Em meio a novos atritos nas relações Colômbia-Venezuela, os chefes de Estado dos 12 países da América do Sul assinarão na próxima sexta-feira, em Brasília, o tratado que criará o arcabouço jurídico para a integração regional. Engavetado por quatro meses, o documento constitutivo da União Sul-Americana de Nações (Unasul) flexibiliza uma fórmula que está na raiz da debilidade de outros processos políticos e comerciais da região - a tomada de decisões com base no consenso. Os projetos propostos poderão ser iniciados por um grupo menor de países, com sua posterior extensão aos demais. Esse será o caso do Banco do Sul, que está em negociação por apenas sete dos 12 membros da Unasul.
A cúpula de Brasília será o primeiro encontro exclusivamente de líderes sul-americanos desde a eclosão da crise entre Colômbia, Equador e Venezuela, em janeiro passado, e dos novos ataques do venezuelano Hugo Chávez a Bogotá, na última semana. O encontro ocorrerá à sombra dos indícios encontrados pela Interpol de colaboração dos governos venezuelano e equatoriano com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Até a última sexta-feira, os presidentes de 11 países haviam se comprometido a comparecer - inclusive Chávez e o colombiano Álvaro Uribe. Apenas o presidente do Peru, Alan García, não havia confirmado presença e poderia enviar um representante.
Segundo o embaixador Ênio Cordeiro, subsecretário para Assuntos de América do Sul do Itamaraty, o tratado constitutivo define cerca de 30 objetivos estratégicos e uma estrutura assentada sobre uma secretaria-executiva, com sede em Quito, e um Conselho de Delegados como instância decisória, com representantes dos 12 países. Haverá ainda uma secretaria financeira. A presidência será rotativa entre os países-membros, por 12 meses. A cada ano, os líderes dos 12 países se reunirão para deliberar sobre os projetos da Unasul e discutir os dilemas políticos regionais.
O anúncio do Plano de Ação da Unasul - um conjunto de projetos prioritários para as áreas de infra-estrutura, energia, educação, social e financeira - deverá ficar para o segundo semestre. Até lá, a expectativa do Itamaraty é que o cenário político sul-americano esteja suficientemente desanuviado para o Plano de Ação ser concluído e anunciado na Colômbia, na terceira reunião ordinária da Unasul.
Marcada originalmente para janeiro, a cúpula em Cartagena das Índias foi atropelada pela crise provocada pela ação militar colombiana no Equador, que resultou na morte do líder das Farc, Raúl Reyes, e ainda não completamente sepultada. Fontes do Itamaraty avaliam que a Unasul deverá tornar-se o canal privilegiado para contornar imbróglios na região.
por Denise Chrispim Marin, em 19/05/2008, no Estado de São Paulo
Como já escrevi várias vezes, a proposta de se restabelecer a revolução na América Latina surgiu quando, ao se anunciar a queda do Muro de Berlim e a derrocada da ex-União Soviética, o Partido dos Trabalhadores (Lula) e o PC cubano (Fidel Castro) partiram, em 1990, para a criação de um foro cujo objetivo seria reunir organizações e partidos de esquerda em demanda de uma nova estratégia para se organizar a luta pela implantação do socialismo no subcontinente, a fim de "restabelecer na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu".
De fato, a implantação desse foro permanente, realizado a cada dois anos, retoma os antigos propósitos da extinta Organização Latino-Americana de Solidariedade - a OLAS -, criada por Fidel Castro em janeiro de 1966, em Havana, para prestar apóio técnico, logístico e financeiro aos movimentos e partidos de esquerda da África, Ásia e da América Latina. De resto, partidos e movimentos engajados na agitação revolucionária e no combate ao "imperialismo ianque".
A nova versão da OLAS, restabelecida em São Paulo logo após a derrota de Lula para Collor de Mello, se valia da capacidade de mobilização do PT e congregou dezenas de partidos "revolucionários e progressistas", além de ONGs, representações sindicais e de movimentos sociais, membros da igreja libertária e facções guerrilheiras, entre as quais as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Exército de Libertação Nacional (FLN), União Revolucionária Nacional da Guatemala (URNG), Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), etc. etc. – algumas delas envolvidas com narcotráfico, contrabando de armas, lavagem de dinheiro, seqüestros, assaltos a bancos, roubo de gado e pirataria.
