Eu sempre tive muita dificuldade para entender o obsessivo foco da esquerda na questão da desigualdade "social" – leia-se material. Afinal de contas, qualquer um pode facilmente verificar que a riqueza não é um bolo fixo e estático, mas sim algo dinâmico. A riqueza precisa ser criada, e o seu nível absoluto pode aumentar para todos, através dos ganhos de produtividade oriundos da divisão de trabalho. Basta comparar a riqueza e o conforto material dos habitantes do antigo Império Romano com a vida de um americano médio de hoje. Qualquer indivíduo que desfruta de coisas como um carro, ar condicionado, microondas, celular e televisão, sem falar da enorme variedade de remédios disponíveis, vive muito melhor do que qualquer senhor medieval.
Portanto, parece evidente que o foco deveria estar voltado ao nível absoluto de riqueza. Se todos estão melhorando a qualidade de vida, o que importa se alguns poucos estão melhorando ainda mais, por mérito próprio? Se todos podem ter computador mais barato, por que ficar revoltado com os bilhões justos de Michael Dell? Se eu podia andar apenas de bicicleta antes, e agora posso ter um carro, devo ficar incomodado porque meu vizinho pode ter um carro ainda mais luxuoso? A obsessão na comparação entre ricos e pobres sempre me pareceu fruto da inveja, aquela mais anti-social das paixões. Como Adam Smith notou de forma brilhante, "a inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda a superioridade que possuem". Quantos jogam futebol como o Pelé? Quantos cantam como Pavarotti cantava? Então por que todos devem ter uma renda parecida? Eu sempre fui do time que admira o sucesso alheio, em vez de desejar que o vizinho quebre a perna, achando que assim eu posso andar melhor.
Dito isso, não deixa de ser curioso notar a discrepância entre os fins de maior igualdade material da esquerda, e os meios por ela pregados. A concentração de poder no governo sempre foi um convite à desigualdade material, e pelas formas mais injustas possíveis: as trocas de favores políticos, e não produtos demandados pelos consumidores. Normalmente, quanto mais cresce o governo, mais renda é concentrada. Vide Brasília, com a maior renda per capita do País, de longe. E eis que agora a OCDE divulga um relatório mostrando que a disparidade entre ricos e pobres cresceu significativamente desde 2000, principalmente em países como Canadá, Alemanha, Noruega e Finlândia, tidos como ícones do modelo de bem-estar social, onde o governo tem a função de combater a desigualdade material. Até quando a esquerda vai abraçar os fins e os meios errados?
por Rodrigo Constantino
Nenhum comentário:
Postar um comentário