Nas últimas semanas, Henrique Meirelles mastiga o pão que Belzebu amassou.
É ele quem, da cabine de comando do BC, segura o leme da “Nau Marolula”.
Ouve o mau tempo rosnar. Enxerga o negrume das nuvens. Fareja a fatalidade.
Quando quer saber o rumo que o governo vai tomar, o mercado se vira para Meirelles.
É visto como uma bússola. Foge do catastrofismo. Mas não se desprende da realidade.
Nesta quinta (30), o Senhor-crise exibiu em público os efeitos da faina sobre o corpo.
Deu-se durante uma sessão da comissão de Economia do Senado.
Meirelles fez caras e bocas. Esticou braços e pernas. Levou as mãos à face.
Parecia guiado pela dor. A grande dor. Uma dor que não faz concessões à plasticidade.
A certa altura, Meirelles reclinou o rosto. Era como se uivasse por dentro.
Espremeu o nariz contra a bancada. Beijou os papéis à sua frente.
Antes, Meirelles traduzira em cifras o tamanho da crise financeira global.
Dissera que, de setembro pra cá, as Bolsas de Valores do mundo amargaram prejuízos de notáveis US$ 32 trilhões.
Informara que, no Brasil, para conter a cavalgada do dólar, o BC já despejou no mercado US$ 32,8 bilhões.
No instante em que Meirelles se controcia diante das câmeras, o ministro Guido Mantega reconhecia que a economia brasileira vai pisar no freio.
Meirelles deixou no Senado a imagem de um personagem à beira do limite.
No início da noite, o BC divulgaria decisão que teve a aparência de um chute no pau da barraca.
Bancões que não usarem o refresco do compulsório para socorrer banquinhos menores serão punidos. O dinheiro será retido. E não renderá um ceitil às casas bancárias em falta.
Depois da fase do vai ou racha, Meirelles informa ao mercado que a coisa precisa voltar ao normal. Ainda que rachada.
por Josias de Souza
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