O Brasil é mesmo do balacobaco. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou ontem que sua pasta divulgou a lista dos 100 maiores desmatadores da floresta sem que ele a tivesse lido antes. É evidente que se trata de um procedimento, para dizer pouco, heterodoxo. Qualquer um de nós, no lugar dele, creio, teria tido o cuidado de saber o que ia lá. Mas o grave não está nessa fala, não. Leiam esta: “Não li porque não sou fiscal e confio nos órgãos [do Ministério do Meio Ambiente, no caso o Ibama]. A lista estava pronta há sete meses, e eu disse que era para divulgar".
Não é mesmo formidável? Quer dizer que, há longos sete meses, o governo federal sabia que o Incra é o principal desmatador da Amazônica, mas amoitava a informação, enquanto os agricultores do Mato Grosso — e o governador Blairo Maggi em particular — eram demonizados país e mundo afora. Sim, vocês podem procurar: o estado e Blairo viraram notícia em vários países.
O Incra, órgão do governo, foi multado pelo Ibama, que também é um órgão do governo, em R$ 50 milhões. Há um quê de surrealismo nisso, não. O dinheiro, se for pago, vai apenas mudar de rubrica. Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário, também contesta os dados e até chegou a anunciar que a lista seria revista, o que Minc negou, afirmando que só eventuais distorções serão corrigidas. Vamos ver quais.
Estou aqui pensando em Marina Silva, a Madona da Floresta. A companheira sabia ou não da existência da lista? Agora leiam o que vai na Folha de hoje. Retomo depois:
Um dia após ter divulgado uma lista que incluía assentamentos da reforma agrária no topo dos cem maiores desmatadores da Amazônia Legal, o que provocou uma reação da área agrária do governo, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) admitiu que não produziu os dados nem os checou.
Minc atribuiu ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) a responsabilidade pela lista e deu ao órgão um prazo de 20 dias, "improrrogáveis" e "impreteríveis", para verificar uma a uma as contestações, o que, na prática, pode esvaziar o material divulgado.
O ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e o presidente do Incra, Rolf Hackbart, ficaram contrariados com a lista, que apontou seis projetos de assentamentos como os líderes no ranking do desmatamento. Minc culpou o Ibama: "Determinei que fosse divulgada a lista, mas eu não produzi a lista, eu não a chequei".
Cassel e Hackbart atacaram dois pontos do documento: o período exato do desmatamento não é identificado na lista, e o Incra é tratado como proprietário de áreas nas quais, há anos, estão assentadas centenas de famílias de trabalhadores. Minc admitiu ontem concordar com a crítica:
"Para fazer uma comparação mais correta, não deveria ser feita com esse pé de igualdade. Acabou sendo uma leitura mais burocrática. Faltou um pente-fino".
Minc, Cassel e Hackbart se encontraram ontem no Ibama num evento sobre manejo florestal. Por conta do mal-estar, Cassel e Hackbart chegaram a cancelar suas presenças, mas mudaram de idéia. Ao lado de Minc, Cassel disse discordar "frontalmente" da lista. "Acho que tem um equívoco metodológico muito sério na divulgação. Os assentados não são os principais responsáveis pelo desmatamento na Amazônia".
Minc admitiu falhas e reconheceu o mal-estar no governo. "Espero que, em 20 dias, o Ibama corrija os dados e informe quem mais destrói o meio ambiente no país", disse Hackbart.
Comento:
Estou apostando no recuo de Minc. E vocês? Pô, vamos voltar a atacar o governador do Mato Grosso. Era bem mais divertido.
por Reinaldo Azevedo, em seu blog
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