A crise em curso no governo gaúcho é grave e de destino imprevisível. Com o vice-governador alegando possuir mais gravações; o delegado-chefe da Polícia Federal (PF) local afirmando certeza de que há algo de errado no Banrisul; a CPI do DETRAN fervendo acima de 100º e a governadora dando um “reset” no seu governo em pleno auge da turbulência, tudo pode acontecer.
Decidir num cenário assim envolve enorme risco de erro. A análise da cena política requer cautela ante a dificuldade de um juízo objetivo e de prognósticos seguros.
A queima de capital político do governo e seus aliados é grande e atinge também Paulo Feijó, protagonista da atitude que desencadeou a crise. Sem dispor de pesquisas que avaliem o impacto dos acontecimentos sobre a opinião pública é difícil saber até que ponto se lida com impressões ou com uma leitura objetiva da realidade. As primeiras impressões colhidas em círculos sociais de classe média, no meio intelectual e na mídia (inclusive nacional), indicam que, mesmo considerando o desgaste provocado pelo conteúdo da gravação, na imagem de Yeda e de seu governo, há nesse meio, condenação do método empregado pelo vice-governador gaúcho para atingir seu alvo, o presidente do Banrisul, Fernando Lemos.
A reação do Palácio Piratini foi rápida e a resposta veio em duas frentes. A primeira, de comunicação, busca arranhar a imagem pública de Paulo Feijó, na tentativa de inviabilizar quaisquer pretensões políticas futuras que o vice-governador possa vir a ter. Nesse aspecto, o contra-ataque de Yeda, protagonizado pelo secretário demissionário da Casa Civil, César Busatto, parece surtir algum efeito. Busatto foi ferido de morte; luta pela vida e reage com a emoção que lhe é característica. Dificilmente recupera as condições de operar na cena política local como fazia, mas tentará prejudicar seu algoz enquanto tiver forças para isso.
Há quem veja na atitude de Feijó intenções golpistas. Difícil saber ao certo. No entanto, mais do que isso, o vice-governador parece ter visto nas declarações de Busatto uma forma de disparar um golpe certeiro no seu verdadeiro alvo, desde sempre, o presidente do Banrisul. As investigações do Ministério Público Federal (MPF) e da PF sobre o Banrisul seriam inevitáveis, e, possivelmente, já estivessem em curso. Na dúvida, Feijó executou um movimento que tornou inevitável uma devassa no governo gaúcho.
Se essa análise está correta, Feijó, na tentativa de “derrubar um edifício”, usou explosivo suficiente para destruir uma “cidade inteira”. Isto é, o governo Yeda; os partidos que lhe dão sustentação (PMDB, PP, PPS e PSDB), e até a candidatura de Onyx, que sofre a reverberação da crise e risco de isolamento. Feijó feriu a sua própria imagem pública com os estilhaços de seu gesto, colhendo percepção controvertida em meio ao tiroteio de que se tornou alvo por parte de todos que se sentiram prejudicados.
O instinto de auto-preservação do sistema político fala mais alto nessa hora. Feijó é visto com “um de fora” que ameaçou a todos os que vivem da atividade política, mesmo sem compartilharem as práticas que Busatto admitiu no diálogo gravado. A ameaça de Feijó, de revelar mais gravações, somente faz agravar essa percepção negativa que despertou em expressivos segmentos da opinião pública local e nacional, e no sistema político em especial. Parece difícil, senão impossível, para Feijó, reconstituir pontes e abrir portas com o sistema político depois disso. Até mesmo Roberto Jefferson, que provocou tsunami similar na política nacional, soube deixar um caminho para Lula fugir da sua tocaia sem precisar pular no seu rosto.
Mas, Feijó não precisa da política para viver e talvez, por isso, não paute suas atitudes políticas pela busca da popularidade acima de tudo. Quererá ele o lugar de Yeda ou seu objetivo é apenas atingir Fernando Lemos?
É isso que Yeda e os demais políticos não entendem nele. Sua lógica não faz sentido dentro do modus vivendi do sistema. Feijó queria concorrer a senador e testar seu discurso liberal em linguagem popular e, num certo dia, descobriu, ao acordar, que havia sido inscrito como vice-governador, em mais uma das tantas trapalhadas políticas resultantes do estilo pessoal da governadora Yeda conduzir-se nos negócios políticos. Feijó tem estilo oposto ao de Yeda. Mas personalidade igualmente forte.
