Bastou a confirmação de que o PIB brasileiro havia crescido 5,4%, em 2007 para que o vosso presidente fanfarrão, coadjuvado pelos áulicos da mídia chapa-branca, iniciassem um lamentável espetáculo de rejubilação e jactância “nunca antes visto na história deste país”. Pouco lhes importa o fato de que, dentre os países ditos “emergentes”, tal resultado seja muito pouco lisonjeiro, ou que o governo quase nada tenha feito para torná-lo realidade, exceto manter a política macroeconômica herdada do governo anterior.
Para essa gente, afinal, a realidade é algo de somenos importância. O que vale mesmo é a versão, e esta, desde que bem trabalhada pelos sofistas de plantão, é capaz de prodígios políticos dos quais até Deus duvida. Como se constrói uma boa versão dos fatos? Elementar, meu nobre leitor. Primeiro, faça com que os incautos e alienados acreditem que o tal resultado é esplêndido. Para tanto, compare-o com os resultados obtidos durante o governo anterior, mas "esqueça" de apontar que as circunstâncias hoje são inteiramente diversas do que eram naquele tempo. Feito isso, complete o sofisma demonstrando que o doador desse magnífico presente ao povo foi o dadivoso Governo Lula, através de suas "políticas sociais".
Até aí, nada de novo, já que a política e a mentira sempre andaram de mãos dadas. No entanto, a coisa começa a ficar perigosa, tornando-se inclusive uma séria ameaça ao futuro, quando essas mentes "engana-trouxas", assessoradas pelo que há de mais nocivo na heterodoxia econômica, arvoram-se em vôos mais altos e resolvem vender certas teorias econômicas esdrúxulas como padrão de prosperidade.
Sim, caro leitor, estou falando da absurda teoria, disseminada amiúde nos últimos dias, segundo a qual não há nada mais eficaz para o desenvolvimento econômico do que as famigeradas "políticas de renda" e o incentivo ao consumo de baixa renda que elas produzem. De acordo com o discurso do presidente Lula, nada estimula mais a economia do país do que "dar dinheiro para o pobre gastar". Ele pretende demonstrar que a onda consumista, gerada pelos seus programas assistencialistas, induz um ciclo virtuoso de geração de riquezas, cujo fim não é outro que o próprio Jardim do Éden.
Se demanda aquecida gerasse desenvolvimento, Robert Mugabe teria transformado o Zimbábue numa grande potência econômica. Há anos o tirano vem fabricando dinheiro e colocando nas mãos da população carente. Pelo raciocínio de Lula e caterva, o aquecimento da demanda deveria ter criado um ciclo virtuoso de crescimento, capaz de estimular o investimento e alçar aquele país africano ao primeiro mundo. No entanto, infelizmente, a única coisa que o déspota conseguiu foi criar uma dos maiores eventos inflacionários da história.
No curto prazo, o efeito é enganador, como estamos assistindo em Pindorama. Enquanto houver capacidade ociosa, a demanda puxará a oferta, produzindo crescimento momentâneo, porém limitado. O problema começa quando alcançarmos o limite da capacidade instalada. Daí para frente, só com novos investimentos é que haverá crescimento. E, infelizmente, não há milagres em economia. Digam o que disserem os arautos da Igreja Universal do Estatismo Redentor, o que gera investimento é poupança, não o consumo – e não é outra a razão pela qual Adam Smith sempre admirou e incitou a frugalidade dos homens, abjurando a intemperança.
"Não existe almoço grátis". Milton Friedman morreu, mas felizmente suas lições econômicas permanecem. O dinheiro que o governo dá aos pobres, em troca de votos, não nasce em árvore. Tudo o que ele gasta, antes toma da sociedade, seja na forma de tributos ou empréstimos. O fato é que os R$ 100,00 dados mensalmente a João, pelo Bolsa-Família, saíram dos bolsos de José, de Pedro, de Sebastião, de Antônio.
Uma parte do que João gastou em seu consumo certamente deixou de ser consumida por outras famílias, obrigadas a pagar impostos aviltantes. Até aí, em termos econômicos, nada se modificou. Trata-se do famoso jogo de soma zero. O problema é que uma parte do consumo da família de João provavelmente foi financiada pela poupança das outras famílias, sacrificada para o pagamento de impostos, ou direcionada para compra de títulos públicos, no lugar de irrigar o mercado produtor.
Não por acaso, o tamanho dos gastos dos governos é sempre inversamente proporcional à taxa de poupança de uma nação. Países com baixo endividamento público e baixa carga tributária têm poupança alta e vice-versa. Como, em economia, poupança é sinônimo de investimentos, os países europeus, por exemplo, que consomem boa parte da renda nacional com impostos, há muito sofrem de baixíssimos índices de crescimento. Por outro lado, economias com baixa carga tributária e, conseqüentemente, altas taxas de poupança doméstica, como a China e o Chile, têm aproveitado as ondas de bonança mundiais e obtido resultados alvissareiros durante anos a fio.
O Brasil tem uma carga tributária equivalente a 36% do PIB e uma taxa de poupança de 17% do PIB. A China, com uma carga tributária perto dos 20%, dispõe de uma poupança doméstica que beira os 40%. Não é difícil explicar por que aquele país tem conseguido taxas de crescimento fantásticas, desde que largou o modelo comunista, enquanto nós continuamos voando como galinhas gordas.
O mesmo raciocínio vale para o famigerado crédito para consumo de baixa renda, outra das maravilhas cantadas em prosa e verso pelo presidente e seus asseclas. A principal função dos bancos numa economia madura é servir de intermediários entre poupadores e consumidores e investidores. De acordo com aquilo que, em economia, se convencionou chamar de custo de oportunidade, o mesmo dinheiro utilizado pelo banco para financiar a compra de um bem de consumo não poderá financiar um bem de produção e vice-versa.
O crédito ao consumo é importantíssimo em qualquer economia. No entanto, em termos de incremento dos níveis de produção, esse crédito é eficaz apenas enquanto a economia dispuser de capacidade ociosa. O dito crescimento sustentado (não gosto da expressão, mas, vá lá!, dou-me por vencido pelo hábito lingüístico), por outro lado, depende de investimentos, que ampliem a capacidade instalada e melhorem a produtividade.
Além disso, não podemos esquecer que todo indivíduo que toma empréstimos para consumo terá de pagá-los no futuro, ocasião em que deverá reduzir os gastos para honrar esses compromissos. Já um empresário que toma emprestado para fins de investimento, gerará riquezas extras e, provavelmente, quitará suas dívidas com o lucro proveniente da produção dessas novas riquezas. No primeiro caso, sacrifica-se o consumo futuro pelo consumo presente (soma zero), enquanto, no segundo, teremos um saldo positivo, advindo do aumento do estoque de bens e serviços produzidos.
por João Mauad filho, em 04 de abril de 2008, no Mídia Sem Máscara.
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