A campanha eleitoral do PT em São Paulo está sob intervenção. Seu comandante-em-chefe é Gilberto Carvalho, braço direito de Lula e ex-braço direito de Celso Daniel. É tão respeitado em certas áreas do PT, que o Apedeuta gostaria de vê-lo na presidência do partido. Taí um homem que sabe tudo do governo Lula e que sabia tudo do governo Celso Daniel. Quando a baixaria contra Kassab foi ao ar, Carvalho e o aparato propagandístico de Lula fizeram questão de anunciar que não tinham nada com aquilo. Observei aqui que o texto do Apedeuta na propaganda de Marta deixava entrever o contrário. Na Folha de hoje, há uma entrevista com Carvalho. Leiam. Comento em azul.
Mais novo reforço da campanha de Marta Suplicy (PT), o chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, disse à Folha que o PT continuará a mostrar a história do prefeito Gilberto Kassab "em todas as suas dimensões, pessoais e políticas".
Já despachando no comitê de Marta, Carvalho afirma ter considerado "absurda" a repercussão na imprensa sobre o comercial do PT e questiona a declaração de Kassab (DEM) insinuando ligação de Marta com o mensalão, já que ela trabalhou com a mulher de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT), Mônica Valente.
"Isso é que é preconceito." Carvalho confirmou a última participação de Lula na campanha de Marta -uma reunião com movimentos sociais na Casa de Portugal (centro), no sábado.
FOLHA - O comercial com indagações sobre a vida privada de Gilberto Kassab foi um deslize?
GILBERTO CARVALHO - Eu não chego a achar que é um deslize não. Na verdade, acho que houve um superdimensionamento na interpretação. Nós sabemos muito bem o que que é a devassa da vida privada. Nada a ver com o que aconteceu com o Kassab, ninguém fez nenhuma acusação a ele. É muito pior a atitude que o Kassab teve no debate, em que ele acusa a Marta falando da Mônica Valente. Quem é Mônica Valente? É uma cidadã contra a qual não há uma única acusação, salvo o fato de ser esposa do Delúbio [Soares]. Isso é que é preconceito. Verbal, nem é da propaganda, é dita pelo candidato. Acho estranho que a imprensa não ter registrado isso. Contra nós vale tudo. E quando ousamos levantar uma pergunta, que é uma pergunta natural, se faz esse escarcéu.
Viram? É o petismo em estado puro. Eles atacam, mas são as vítimas. Qual é o exemplo que Carvalho tem de “devassa da vida privada” de petistas? E notem, para variar, a dupla acusação contra a imprensa: a) ela teria superdimensionado a safadeza; b) não teria se indignado com Kassab. A propósito: qual é a acusação que o prefeito fez? Apenas lembrou que Mônica Valente, assessora de Marta, é mulher de Delúbio Soares, o homem do mensalão. Isso é uma questão pública, meu senhor. Entendo: se Carvalho fosse jornalista, quando aquele petista foi preso com dólares na cueca, ele teria omitido que o rapaz era assessor do irmão de José Genoino, que era presidente do partido durante toda a lambança. Bom petista, ele indagaria: “O que uma coisa tem a ver com outra?”
FOLHA - Há exagero então?
CARVALHO - Absoluto, absurdo. Absurdo. Tanto que as pessoas com quem tenho conversado, do povo, nem sequer se dão conta de que tem alguma a ver com o Kassab.
Não entendi direito a resposta, mas acho que Carvalho está reclamando que a campanha não foi tão “eficaz” quanto deveria...
FOLHA - Mas não há uma alusão a homossexualismo?
CARVALHO - Eu não conversei com o João Santana [marqueteiro da campanha] sobre isso. Não tenho como te dizer. Primeiro, li na imprensa. Chegando aqui, fui ver o comercial. E fiquei assustado com a interpretação que se deu na imprensa, fiquei meio que impressionado. Quando se bisbilhotou a vida da Marta do jeito que se fez, nunca vi a indignação que se viu hoje, inclusive em seu jornal. Mas, no que depender da coordenação da campanha, hoje que estou me inteirando, esse assunto é página virada. O comercial tinha sido programado para ter dois dias de duração. Teve. Hoje [ontem] entraram outros. Agora, nós vamos sim continuar na campanha convidando a população a conhecer melhor os dois candidatos. Em todas as suas dimensões, pessoais e políticas. Entendemos que quando você entra na vida pública sua vida fica exposta, evidente, é muito difícil a distinção entre o privado e o público. Eu trabalho ao lado de uma pessoa cuja vida é devassada diariamente, que é o presidente Lula.
Carvalho era seminarista. Ainda bem que decidiu abandonar a Igreja. Ou seria mais um a perverter a Santa Madre com posições ambíguas e anfíbias. Ele reclama da suposta devassa da vida pessoal dos petistas. Mas depois diz que o partido continuará a devassar a de adversários porque isso é próprio da política. Pergunto: afinal, ele é contra ou é favor? A resposta: ELE É PETISTA. Assim, quando a prática é contra o PT, trata-se de uma sujeira; quando é contra os adversários, é só uma questão política corriqueira, entenderam.
Conheço o ex-assessor de Celso Daniel. Deixo aqui o blog à disposição para que ele exiba uma única peça oficial de campanha da oposição especulando sobre a vida privada de petistas. E noto, hein: dinheiro da Telemar na empresa do filho do presidente é questão pública, meu senhor!
FOLHA - O sr. fala em dimensão pessoal e política.
CARVALHO - Claro, é natural. É natural que você saiba o que a Marta faz, com quem ela... com quem ela... Está exposta a vida da Marta. Foi importante, aparentemente, na última eleição.
Com quem ela o quê? Com quem ela o quê? Eu não quero saber. Na verdade, se penso nisso, ficou nauseado.
FOLHA - O fato de ela ter se separado, casado de novo?
CARVALHO - Isso foi explorado à saciedade, e nós nunca nos insurgimos. Quando você entra na vida política, pública, você sabe que está sujeito a isso. A gente não apóia a exploração, mas é um pouco do ônus nosso.
Foi explorado por quem? Eu provo para Gilberto Carvalho que isso foi explorado por Eduardo Suplicy, o marido agravado; pela própria Marta, que o agravado transformou em centro do noticiário, e por Felipe Belisário Wermus, que é o J. Pinto Fernandes da história, para lembrar o poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade. Não fosse Suplicy, o Eduardo, ficar chorando pelos cantos, a repercussão do triângulo amoroso teria sido menor. Ou nem tanto: todo mundo sabe que o argentino Wermus, que se passa pelo francês Luís Favre, também faz de conta que é um pensador influente no petismo e na política brasileira. Chamou para si os holofotes. Afinal, na cultura machista latino-americana, de que o sujeito é parte, ele estava por cima.
PS: Até por ter sido assessor de Celso Daniel, Carvalho deveria dobrar a língua em matéria de questões privadas. Nunca nenhum adversário usou o fato de que Celso Daniel era um ex-casado convicto e sem filhos para atacá-lo. Aliás, desde o começo, o PT se mobilizou para criar uma blindagem em torno do assunto, ainda que ele pudesse guardar relação com nada menos do que um assassinato brutal. Não, senhor Carvalho! Vocês não estão reagindo a nada. Trata-se de uma canalhice original.
por Reinaldo Azevedo
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