há oito anos, em tom de anunciação, a atual polêmica sobre a devastação da Amazônia e o conflito entre agricultores e a Polícia Federal, na reserva indígena Raposa Serra do Sol, a noroeste de Roraima, na fronteira entre a Venezuela e a Guiana, região que conhecia muito bem, por sua proximidade com os índios ianomâmis.
Há uma forte pressão da comunidade internacional na ONU (Organização das Nações Unidas) para a criação de um país Ianomâmi. Em entrevista ao programa "Expedições", gravado em 2000 e exibido na íntegra em 2003, Villas Bôas denunciou justamente a fundação do Estado Ianomâmi, entre Brasil e Venezuela com apoio estrangeiro, e a decorrente agressão ao meio ambiente que se seguiria.
A entrevista foi concedida à jornalista e apresentadora do programa, Paula Saldanha. O indigenista explicou, então, com impressionante conhecimento de causa, que as maiores reservas de urânio do País – principal fonte de energia para usinas nucleares – localizavam-se naquele estado e dentro da reserva ianomâmi.
"Nós já sabemos de fonte muito boa que dez ou 15 ianomâmis estão na América (Estados Unidos) aprendendo inglês e política", revelou Villas Bôas na entrevista.
Segundo Paula Saldanha, a entrevista do indigenista foi contundente e muito mais voltada para a questão da Amazônia. "Ele estava preocupado com a pressão das ONGs estrangeiras em Rondônia e com a imprensa dos Estado Unidos em afirmar que o Brasil não sabia cuidar de seus índios. Isso aconteceu na década de 1980 e início dos anos 1990", comenta a jornalista, ao recordar daquele trabalho.
O filho do indigenista, Orlando Villas Bôas Filho, destaca que o pai foi um profeta. "Ele fez um alerta: o Estado deveria cuidar de melhor de sua riqueza natural".
Comunidade grande – Os Ianomâmis são índios que habitam o Brasil e a Venezuela. No Brasil, somam 15 mil indivíduos distribuídos em 255 aldeias relacionadas entre si, em maior ou menor grau. À noroeste de Roraima estão situadas 197 aldeias, que somam cerca de 10 mil índios. Ao norte do Amazonas estão situadas mais 58 aldeias que somam 6.510 pessoas, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde, de setembro de 2006.
Na Venezuela, somam cerca de 12.000 pessoas residentes no sul dos Estados de Bolívar e Amazonas.
Na próxima terça-feira, 10, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) promove o seminário "A realidade da Amazônia – Soberania ameaçada, farsa ou realidade", com a participação de outros especialistas no tema.
Uma dos pontos de discussão será o mapeamento do subsolo da região da Amazônia onde aparecem jazidas de minérios como alumínio (muito utilizado na indústria nacional), ouro, estanho, manganês e linhito (um tipo de carvão).
por Sergio Kapustan, no Jornal do Comércio, em 04/06/2008De acordo com ele, o objetivo da viagem era criar "um estado desmembrado", entre Brasil e Venezuela. "Eles vão voltar em um ou dois anos, talvez eu não vá assistir, falando inglês com uma outra mentalidade (....) E a ONU vai dar e dará como tutora no começo dessa nova nova gleba a América do Norte. Amor dos americanos pelos ianomâmis? Não, senhor", declarou o indigenista, com a franqueza que lhe era peculiar.
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