Na frente política a reação da governadora à crise desencadeada por Feijó é, no mínimo, problemática. Para variar, talvez, mais um desastre numa área delicada em que Yeda erra sistematicamente desde a montagem da aliança que a elegeu até o momento presente.
Feijó fraturou a espinha do governo e, em casos assim, a recomendação dos médicos é deixar o paciente imóvel. Nesse contexto, a idéia de pedir os cargos de todos os secretários e comissionados para dar um “boot” no governo (o segundo em curto espaço de tempo e agora com arquivos do sistema operacional danificados), pode comprometer de vez as condições, por si só dificílimas, de recuperação do eixo político da governabilidade pelo Palácio Piratini.
Partidos como o PMDB e o PP correm o sério risco de implodirem se as investigações comprovarem o que todo mundo sabe que sempre existiu, e que Busatto admitiu em privado para Feijó, sem saber que era gravado. De raspão admitiu até que na prefeitura de Fogaça opera o mesmo modus vivendi. Busatto não cometeu crime algum ao dizer o que disse. Mas fez um estrago danado em si mesmo e em muito mais gente.
Não fossem as circunstâncias, estaria Busatto propondo uma discussão sobre a reforma política com a veemência que passou a defender depois de o caldo entornado? Mesmo concedendo-lhe o benefício da interpretação política de sua fala, o que ele foi propor a Feijó - tudo indica em missão oficial - foi sua integração ao modus vivendi patrimonialista e degenerado vigente, embora encoberto pelo manto da hipocrisia da elite social gaúcha. Da qual o petismo faz parte, diga-se de passagem.
O mérito de explodir o furúnculo ninguém tira de Feijó. Independentemente de quais sejam suas intenções e a natureza de seu gesto, a conseqüência de sua atitude é um avanço na direção do saneamento das contas públicas e do desmascaramento da moralidade farisaica do establishment da província. Quem imaginou que a saída do buraco em que a sociedade gaúcha se meteu seria um parto sem dor, não sabe o tamanho do buraco e muito menos o que dentro dele se esconde. Ou escondia. É façanha para servir de modelo a toda Terra.
A imagem que melhor representa a situação da cena política gaúcha é a de um tabuleiro de xadrez que levou um esbarrão de um jogador afoito. A maioria das peças caiu no chão e talvez não volte ao jogo, conforme o curso das investigações. As peças que sobraram estão desarrumadas e fora de lugar. A governadora, que tem o poder de mover pedras, complicou as coisas ao propor que todos desembarquem para depois subir de novo e recomeçar o jogo do zero.
Imaginar que o PMDB vá abrir mão do Banrisul e demais fatias de que dispõe no governo é muita ingenuidade (para ser sutil no elogio). Para conduzir Yeda até o fim, como o PFL fez com Collor, o PMDB vai querer mais do que tem. Vai querer a secretaria de Infra-estrutura; a secretaria de Educação; a secretaria da Fazenda, as demais estatais. E na próxima eleição, se possível, o trono de Yeda.
Por falar nisso, onde anda Rigotto? E, onde anda Olívio Dutra? Os co-responsáveis pela quebra do estado estão quietos. Covardes. Aliás, coragem política é o que não falta a Yeda e Feijó. Foi o marionete PSOL quem pediu o impeachment de Yeda e pediu para Feijó renunciar, mas é o PT quem baba de vontade de “impitchar” Yeda e Feijó como um pedófilo excitado diante de criança indefesa.
O deputado Raul Pont já escolheu os gastos da Fenaseg no ano de 2006 como alvo das investigações da CPI gaúcha para tentar provar que a chapa Yeda-Feijó tem a mesma ilegitimidade da chapa Lula-Alencar após a confissão de Duda Mendonça na CPI do Mensalão.
E as despesas da Fenaseg com o DETRAN-RS no governo Olívio Dutra deputado Pont?
E a gestão do Banrisul, da CEEE e do DAER no governo Olívio Dutra deputado Pont?
E a gestão de companheira Stela na prefeitura de Alvorada deputado Pont?
E o dinheiro da aposentadoria dos funcionários públicos de Alvorada investido no Banco Santos deputado Pont, onde foi parar?
Vamos investigar tudo mesmo?
Será por isso que o PT detesta tanto as privatizações?
pelo prof. Paulo Moura, em 11/06/2008
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