quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Irã e as Política Anta-Atômica Petralha

O governo brasileiro foi apanhado de surpresa na segunda-feira, quando o diretor da Agência Iraniana de Energia Atômica, Ali Akbar Salehi, anunciou que seu país manteria o programa de enriquecimento de urânio em até 20%.

A declaração lançou suspeitas sobre a eficácia do acordo intermediado por Brasil e Turquia e serviu como argumento para as grandes potências, que acreditam que o compromisso firmado é uma manobra do Irã para evitar novas sanções.

Segundo confirmou ao Estado um alto assessor da presidência, embora o acordo não proibisse o país de continuar enriquecendo urânio, o governo brasileiro não esperava que o país abordasse o tema logo após as reuniões de Teerã. "Eles tentaram agradar a opinião pública interna", admitiu a fonte.

Outro assessor próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi mais claro. "Fomos pegos de surpresa." O governo brasileiro tentou improvisar uma reação. Tão logo ficou claro que o tema seria explorado por EUA, França e Grã-Bretanha para desacreditar o acordo, o Brasil adotou uma posição cautelosa, afirmando que o compromisso era apenas um passo e o enriquecimento deveria ser melhor discutida pelo Conselho de Segurança da ONU.

Silêncio
Diante de novas informações que surgiram na terça-feira, Lula optou pelo silêncio. "Quero deixar maturar as notícias. Quero ver tudo o que sai para ver o que vai acontecer", justificou, ao ser questionado pelo Estado durante a Cúpula América Latina e Caribe-União Europeia, que está sendo realizada em Madri.

Falando em seu lugar, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. manteve um discurso duro em relação aos EUA, alertando para o risco político da adoção de sanções e cobrando o alargamento do grupo de seis potências (EUA, Rússia, França, Grã-Bretanha, China e Alemanha) que negocia com o Irã, com a inclusão do Brasil e da Turquia.

Críticas de Lula
Ontem, depois de receber o apoio público do ex-chefe de governo da Espanha, o socialista Felipe González, Lula quebrou o silêncio e afirmou que o acordo assinado em Teerã era "exatamente o que os EUA queriam cinco ou seis meses atrás".

O presidente brasileiro ressaltou que o objetivo não era obter um novo acordo sobre o programa nuclear, mas conseguir a palavra do governo iraniano de que aceitaria a proposta da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que previa a troca de urânio não enriquecido por combustível nuclear.

"A única coisa que queríamos era convencer o Irã de que ele deveria assumir um compromisso com a gente. Tudo isso foi concordado", sustentou. Lula cobrou que a comunidade internacional discuta o tema sem ameaças. "Agora, tudo depende de o Conselho de Segurança da ONU sentar com disposição de negociar. Porque se ele sentar sem querer negociar, tudo voltará à estaca zero."

por Andrei Netto n'O Estado de S.Paulo



“Se o acordo for ignorado, vamos reagir”, avisou Celso Amorim. “Se vierem as sanções, os Estados Unidos vão se dar mal”, rosnou Marco Aurélio Garcia. “Vou esperar para ver o que vem”, completou Lula com cara de quem acordou invocado. Os recados do chanceler de bolso, do conselheiro para assuntos cucarachas e do presidente da potência emergente deixaram claro que a trinca recém-chegada de Teerã não estava para brincadeira. As demais nações que endossassem o acordo com os aiatolás atômicos. Se falassem em sanções contra o Irã, o desacato internacional ao Brasil e à Turquia não ficaria sem resposta.

É possível que tenham ocorrido falhas na tradução. É possível que os gringos tenham imaginado que o repertório de retaliações do Brasil não vai muito além do boicote à Copa do Mundo e do cancelamento do Carnaval. O fato é que ninguém deu importância às frases ameaçadoras. Com o apoio das nações que efetivamente influenciam os destinos do mundo, o governo americano substituiu o acordo malandro por outra rodada de castigos aos iranianos provocadores. Restou a Lula botar a culpa nos ianques, proclamar-se vitorioso e bater em retirada.

O problema do país tropical, confirmou o mais recente dos incontáveis fiascos internacionais da Era da Mediocridade, não é o complexo de vira-lata. Essa disfunção, diagnosticada por Nelson Rodrigues, só deu as caras entre 1950, quando a derrota na final contra o Uruguai transformou o brasileiro no último dos torcedores, e 1958, quando a Seleção triunfou na Copa da Suécia. O verdadeiro problema nacional é o contrário do complexo de vira-lata: é a síndrome de com-o-Brasil-ninguém-pode.

Aprende-se ainda no útero que a nossa bandeira é a mais bonita do mundo, embora ninguém se atreva a sair por aí tentando combinar camisa azul, calça verde e paletó amarelo. Aprende-se no berço que o nosso hino é o mais bonito do mundo, muitos sustenidos e bemóis à frente da Marselhesa. Aprende-se no jardim da infância que Deus é brasileiro, e portanto o país do futuro pode esperar que o futuro chegue dormindo em berço esplêndido.

Já chegou, acredita Lula, portador da síndrome em sua forma mais aguda. Ele decidiu que o país com quem ninguém pode é presidido por um governante que pode tudo. Acha-se capaz de solucionar conflitos cujas origens se perdem no tempo com fórmulas tão singelas quanto as usadas nos anos 70 pelo dirigente sindical escalado para entender-se com os patrões. Não enxerga diferenças entre povos divorciados por ódios milenares e um casal em crise. Dá palpites em conflagrações exemplarmente complexas com a desenvoltura de doutor no assunto. Essa mistura de ingenuidade, soberba e ignorância acabou produzindo uma forma muito singular de mitomania.

No cérebro de Lula, vale repetir, a área reservada à acumulação de conhecimentos é um terreno baldio. Por não ter assistido a uma só aula de geografia, ainda sofre para descobrir no mapa-múndi onde fica o Oriente Médio. Mas promete encerrar com duas conversas confrontos sobre os quais nada sabe. Por nunca ter lido um livro de história, ignora que o Irã é a antiga Pérsia, confunde o xá com chá, não faz a menor ideia de quem foi Khomeini. Desconhece o passado que produziu os ahmadinejads do presente. Mas chama de amigo um vigarista juramentado que promoveu a parceiro preferencial.

Entre os flagelos que atormentam o Brasil figuram mais de 10 milhões de analfabetos, um sistema de saneamento básico que só cobre metade das moradias, cicatrizes apavorantes no sistema de saúde e de educação, favelas miseráveis penduradas em morros sem lei, fronteiras fora do alcance do Estado, zonas de exclusão que encolheram o mapa oficial em milhões de quilômetros quadrados, a violência epidêmica, a corrupção endêmica, o primitivismo político, uma demasia de carências a eliminar. O presidente faz de conta que isso é conversa de inimigo da pátria e capricha na pose de conselheiro do mundo.

Candidato a secretário-geral da ONU, Lula já é um dos favoritos na disputa do título de idiota útil da década.

por Augusto Nunes

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