Em Novembro de 2006, numa entrevista ao semanário SOL, o escritor José Saramago, entre outras preciosidades, declarou que "os seres humanos não são confiáveis" e que "nunca houve comunismo".
A coisa é mais ou menos assim: nos países comunistas corre o leite e o mel, as mulheres são todas bonitas e disponíveis, os homens tocam todos harpa e pronto.
Tudo o que não seja isso, não é o "verdadeiro comunismo". A malta pensava que era assim na URSS, na Coreia do Norte, em Cuba, na China de Mao etc., mas todo esse sonho lindo foi - e a cada dia vem sendo mais e mais - desvirtuado.
E por quem? Pelo ser humano "burguês e capitalista", esse ser ignóbil, no qual não se pode confiar, porque gosta de dinheiro, tem invejas, alimenta ciúmes, é um primata egoísta, que quer encher o bandulho, ter um carrão melhor que o do vizinho para esmagar a canalha, ganhar mais dinheiro, mexer com a vizinha, aprender mais que o parceiro, ter melhores notas, ter uma piscina maior etc.
Ora como o ser humano tem, de fato, estas características tão pouco confiáveis, só há duas hipóteses:
Ou se entende que estas características, bem como outras, fazem parte da sua natureza e são elas que converteram o "homo sapiens" na espécie mais bem sucedida do planeta e se adaptam os modelos sociais e políticos tendo em conta a natureza humana tal como ela é de fato, ou se acha que é possível fabricar um novo homem castrado dessas tão indesejáveis características!
No 1º caso, temos as sociedades democráticas e liberais. Não são perfeitas, mas não se conhece melhor.
No 2º caso temos os campos de reeducação, para educar os homens maus, e os campos da morte, para livrar o mundo daqueles que não são reeducáveis. O comunismo real, em suma. Não o "verdadeiro", pois este só será atingido quando toda a gente for reeducada, os "maus" liquidados e se conseguir fabricar o "homem novo".
No século XX, milhões de "homo sapiens" foram martelados na gigantesca forja do homem novo, com os excelentes resultados que se conhecem: mais de 300 milhões de mortos nos sistemas feitos à imagem e feição das ideologias marxistas e afins.
Os defensores de tais ideologias, muitas vezes, não negam os resultados e atrocidades do comunismo; pelo contrário condenam-nos firmemente (embora não tão firmemente como os seus equivalentes do nacional socialismo) e negam categoricamente que esse "desvio histórico", como costumam referir-se, exprima a "essência" do comunismo - ou do socialismo, segundo eles.
Na verdade, para eles, a "essência" , cujos exatos contornos só eles conhecem, permanece intacta, virgem, pura, e prestes a despontar no horizonte da felicidade humana.
A irrecusável realidade do pesadelo, demonstra apenas a benignidade do princípio ou, dito por outras palavras, o fato de os frutos serem venenosos, mostra que a árvore é maravilhosa e na próxima floração é que tudo o mais vai ser excelente. Até lá, os fatos não servem como critério, apenas as intenções, porque o reino do "verdadeiro comunismo" não é deste mundo e a tenebrosa realidade que engendrou não é imputável ao conceito em si, mas ao próprio mundo, que não está preparado para uma idéia tão bela!
Mas bem, que se pode fazer? A realidade só pode, e só deve, ser confrontada com a realidade. Nada mais. Qualquer outra coisa, é utopia.
Marx ensina que a realidade existente deve ser destruída para que se instale a nova ordem socialista. Isto requer que todas as coisas comecem do zero, o que só comprova a estupidez de suas teorias. Quer um exemplo ? Suponha que você tenha um saco de laranjas e algumas delas estão apodrecendo. O que você faz? Joga o saco todo fora (e adquire goiabas, mesmo sabendo que precisa servir suco de laranjas) ou substitui as laranjas podres, examinando cuidadosamente as restantes para certificar-se de que não estão contaminadas?
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