Em seu Manifesto Comunista, Marx e Engels partem do pressuposto de que todas as injustiças sociais estão emolduradas por uma luta de classes que há milênios marca o relacionamento entre os seres humanos, incluindo o império romano, o sistema feudal e as atuais relações entre burgueses e proletários:
"Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais.
Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado".
"A luta do proletariado contra a burguesia, embora não seja na essência uma luta nacional, reveste-se, contudo dessa forma nos primeiros tempos. É natural que o proletariado de cada país deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia (...) numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia.
Isto naturalmente só poderá realizar-se, a principio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção. Essas medidas, é claro, serão diferentes nos vários países." (...)
"Por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos proprietários dos meios de produção social que empregam o trabalho assalariado. Por proletários compreende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos, que privados de meios de produção próprios, se vêem obrigados a vender sua força de trabalho para poderem existir"
Nota de F. Engels à edição inglesa de 1888.
Já expliquei, aqui, o significado das palavras proletariado e burguesia. Também já expliquei que as teorias das ideologias coletivistas - e o Manisfesto Comunista de Marx e Engels faz parte destas ideologias - não enxergam as profundas diferenciações existentes entre os indivíduos (os seres humanos, com seus anseios e suas vontades).
Tanto a burguesia quanto o proletariado não são "clubinhos fechados". Um burguês mal sucedido pode se transformar num proletário e um proletário bem sucedido pode se transformar num burguês. Há proletários que se sentem felizes em serem proletários, por reconhecerem a sua própria incapacidade de galgarem outras posições na sociedade. Mas o assassinato de todos os burgueses conforme preconiza o Manifesto Comunista apenas causaria o desemprego de todos os proletários, pois são os burgueses que lhes empregam e são eles que assumem os maiores riscos no mercado "capitalista".
Muitos proletários (que vendem sua força de trabalho) são também burgueses (empregam trabalho assalariado), como, por exemplo, um mestre de obras. Esse é o caso dos trabalhadores que, além de trabalharem empregam outros trabalhadores. Esse é o caso dos médicos que possuem clínicas e de muitas outras pessoas. Esse é o caso dos vendedores ambulantes que possuem empregados, etc. Essa linha cinzenta que separa proletários de burgueses finda por causar a completa desunião e, pior, o desinteresse nacional no que concerne à concretização de quaisquer ideais voltados para a grandeza da Nação.
O grande problema nas pregações coletivistas é que todos os "novos homens" devem ser igualmente capacitados, igualmente motivados, igualmente honestos, igualmente desambiciosos e igualmente altruístas. Ainda, mesmo que se instalasse uma grande comuna planetária, para que se pudesse organizar e controlar a produção (o que é imprescindível para a sobrevivência de todos) a alguém teria que ser atribuída autoridade e responsabilidade por isso. É justamente a capacitação para exercer autoridade e assumir responsabilidades que faz com que surjam diferenciações entre pessoas - e, aí, entra a verdadeira "luta de classes": os governantes versus os governados. Assim, mesmo com o advento da utópica comuna, surgem classes de pessoas que mandam e que obedecem, conforme foi exaustivamente verificado na antiga URSS, por exemplo, onde os membros do partido comunista (Nomenklatura) tudo possuíam, enquanto o povo padecia no trabalho obrigatório nas fazendas modelo (Gulags), que causaram milhões de mortes de proletários e burgueses indistintamente.
No Brasil, a incitação à luta entre as pessoas tem cerceado todas as idéias de construção de um grande país que dependem, é claro, da união nacional contra a qual se voltam os ideais comunistas. A destruição do Estado Brasileiro e a sua substituição pela União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL), tal qual preconiza o Foro de São Paulo, já não assusta praticamente ninguém, em face da total falência da URSS. Aesquerdas brasileiras não se reciclaram, continuando a provocar divisões internas e a canalizar o pensamento das massas contra os valores nacionais em prol da ditadura do proletariado.
Todavia, muitos lucram com a falta de coesão nacional: os burocratas, os corruptos, os políticos oportunistas, os criminosos, os estelionatários e, principalmente, os esquerdistas de direita. Esses últimos, sob o pretexto de condenarem o status quo, ficam com a vantagem de atribuírem a culpa por qualquer coisa à ação das direitas, culpadas pelos males do mundo.
O comunismo falha quando suprime a esperança. A esperança é o combustível da vida. Se todos fossem iguais e seu trabalho fosse igualmente remunerado pela sociedade, não haveria a esperança de melhorar e a monotonia tomaria conta de tudo (Raul Castro que o diga, pois deu uma liberação aos agro-negócios devido à escassez de alimentos, reconhecendo que não há razão para os agricultores produzirem mais, por falta de competitividade). São as vicissitudes da vida que geram a esperança. São as desigualdades que geram a felicidade, pois ela é feita de conquistas conseguidas com muito esforço. O que os seres humanos desejam é ocupar a parte mais bem aquinhoada da sociedade e não acabar com ela. O que importa é que existam meios para se ascender em termos de qualidade de vida. O paradoxo do comunismo é que tão logo ele seja alcançado, todos serão igualmente pobres, exceto os dirigentes do PC que em seu fechado clube decidem o direito de todos de serem igualmente pobres e em que campos de trabalho forçado exercerão esse direito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário