Antes refratários à perda da prerrogativa, agora muitos políticos se posicionam contra a sua existência. Não, não se trata de uma onda de moralidade. Ao contrário. O que move a aprovação da nova lei é a velha má intenção dos espertalhões. Nos bastidores, a articulação para aprovar o texto tem contado com o empenho dos mensaleiros, os personagens do maior escândalo político do governo Lula, flagrados pagando e recebendo propinas. São eles hoje os principais apoiadores da emenda, e por uma razão elementar: eles querem continuar impunes. Vêem no fim do foro privilegiado a única maneira de escapar de uma provável condenação por crimes que vão de corrupção a formação de quadrilha.
Hoje, existem cerca de 450 processos contra políticos tramitando nos tribunais superiores de Brasília. Não há um único caso de condenação. No fim do ano passado, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, numa sessão histórica, transformou em réus quarenta pessoas, algumas delas expoentes de primeira grandeza no Congresso e no Executivo havia bem pouco tempo. Por empenho e dedicação pessoal do ministro, o processo tem se mostrado célere, o que preocupa os mensaleiros acusados. Prevendo um desfecho incomum para o caso – a real possibilidade de cadeia –, o grupo começou a buscar alternativas para manter a tradição de impunidade dos crimes que têm políticos como personagens principais.
Os mensaleiros se reúnem periodicamente em São Paulo para discutir estratégias. De um dos últimos encontros, que contou com a presença do ex-deputado bispo Rodrigues e dos deputados Valdemar Costa Neto e João Paulo Cunha, entre outros próceres republicanos, veio a solução: ficou decidido que a melhor alternativa para escapar da Justiça seria protelar o julgamento do caso até a sua prescrição legal. Como fazer isso? Aprovando a emenda que põe um ponto final no foro privilegiado – o que, além do mais, conta com a simpatia da população.
O deputado Regis de Oliveira, autor do relatório aprovado na semana passada, calcula que o projeto de emenda constitucional pode ser sancionado até o início de 2009. Se isso ocorrer, o processo dos mensaleiros deixará o STF e irá para a Justiça comum. A diferença a partir daí é que os réus ganhariam condições de usar toda sorte de chicana jurídica para atrasar a tramitação – o contrário do que ocorre no Supremo, em que uma eventual condenação seria definitiva, sem nenhuma possibilidade de recurso ou protelação. Os ministros do STF anunciaram que pretendem concluir o julgamento em, no máximo, dois anos. Já na Justiça comum, em caso de uma eventual condenação os acusados ainda poderiam recorrer a pelo menos outras duas instâncias, inclusive ao próprio Supremo Tribunal Federal. Os advogados dos mensaleiros fazem a matemática da enrolação. Num prazo de seis anos, em média, os principais crimes cometidos pela quadrilha estariam legalmente prescritos.
"Isso é ótimo. Muito bom mesmo", comemorou na semana passada um ex-deputado federal que integra o rol dos acusados, depois da aprovação do projeto na Comissão Especial que analisou a emenda. "Agora, é só fazer o trabalho de bastidor." O trabalho de bastidor, segundo ele, consiste em mobilizar todas as bancadas dos partidos envolvidos no mensalão para aprovar a emenda no menor prazo possível.
Entre os interessados estão o PT, o PR, o PTB, o PP e o PMDB. Juntos, eles somam 276 votos na Câmara e 45 no Senado. Com o apoio dos demais partidos aliados da base do governo, eles teriam número suficiente para aprovar a emenda nas duas casas. O ex-ministro José Dirceu, apontado como o chefe da quadrilha, confidenciou a um aliado que não se envolveu nas negociações sobre o fim do foro especial. Ele garante que prefere ser julgado pelo STF, que, acredita, o absolverá das acusações de corrupção ativa e formação de quadrilha.
Entre os interessados estão o PT, o PR, o PTB, o PP e o PMDB. Juntos, eles somam 276 votos na Câmara e 45 no Senado. Com o apoio dos demais partidos aliados da base do governo, eles teriam número suficiente para aprovar a emenda nas duas casas. O ex-ministro José Dirceu, apontado como o chefe da quadrilha, confidenciou a um aliado que não se envolveu nas negociações sobre o fim do foro especial. Ele garante que prefere ser julgado pelo STF, que, acredita, o absolverá das acusações de corrupção ativa e formação de quadrilha.
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