sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Discurso das "Minorias" e a Falácia Esquerdista

Você é gay? É negro? Índio? Mulher? Pertence a alguma outra "minoria" sexual, étnica, racial ou religiosa?
Se for, pode ter certeza: você está sendo usado(a).


Isso mesmo. Convenci-me disso depois de ver a propaganda eleitoral da candidata petista Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo, a qual insinua que o candidato adversário, Gilberto Kassab, seria homossexual ("ele é casado? tem filhos?"). Às vezes um fato aparentemente de menor importância pode servir de estopim para desvendar verdades fundamentais escondidas por camadas e camadas de retórica ideológica. É esse exatamente o caso.


Os insultos e as ilações da campanha de Marta sobre a vida pessoal de Kassab serviram para desmascarar, por completo, um discurso há muito engendrado pelas esquerdas no Brasil, segundo o qual caberia a eles, os esquerdistas, o monopólio da tolerância e da defesa das "minorias". Todos os outros que não pertencessem à grei esquerdista - ou seja: a "direita" - seriam os representantes do discurso oposto, do preconceito e do obscurantismo. Com os ataques quase explícitos à vida privada de Kassab, ficou demonstrada, de forma inequívoca, a falácia desse discurso, seu caráter inegavelmente hipócrita e eleitoreiro.


Essa constatação não decorre apenas de um escorregão de campanha ou de uma estratégica equivocada de marketing eleitoral. É a culminação de décadas de manipulação demagógica dos chamados "movimentos sociais" pela esquerda. Há tempos, esta descobriu que não é mais possível fazer a tão sonhada "revolução socialista" - as tentativas de fazê-la no Brasil, em 1935, 1961-1964 e por meio da luta armada nos anos 60 e 70 redundaram em total fracasso. Restou a seus remanescentes, muitos dos quais entrincheirados nas universidades e nas redações dos jornais, encontrar um outro rumo, buscando "ocupar espaços", segundo o figurino gramsciano.


Sobretudo a partir do final dos anos 60, a idéia de que o "proletariado" faria a revolução cedeu lugar gradualmente a outros setores, as "minorias", e a idéia de tomada do poder político pela força daria lugar cada vez mais à idéia da "mudança comportamental" como o passo para a conquista da "hegemonia" moral e ideológica. Daí a ascensão dos chamados "movimentos sociais" e do discurso politicamente correto, hoje hegemônico nos chamados setores "pensantes" da sociedade. A fundação do PT, em 1980, reunindo um amálgama de setores de esquerda, que ia de sindicalistas a padres católicos, foi um marco nesse processo.


O que isso tudo tem a ver com a baixaria de Dona Marta em São Paulo? Muita coisa. Tem a ver porque, ao atacar vilmente a vida privada de seu adversário, de maneira baixa e caluniosa, a candidata petista - que se tornou conhecida pela sua defesa das "minorias", sobretudo dos homossexuais - revelou a natureza demagógica desse discurso político. Demonstrou, em suma, que tal discurso, assim como a ética e a democracia, tem para essa gente um caráter puramente instrumental - se nos ajuda a ganhar votos, o defendemos; se não, o deixamos de lado e partimos para o discurso oposto, usando os mesmos golpes baixos e os mesmos preconceitos que antes dizíamos combater.

Para a esquerda, somente os "movimentos" importam. Para ela, os indivíduos, em suas singularidades, não existem. A pessoa só vale alguma coisa se fizer parte de algum "movimento", de preferência organizado e controlado pelo PT - se for, enfim, um militante. O que estão fazendo com Kassab não é visto como uma canalhice, pois, afinal, ele é do DEM, um partido "de direita"...


Contra eles, os direitistas, pode tudo, todos os preconceitos são válidos (claro que o mesmo não se aplica aos esquerdistas). Como características individuais, a cor da pele ou a preferência sexual só têm algum valor, para os partidos de esquerda, se vierem acompanhadas de um discurso político, de uma bandeira política. Dessa forma, o sujeito deixa de ser indivíduo, perde o nome, a identidade, e se torna um membro do "coletivo". Deixa de ter opiniões, apenas slogans e palavras de ordem. Passa, enfim, a ser uma "não-pessoa", sendo reconhecido não pelo nome, mas pelo "movimento" a que pertence - é o "afro-descendente", o "indígena", o "gay" (há até uma sigla - GLBTT - para designar esse tal "movimento"), a "mulher" etc.


Aspectos que deveriam restringir-se à esfera puramente pessoal - como a opção sexual - acabam sendo, assim, politizados, tornando-se rótulos políticos. E aqueles que se opõem a isso, e insistem em ter opiniões próprias, ou até em dizer que cor da pele ou opção sexual não são medida de caráter (para o mal ou para o bem), acabam virando alvo, eles próprios, de preconceito e de censura, sendo invariavelmente tachados de "reacionários", "homofóbicos", "racistas", "machistas" etc. Um discurso muito eficiente, sem dúvida.


E para que toda essa desumanização, essa despersonalização da individualidade ou, se preferirem, essa politização da vida pessoal? Para uma coisa somente: alcançar o poder. Não se trata de simples incoerência, como são geralmente descritas atitudes como a de Marta em relação a Kassab, mas do seqüestro de reivindicações muitas vezes justas com objetivos políticos. Os esquerdistas descobriram que não farão a revolução. Mas podem minar as bases do Estado Democrático de Direito. Um dos caminhos para isso é acabar com a igualdade de todos perante a Lei. Na prática, eles já conseguiram isso, com o sistema de cotas raciais nas universidades. Agora, tentam avançar mais um pouco nesse sentido, com a chamada Lei "anti-homofobia" que, a pretexto de defender os direitos de outra minoria, servirá apenas para tornar alguns cidadãos mais iguais do que outros.


Suponhamos que Kassab seja, sim, gay, como insinua a campanha do PT. Nesse caso, quem sairia prejudicado? Não ele, certamente, já que sua sexualidade diz respeito a ele e a mais ninguém. Mas Marta, esta sim, seria desmascarada, pois usou um velho preconceito para lançar dúvidas sobre o rival. Mais: seu passado de defensora dos direitos dos homossexuais seria visto, como de fato é, como uma farsa. Não que ela tenha "traído" sua trajetória, nada disso. É que era tudo falso.

Assim como Lula e Zé Dirceu no caso do Mensalão, ao atacar a vida privada de Kassab, Marta não está jogando no lixo sua trajetória anterior. Está, isto sim, revelando para todos o que sempre escondeu: que toda sua militância em prol das "minorias" (mulheres, homossexuais etc.) não passava de um trampolim para conquistar visibilidade e alcançar o poder. É isso, e não a defesa das minorias, o que norteia o comportamento dos esquerdistas. Basta atentar para o fato de que, no país dos sonhos do PT, Cuba, os homossexuais foram trancafiados nos anos 60 em campos de "reeducação". Quem duvida que, tendo atingido seu objetivo de alcançar o poder, ou para agradar outros setores como os evangélicos, os petistas e seus companheiros se livrarão rapidamente desses incômodos aliados, adotando o mesmo discurso que antes condenavam com tanta veemência?


Em resumo, o que está escrito aí em cima é o seguinte:
- O PT se dizia o partido mais democrático do Brasil. Foi desmascarado.
- O PT se dizia o partido mais ético do Brasil. Foi desmascarado.

por Gustavo Bezerra

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