quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Brasil de 2010

Os principais jornais brasileiros, finalmente, começam a estampar a presença da crise mundial em solo brasileiro, contrariando a verborragia lulista e os atalhos de Guido Mantega para esconder o óbvio. Só os manés da militância e os barnabés comissionados permanecem acreditando num Brasil blindado e separado do planeta.

A verdade verdadeira é que já entramos na crise e a crise já entrou em nós, parafraseando um comentário de Joelmir Betting, na semana passada. E diante disso, a conjuntura eleitoral de 2010 tende a sofrer as influências da conjuntura econômica, que provavelmente entrará em ebulição já no primeiro semestre de 2009.

A questão premente é saber se a crise vai ser contida agora neste final de ano, quando o governo de Washington tenta tranqüilizar o mercado com o plano de salvação dos bancos, ou se estenderá por 2009 com conseqüências nefastas nos anos seguintes, o primeiro deles exatamente o das eleições presidenciais e regionais no Brasil.

Segundo o economista James Galbraith, que vem a ser filho do famoso e saudoso John Kenneth Galbraith – o autor de livros como "O Capitalismo Americano", "O Novo Estado Industrial" e "A Sociedade Influente" – por mais que o plano do governo americano salve o mercado, "não vai evitar a recessão nos EUA".

Nesse quadro, convêm seguir uma lógica financeira, sem nem precisar ser leitor de Keynes, o guru da família Galbraith: ora, se os EUA são os maiores parceiros comerciais do Brasil, é óbvio que a recessão americana afeta diretamente a vida brasileira. Por conseguinte, num quadro de crise, as eleições de 2010 ocorrerão em cenário diferente de hoje.

E dois quadros surgem nos esboços que os políticos começam a rabiscar para um eventual desenho eleitoral daqui até lá. Teremos em 2010 uma crise de poucas proporções ou uma crise acentuada? Nos dois desenhos, convêm calcular como se darão as futuras alianças. Um jogo em que dois jogadores se destacam por saber mexer peças: Luiz Inácio e José Serra.

Quando a crise se instalar de vez – e, acreditem, ela já chegou – todas as jogadas da dupla em duelo terão como primeiro motivo uma exibição para o mercado. Em política, os primeiros lances são sempre dados para a assistência do eleitorado financeiro. Só depois é que o jogo se apresenta para o povo, um detalhe republicano.

Serra joga para si mesmo, tendo todo o cuidado de limpar o caminho, jogando para debaixo do próprio tapete algum resíduo que possa virar sujeira adiante, como Geraldo Alckmin, que tirou do páreo em Sampa para atrair o DEM. Também costura com habilidade um freio em Aécio Neves, para evitar que sua celebridade transborde dos limites de Minas.

Luiz Inácio joga por dois: ele mesmo e Dilma Rousseff . O êxito da sua candidata à própria sucessão depende dos seus índices de popularidade e do bom patamar de avaliação do governo. Mas as duas coisas dependem, sobremaneira, do equilíbrio financeiro, da tranqüilidade econômica. O PT já sabe que com a crise os ânimos das ruas flutuarão como temperamento de mulher grávida.

A crise chegou, o quadro político se mexeu com as eleições para prefeito e o cheiro de recessão pode alterar acordos de pregressas parcerias e perspectivas de futuras alianças. O PMDB recuperou musculatura de gigante, o que pode levá-lo a dispensar o papel de coadjuvante nas eleições de 2010. PT e PSDB são os jogadores, mas o tabuleiro ganhou peças que poderão se mover independentes dos lances atuais de José Serra e Luiz Inácio.

A partir de agora, qualquer conjectura política para daqui a dois anos só terá validade real se for cientificamente relacionada com as projeções financeiras do mercado nacional debaixo das influências de uma crise internacional, que até agora demonstra ter fôlego suficiente para balançar o planeta por muitos meses ainda.
(...)

por Alex Medeiros, no Jornal de Hoje, em 07/10/2008

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