O Coronel Chávez, verdade seja dita, não foi um dos fundadores do Foro de São Paulo. Ele só ingressou na "organização" em maio de 1995, segundo informe da AP uruguaia (de novembro de 1999). Desde logo, no entanto, esteve solidário com as teses e resoluções debatidas, aprovadas e encaminhadas pelo Foro, destacando-se, entre elas, o separatismo indigenista, o ecologismo radical, a reforma agrária pela ocupação virulenta das terras produtivas, o assistencialismo, a tomada do poder no espaço continental e, em especial, o aparelhamento do Estado pela infiltração da militância esquerdista.
Por outro lado, é bom lembrar que, uma vez dentro da máquina do Estado, as resoluções do Foro recomendam a conseqüente apropriação da riqueza nacional pelo aumento vertiginoso da carga tributária em função do fortalecimento da burocracia do partido dentro do governo.
Eis a realidade inequívoca dos fatos: tendo em vista a exaustão de certos métodos do marxismo-leninismo, os integrantes do Foro partiram para a estratégica liquidação da democracia a partir dos próprios instrumentos oferecidos de bandeja pelo sistema democrático: voto e liberdade de ação política. No quadro estratégico assim compreendido, o papel destinado ao atrevido coronel Chávez, segundo Lula e Fidel, seria o de "ponta-de-lança" na construção da redentora União das Repúblicas Socialistas da América Latina, a URSAL, hoje - basta dar uma olhada no mapa - em plena ascensão.
De fato, com os bilionários dólares do petróleo (e também do narcotráfico, devido a sua ligação, cada vez mais comprovada, com as FARC), o coronel venezuelano logo se fez pop star da empreitada revolucionária, ora financiando a agitação "carnívora" de países aliados como a Bolívia, Equador e Guatemala, ora prodigalizando dádivas milagrosas à moribunda Cuba ou emprestando dinheiro grosso à Argentina "vegetariana", ora prometendo parcerias, mundos e fundos ao Uruguai e Paraguai. A propósito do Uruguai e Paraguai, o último projeto do Foro é justamente infiltrar o sestroso Chávez no Mercosul para melhor fomentar, institucionalmente, o projeto totalitário continental.
Como se sabe, um dos objetivos do Foro de São Paulo é ver Álvaro Uribe fora do poder, o quanto antes, pois o presidente colombiano, amado pelo seu povo (mais de 83% de aprovação), representa um obstáculo considerável à implantação do domínio comunista na América Latina, uma vez que é aliado incondicional dos EUA e da União Européia.
Porém, agora, com o aval da INTERPOL de que os dados contidos nos equipamentos resgatados no acampamento onde foi morto Raúl Reyes são verdadeiros e que houve nenhuma modificação dos mesmos, os passos dos aliados comunistas devem ser mais comedidos. E isto é o que veremos, na XIV Reunião do Foro de São Paulo, em Montevidéu.
A cúpula de Brasília será o primeiro encontro exclusivamente de líderes sul-americanos desde a eclosão da crise entre Colômbia, Equador e Venezuela, em janeiro passado, e dos novos ataques do venezuelano Hugo Chávez a Bogotá, na última semana. O encontro ocorrerá à sombra dos indícios encontrados pela Interpol de colaboração dos governos venezuelano e equatoriano com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Até a última sexta-feira, os presidentes de 11 países haviam se comprometido a comparecer - inclusive Chávez e o colombiano Álvaro Uribe. Apenas o presidente do Peru, Alan García, não havia confirmado presença e poderia enviar um representante.
Segundo o embaixador Ênio Cordeiro, subsecretário para Assuntos de América do Sul do Itamaraty, o tratado constitutivo define cerca de 30 objetivos estratégicos e uma estrutura assentada sobre uma secretaria-executiva, com sede em Quito, e um Conselho de Delegados como instância decisória, com representantes dos 12 países. Haverá ainda uma secretaria financeira. A presidência será rotativa entre os países-membros, por 12 meses. A cada ano, os líderes dos 12 países se reunirão para deliberar sobre os projetos da Unasul e discutir os dilemas políticos regionais.
O anúncio do Plano de Ação da Unasul - um conjunto de projetos prioritários para as áreas de infra-estrutura, energia, educação, social e financeira - deverá ficar para o segundo semestre. Até lá, a expectativa do Itamaraty é que o cenário político sul-americano esteja suficientemente desanuviado para o Plano de Ação ser concluído e anunciado na Colômbia, na terceira reunião ordinária da Unasul.
