Na semana passada, depois que a INTERPOL, a maior organização policial internacional do mundo, veio a público certificar que os 37.872 arquivos dos equipamentos apreendidos no acampamento das FARC eram legítimos e que continham centenas de referências ao apoio ativo de ambos os governos (Venezuela e Equador) ao grupo armado rebelde, Chávez e Correa reagiram, como siempre, com insultos.
Tal e qual há alguns meses, quando uma delegação oficial venezuelana foi descoberta quando tentava ingressar com US$ 800.000,00 na Argentina para seus aliados políticos no país (leia-se, campanha de Christina Kirshner, uma vez que o partido de seu marido, Néstor, é membro ativo do Foro de São Paulo), Chávez alega agora que a investigação da INTERPOL sobre tais equipamento é "uma palhaçada do império ", além de dizer que o secretário geral desta organização, Ronald K. Noble, é "um mafioso e um vagabundo". E a reclamação de Correa foi de violência similar.
Mas desta vez, sem embargo, será difícil, até aos mais crédulos simpatizantes de Chávez e Correa, levar a sério tal pirotecnia verbal.
Isto porque na investigação realizada pela sede central da INTERPOL em Lyon, França, participaram 64 funcionários de 15 países, encabeçaados por experts mundiais em computação de Singapura e da Austrália, que foram escolhidos independientemente em seus países. No total, a INTERPOL dedicou 5000 horas examinando os equipamentos. E o informe final não apenas concluiu que o governo colombiano não havia manipulado o conteúdo ali existente, como afirmam Chávez e Correa, mas certificou que realmente perteneciam a Raúl Reyes, o segundo em comando na estrutura político-militar do referido exército guerrilheiro.
Um tesouro da inteligência
Os laptops das FARC são um dos tesouros mais importantes da inteligência colombiana, na história da luta ati-guerrilheira. Os documentos já pertimiram o resgate de US$ 480.000,00 de fundos das FARC na Costa Rica e de 30 quilos de urânio não enriquecido nas redondezas de Bogotá.
Entre centenas de revelações, os arquivos contêm 8 referências a US$ 300 milhões, referente à ajuda que Chávez havia prometido às FARC. Outros documentos fazem alusão a uma contribuição de US$ 100.000,00 destas FARC à campanha presidencial de Correa em 2006.
A certificação da autenticidade de tais documentos põe várias perguntas espinhosas no caminho das esquerdas:
- Os países latino-americanos que corretamente invocaram os tratados de não intervenção da OEA (Organização dos Estados Americanos) para rechaçar a incursão militar colombiana no Ecuador, invocarão agora os igualmente explícitos tratados anti-terrorismo da referida organização, que proíbem aos países ajudar a grupos armados rebeldes? Condenarão a Venezuela e o Equador, ou se farão de distraídos, temerosos de perder os bilhões de dólares que recebem em petróleo e ajuda política por parte da Venezuela?
- Chávez e Correa pedirão desculpas aos países da região, tal como o fez o presidente colombiano, Álvaro Uribe, em 18 de março, durante a reunião da OEA em que se debateu o ataque colombiano ao acampamento das FARC no Ecuador?
- A OEA convocará uma assembléia geral, invocando a Convenção Interamericana Contra o Terrorismo de 2002, que proíbe aos países membros dar refúgio ou dinheiro a grupos terroristas? E o Conselho de Segurança da ONU invocará suas resoluções 1373 e 1566, que estabelecem exactamente o mesmo, para condenar Chávez e Correa?
- O presidente brasileiro se retratará de sua recente declaração, quando disse que Chávez é "o melhor presidente que já existiu na Venezuela nos últimos cem anos"? Ou crê o apedeuta e seus asseclas que apoiar um grupo terrorista que mantém sequestrados mais de 700 indivíduos e que matou 36 civis no "Club El Nogal" de Bogotá é ser um bom presidente?
Que fique claro: não acho que a saída seja a proposta de alguns membros do governo dos Estados Unidos para que Washington ponha a Venezuela em sua lista de países terroristas e imponha sanções a esse país, o que só daria a Chávez mais argumentos para mostrar-se como uma vítima do "imperio", além de prejudicar ainda mais o povo venezuelano. Mas a comunidade internacional, incluindo aqueles que criticaram o presidente George W. Bush por ignorar a ONU quando decidiu invadir o Iraque, deve reagir rapidamente. De outro modo, não haverá nenhum sentido a existência da OEA, da ONU e de outras conveções atuais que muitos países firmam com grande solenidade.
Por Andrés Oppenheimer, no jornal La Nación, em 20/05/2008, traduzido por mim.
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