Marcada originalmente para janeiro, a cúpula em Cartagena das Índias foi atropelada pela crise provocada pela ação militar colombiana no Equador, que resultou na morte do líder das Farc, Raúl Reyes, e ainda não completamente sepultada. Fontes do Itamaraty avaliam que a Unasul deverá tornar-se o canal privilegiado para contornar imbróglios na região.
por Denise Chrispim Marin, em 19/05/2008, no Estado de São Paulo
Como já escrevi várias vezes, a proposta de se restabelecer a revolução na América Latina surgiu quando, ao se anunciar a queda do Muro de Berlim e a derrocada da ex-União Soviética, o Partido dos Trabalhadores (Lula) e o PC cubano (Fidel Castro) partiram, em 1990, para a criação de um foro cujo objetivo seria reunir organizações e partidos de esquerda em demanda de uma nova estratégia para se organizar a luta pela implantação do socialismo no subcontinente, a fim de "restabelecer na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu".
De fato, a implantação desse foro permanente, realizado a cada dois anos, retoma os antigos propósitos da extinta Organização Latino-Americana de Solidariedade - a OLAS -, criada por Fidel Castro em janeiro de 1966, em Havana, para prestar apóio técnico, logístico e financeiro aos movimentos e partidos de esquerda da África, Ásia e da América Latina. De resto, partidos e movimentos engajados na agitação revolucionária e no combate ao "imperialismo ianque".
A nova versão da OLAS, restabelecida em São Paulo logo após a derrota de Lula para Collor de Mello, se valia da capacidade de mobilização do PT e congregou dezenas de partidos "revolucionários e progressistas", além de ONGs, representações sindicais e de movimentos sociais, membros da igreja libertária e facções guerrilheiras, entre as quais as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Exército de Libertação Nacional (FLN), União Revolucionária Nacional da Guatemala (URNG), Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), etc. etc. – algumas delas envolvidas com narcotráfico, contrabando de armas, lavagem de dinheiro, seqüestros, assaltos a bancos, roubo de gado e pirataria.
O Coronel Chávez, verdade seja dita, não foi um dos fundadores do Foro de São Paulo. Ele só ingressou na "organização" em maio de 1995, segundo informe da AP uruguaia (de novembro de 1999). Desde logo, no entanto, esteve solidário com as teses e resoluções debatidas, aprovadas e encaminhadas pelo Foro, destacando-se, entre elas, o separatismo indigenista, o ecologismo radical, a reforma agrária pela ocupação virulenta das terras produtivas, o assistencialismo, a tomada do poder no espaço continental e, em especial, o aparelhamento do Estado pela infiltração da militância esquerdista.
Por outro lado, é bom lembrar que, uma vez dentro da máquina do Estado, as resoluções do Foro recomendam a conseqüente apropriação da riqueza nacional pelo aumento vertiginoso da carga tributária em função do fortalecimento da burocracia do partido dentro do governo.
Eis a realidade inequívoca dos fatos: tendo em vista a exaustão de certos métodos do marxismo-leninismo, os integrantes do Foro partiram para a estratégica liquidação da democracia a partir dos próprios instrumentos oferecidos de bandeja pelo sistema democrático: voto e liberdade de ação política. No quadro estratégico assim compreendido, o papel destinado ao atrevido coronel Chávez, segundo Lula e Fidel, seria o de "ponta-de-lança" na construção da redentora União das Repúblicas Socialistas da América Latina, a URSAL, hoje - basta dar uma olhada no mapa - em plena ascensão.
De fato, com os bilionários dólares do petróleo (e também do narcotráfico, devido a sua ligação, cada vez mais comprovada, com as FARC), o coronel venezuelano logo se fez pop star da empreitada revolucionária, ora financiando a agitação "carnívora" de países aliados como a Bolívia, Equador e Guatemala, ora prodigalizando dádivas milagrosas à moribunda Cuba ou emprestando dinheiro grosso à Argentina "vegetariana", ora prometendo parcerias, mundos e fundos ao Uruguai e Paraguai. A propósito do Uruguai e Paraguai, o último projeto do Foro é justamente infiltrar o sestroso Chávez no Mercosul para melhor fomentar, institucionalmente, o projeto totalitário continental.
Como se sabe, um dos objetivos do Foro de São Paulo é ver Álvaro Uribe fora do poder, o quanto antes, pois o presidente colombiano, amado pelo seu povo (mais de 83% de aprovação), representa um obstáculo considerável à implantação do domínio comunista na América Latina, uma vez que é aliado incondicional dos EUA e da União Européia.
Porém, agora, com o aval da INTERPOL de que os dados contidos nos equipamentos resgatados no acampamento onde foi morto Raúl Reyes são verdadeiros e que houve nenhuma modificação dos mesmos, os passos dos aliados comunistas devem ser mais comedidos. E isto é o que veremos, na XIV Reunião do Foro de São Paulo, em Montevidéu.
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